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A inteligência artificial não é o fim da arte, mas é um dínamo para a desinformação

Especialistas em inteligência artificial e criatividade defendem que a inteligência artificial pode desencadear oportunidades para valorizar a arte, mas alertam para os perigos das imagens falsas.

As imagens geradas por inteligência artificial baseiam-se em obras e imagens já criadas, o que cria dúvidas sobre a autoria destes conteúdos
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As imagens geradas por inteligência artificial baseiam-se em obras e imagens já criadas, o que cria dúvidas sobre a autoria destes conteúdos Memo Akten
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Especialistas alertam que a inteligência artificial não ditará o fim da arte Memo Akten
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A desinformação beneficiará dos algoritmos das redes sociais, avisam os investigadores Memo Akten
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O Papa Francisco passeia-se mais volumoso que o habitual: a cruz de Cristo sobrepõe-se a um casaco puffer branco, num estilo incaracterístico para o máximo representante dos católicos. Apesar das partilhas repetidas, esta imagem não é mais do que uma criação da inteligência artificial. É falsa. A desinformação é o maior perigo da criação de imagens por modelos computacionais, alertam 14 investigadores em inteligência artificial e criatividade humana, num comentário publicado na revista Science onde garantem que a arte não vai morrer – pode é vir a transformar-se.

Somam-se os avisos sobre a emergência da inteligência artificial generativa, como o ChatGPT ou o DALL-E, que conseguem criar conteúdos (como imagens, conselhos ou textos) semelhantes aos dos humanos. Desde os mais cáusticos que adivinham o fim da democracia se não houver regulação, como o historiador Yuval Noah Harari, aos mais optimistas como o filósofo Daniel Innerarity, que vê nesta inteligência artificial apenas o mimetismo.

Tal como Daniel Innerarity defendeu em Maio, numa conferência da Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa, que a “inteligência artificial não pode ser criativa porque é incapaz de produzir descontinuidade”, também os autores do comentário publicado na Science defendem que este “não é o prenúncio da morte da arte”, como escrevem nesse texto.

A comparação com o século XIX e o advento da fotografia tem sido repetida e também é utilizada no artigo, assinado por Ziv Epstein, do Instituto Tecnológico do Massachusetts (Estados Unidos), ou Aaron Hertzmann, investigador da Universidade de Washington (Estados Unidos) e da unidade de investigação da Adobe (empresa de software com produtos de edição de imagem ou vídeo, por exemplo).

“Alguns artistas do século XIX viram o advento da fotografia como uma ameaça à pintura. No entanto, em vez de substituir a pintura, a fotografia acabou por libertá-la do realismo, dando origem ao impressionismo e ao movimento da arte moderna”, referem os autores. “Por outro lado, a fotografia de retrato substituiu amplamente a pintura de retratos. Da mesma forma, a digitalização da produção musical foi tida como ‘o fim da música’. Em vez disso, alterou a forma como as pessoas produzem e ouvem música e ajudou a criar novos géneros, como o hip hop e o drum'n'bass.”

A dificuldade em distinguir o real do falso

Para este grupo de especialistas em inteligência artificial e criatividade, pertencentes a universidades norte-americanas e britânicas, as transições tecnológicas não indicam o “fim da arte”, mas antes redefinem “os papéis e práticas dos criadores”. A inteligência artificial generativa, agora no centro da discussão, utiliza dados disponíveis em toda a Internet para “aprender” – ou seja, é aprende a replicar ou a criar imagens ou texto com base no que já existe.

“Esta dependência de dados de treino levanta novos problemas, como a origem dos dados, como esses dados influenciam os resultados e como determinar a autoria [de uma dada criação]”, escrevem. Este tem sido um dos debates mais intensos e ao qual a proposta de regulação para a inteligência artificial adoptada esta quarta-feira no Parlamento Europeu procura dar resposta: nesta posição, o organismo europeu defende que o conteúdo produzido por sistemas de inteligência artificial deve estar claramente identificado como tal. Esta identificação obrigatória poderá ajudar a determinar a autoria e impedir a eventual propagação de desinformação.

A capacidade de distinguir o real do falso e de travar a desinformação, como aconteceu com a imagem do Papa Francisco, é o principal perigo para este grupo de investigadores. “À medida que diminui o custo e o tempo para produzir conteúdo multimédia [como imagens, vídeos ou sons], o ecossistema mediático pode tornar-se vulnerável à desinformação gerada pela inteligência artificial”, notam os autores no comentário publicado na Science, salientando também o poder dos algoritmos na disseminação de “conteúdo sensacionalista e partilhável”.

As hipóteses que estas ferramentas de criação de conteúdo, como imagens realistas (mas falsas), podem “minar a confiança” e “aumentar as ameaças de fraude e de imagens sexuais não consensuais”, alertam os investigadores, que apelam ao reforço da investigação sobre a inteligência artificial para que haja melhor aconselhamento nas políticas públicas e regulação desta tecnologia.

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