Grupo VITA já tem 70 psicólogos para acompanhar vítimas de abuso sexual na Igreja

Bolsa de psiquiatras ainda só reuniu 12 profissionais interessados em apoiar vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica. Especialistas continuam a sinalizar casos junto do Ministério Público.

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O Grupo VITA começou a funcionar em Maio para operacionalizar o apoio da Igreja Católica às vítimas de abusos sexuais Maria Abranches (arquivo)
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O Grupo VITA, criado pela Igreja Católica para acompanhar as vítimas de abusos sexuais no contexto eclesiástico, já constituiu a bolsa de psicólogos que garantirão o acompanhamento terapêutico que vier a ser requerido por vítimas e abusadores. São 70 e vão começar a receber formação especializada a partir do dia 17 de Julho, segundo o balanço feito esta segunda-feira pelo organismo liderado pela psicóloga Rute Agulhas.

No comunicado, o VITA sublinha que há psicólogos disponíveis para garantir um atendimento presencial “na maior parte do território nacional”. As excepções são a Madeira, Açores e Castelo Branco, pelo que o grupo apelou aos profissionais desta área que se prontifiquem a colaborar com o projecto.

Além do apoio psicológico, o VITA quer garantir apoio psiquiátrico às vítimas de abusos, mas a constituição desta segunda bolsa de psiquiatras da infância e adolescência “ainda está a ser constituída”. Por estes dias, estão identificados 12 psiquiatras que se disponibilizaram a integrar este grupo. O apoio psicoterapêutico que vier a ser prestado por estes profissionais será totalmente custeado pela Igreja Católica, podendo as vítimas ser ressarcidas caso optem por recorrer a um profissional de fora destas bolsas.

Além da primeira acção de formação aprazada para Julho, a formação sobre violência sexual repetir-se-á em Setembro “em duas datas distintas, de modo a garantir a capacitação de todos os profissionais”. “A formação inicial irá abordar o tema da violência sexual em geral, processos de avaliação e intervenção psicoterapêutica com vítimas e agressores e ainda o seu enquadramento no âmbito do direito penal e canónico”, adianta o VITA.

Ao fim de um mês de funcionamento, os responsáveis do VITA dizem continuar a receber pedidos de ajuda por parte de vítimas de violência sexual (91 509 00 00 ou através do formulário disponível no site), estando a decorrer atendimentos, online e presenciais, “de modo a ir ao encontro das necessidades identificadas”.

“Diversas situações estão a ser sinalizadas ao Ministério PÚBLICO e à Igreja, permitindo o início dos respectivos processos de investigação”, adiantou ainda Rute Agulhas, a coordenadora do grupo que foi criado por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) depois de o relatório da comissão independente coordenada por Pedro Strecht ter concluído que pelo menos 4815 crianças foram abusadas no contexto eclesial nos últimos 72 anos.

Cessada esta comissão independente, o Grupo VITA surgiu há um mês como estrutura provisória e autónoma para garantir apoio especializado às vítimas, bem como o respectivo encaminhamento para as respostas terapêuticas tidas como necessárias. Nessa altura, o presidente da CEP, D. José Ornelas, garantia que a Igreja já estava a apoiar financeiramente cerca de 30 vítimas de abusos sexuais cometidos na esfera eclesial. Na primeira semana de funcionamento, o VITA recebeu 16 contactos de vítimas, numa média de três pedidos de ajuda por dia.

Ao mesmo tempo, a ideia é capacitar os profissionais e as estruturas da Igreja para que possam ser estas no futuro a assegurar a prevenção e o combate ao problema dos abusos sexuais. Nesse sentido, o Grupo VITA vai elaborar um manual de prevenção que será difundido em todas as instituições da Igreja, dos colégios aos grupos de catequese, passando pelos escuteiros e pelas paróquias. O primeiro relatório deste grupo deverá ser apresentado em Dezembro.

Ainda esta semana, no âmbito da assembleia plenária extraordinária que decorrerá em Fátima no dia 21, alguns dos bispos representados na CEP deverão encontrar-se com membros do Dicastério da Doutrina da Fé, num encontro que, como se lê na respectiva nota, "faz parte do caminho que a Igreja em Portugal tem vindo a percorrer, no sentido de prevenir e implementar uma cultura de cuidado e protecção dos menores e adultos vulneráveis nos seus ambientes". Liderado pelo cardeal Luis Ladaria, compete àquele "ministério" zelar pelo cumprimento da doutrina da Igreja. A Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores, responsável pela apresentação de iniciativas capazes de proteger os menores e os adultos vulneráveis, está sob sua alçada.

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