Na COP28, os lobbies da indústria fóssil já não podem entrar disfarçados

Afiliação dos participantes passa a ser obrigatória. Transparência do lobby dos combustíveis fósseis tem sido uma sombra sobre a COP28, que decorrerá nos Emirados Árabes Unidos.

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Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) SEDAT SUNA/EPA
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Ao longo dos anos, nas cimeiras do clima das Nações Unidas, funcionários de empresas de combustíveis fósseis foram estando sempre presentes – em cada vez maior número e ocupando lugares nas negociações de forma nem sempre clara. Mas a partir deste ano – a começar já na COP28, que tem lugar de 30 de Novembro a 12 de Dezembro, no Dubai – os representantes de empresas de petróleo, gás e carvão terão de estar claramente identificados.

“A partir de agora, cada participante com um crachá que participe no evento terá de indicar a sua filiação e relação com essa organização”, anunciou Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC), no final de um dos encontros preparatórios que estão a ter lugar em Bona, na Alemanha.

A questão da transparência do lobby dos combustíveis fósseis tem sido uma sombra sobre a COP28, que será acolhida pelos Emirados Árabes Unidos, desde logo pela polémica escolha do ministro da Indústria e da Tecnologia, Ahmed ​Al Jaber, que é também director executivo da Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), para presidir à cimeira do clima.

Com a fase de registo das delegações prestes a iniciar-se, a afiliação dos participantes passará a ser uma pergunta obrigatória do formulário de registo, se bem que a ligação específica à empresa possa ser deixada em branco. Fica também de fora a obrigatoriedade de indicar que entidade está a financiar a deslocação à COP.

Para os activistas, esta mudança é um passo essencial para tornar os potenciais conflitos de interesse mais visíveis. A BBC descreve que, na COP26, em Glasgow, havia “mais delegados das indústrias de combustíveis fósseis do que das delegações nacionais”. De acordo com a organização Global Witness, no ano passado, na COP27, no Egipto, mais de 600 representantes destas indústrias puderam participar.

“Quando os jovens vêem o número de lobbyistas dos combustíveis fósseis presentes nas COP, isso leva-nos a questionar a capacidade deste processo para resolver o maior desafio que ameaça o nosso futuro. É por isso que celebramos esta medida que visa aumentar a transparência dos interesses dos observadores nas conversações”, afirmou Scott Kirby, activista do Youth Climate Movement (YouNGO), uma plataforma de organizações que representam jovens nas negociações climáticas da ONU, ao jornal britânico The Guardian.

Para as organizações que lutam pela acção climática, esta nova regra pode prevenir situações em que a presença destes lobbies nem sempre é clara: no ano passado, o CEO da BP, Bernard Looney, participou nas negociações enquanto membro da delegação da Mauritânia, país africano onde a empresa tem grandes investimentos. A BBC descreve também o caso de quatro antigos quadros da petrolífera francesa Total que se registaram na COP como representantes de um “misterioso grupo ambientalista alemão”.

Algumas organizações, descreve o Guardian, esperam mesmo que seja o primeiro passo para a exclusão de representantes destas empresas das negociações da COP, ou pelo menos de algumas partes.