Calor: Junho está a ser o mais quente de que há registo. Limite de 1,5ºC foi ultrapassado
Não é a primeira vez que é ultrapassado o limite de um aumento de 1,5 graus Celsius acima da temperatura média, mas tal nunca tinha ocorrido em Junho, segundo dados do programa Copérnico.
Os primeiros 11 dias do mês de Junho registaram as temperaturas mais elevadas de que há registo para esta época do ano, de acordo com dados do Serviço de Alterações Climáticas do Programa Copérnico (C3S, na sigla em inglês), divulgados nesta quinta-feira. É a primeira vez que as temperaturas globais do ar à superfície excederam o nível pré-industrial em mais de 1,5 graus Celsius durante o mês de Junho.
Um pouco de contexto: o limite de 1,5ºC acima da temperatura média dos valores de referência (entre 1850 e 1900) já tinha sido ultrapassado, pontualmente, desde 2015, mas sempre entre Dezembro e Abril, uma vez no início de Maio — nunca durante o mês de Junho.
A primeira vez que este marco foi atingido aconteceu em Dezembro de 2015, precisamente nos dias em que estava a ser negociado o Acordo de Paris. Tratou-se de uma temporada de El Niño que exacerbou as temperaturas, gerando ultrapassagens do limite dos 1,5ºC várias vezes durante os primeiros meses de 2016, até à Primavera. O susto voltou a repetir-se em 2020, quando os primeiros meses do ano trouxeram novos picos de temperatura, ultrapassando os 1,5ºC.
Já este ano, no início de Março, a temperatura média à superfície tinha ultrapassado o limite de 1,5ºC.
“O mundo acaba de registar o início de Junho mais quente de que há registo, após um mês de Maio que foi menos de 0,1°C mais frio do que o Maio mais quente de que há registo”, resume Samantha Burgess, directora adjunta do C3S. “A monitorização do nosso clima é mais importante do que nunca para determinar com que frequência e durante quanto tempo o aumento das temperaturas globais está a exceder 1,5°C. Cada fracção de grau é importante para evitar consequências ainda mais graves da crise climática.”
OMM já tinha avisado
Com o fenómeno El Niño a dar uma ajuda, é bastante provável que nos próximos cinco anos a temperatura média anual do planeta fique já 1,5ºC acima dos valores anteriores à Revolução Industrial, tinha já admitido a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em Maio deste ano.
Estes dados não significam, contudo, que ultrapassámos de forma irreversível o limite estabelecido pelo Acordo de Paris. “Isto não quer dizer que vamos ultrapassar de forma permanente o nível de 1,5ºC. O valor do Acordo de Paris refere-se a um aquecimento a longo prazo, durante muitos anos. No entanto, a OMM está a lançar o alarme, porque é provável que ultrapassemos pontualmente este limite de forma temporária e com uma frequência cada vez maior”, afirmou na altura o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
Há 66% de probabilidade de que, pelo menos num dos anos entre 2023 e 2027, o aumento da temperatura média global ultrapasse o limite de 1,5 graus especificado no Acordo de Paris, diz a OMM, ou seja, as probabilidades de o limite ser ultrapassado são superiores à possibilidade de que isso não aconteça. E há também 98% de probabilidade de que um dos próximos cinco anos, ou todo o período de cinco anos, seja o mais quente na Terra desde que há registos, diz um comunicado desta agência das Nações Unidas.