Partido radical AfD em segundo lugar em sondagem na Alemanha

Desilusão dos eleitores com o Governo e foco da Alternativa para a Alemanha nos temas do clima e imigração levam a valor de 19% para o partido de direita radical, nacionalista e xenófobo.

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Apoiate da AfD faz a saudação nazi numa manifestação contra os preços elevados da energia na Alemanha, no final de 2022 CHRISTIAN MANG/Reuters
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O partido nacionalista, radical e xenófobo Alternativa para a Alemanha (AfD) chegou esta terça-feira a segundo lugar numa sondagem nacional na Alemanha, com 19%, um ponto percentual acima do partido do chanceler, Olaf Scholz, que tem 18%, após semanas de empate ou valores semelhantes entre os dois.

A sondagem do instituto Forsa dá o principal partido de oposição, a União Democrata-Cristã (CDU) com 29%, e os dois partidos que formam o Governo liderado pelo Partido Social-Democrata (SPD) com 18% (Os Verdes) e 7% (Partido Liberal-Democrata, FDP).

Outras duas sondagens deste mês dos institutos INSA e Kantar davam valores de 18% ou 19,5% à AfD, com o SPD à frente com 20% em ambas.

A última vez que a AfD conseguiu valores desta magnitude nas sondagens foi em 2018, após ter ganho perfil nacional durante a chamada “crise dos refugiados” e quando era negociada uma nova “grande coligação”, uma espécie de bloco central entre a CDU de Angela Merkel e o SPD.

Nessa altura, o partido de centro-esquerda, então liderado por Martin Schulz, entrou em queda livre nas sondagens depois de uma grande discórdia interna sobre se deveria juntar-se ao governo, e a AfD apareceu pela primeira vez à frente do SPD numa sondagem.

Nesta actual subida da AfD, vários analistas têm explicado que o foco do partido em duas questões, a migração e a política do clima, tem sido importante para o seu crescimento. Manfred Güllner, do instituto Forsa, disse mesmo, numa entrevista ao diário Die Welt, que muitos eleitores do SPD e do FDP acham que as medidas para a transição ecológica estão a ir longe demais, e que os dois partidos estão reféns de uma “elite verde”.

A desilusão com o Governo tem sido mostrada noutros inquéritos – há duas semanas, a sondagem Deutschlandtrend, da televisão pública ARD, mostrava que apenas um em cinco inquiridos estava satisfeito com o trabalho do executivo de Olaf Scholz.

Um dos motivos mais mencionados para o descontentamento tem sido a chamada “lei do aquecimento”, uma proposta para alteração dos sistemas de aquecimento das casas alemãs, para que usem mais energias renováveis saindo da dependência do gás. A proposta prevê a proibição da instalação de novos sistemas de aquecimento a gás e gasóleo já em 2024.

A lei tem causado oposição por poder significar um encargo extra para os consumidores, por assentar numa proibição, e tem ainda sido prejudicial para o Governo pela discussão que se arrasta há semanas entre os partidos da coligação, em particular entre os Verdes, que a defendem, e os liberais, que se opõem a ela, e que tem dado uma imagem desfavorável do Governo, apontam várias análises.

Na sondagem Deutschlandtrend, o motivo mais invocado para o voto na AfD era a política de migração (65% dos que expressaram intenção de voto na AfD disseram que este tema era o mais importante para si), seguindo-se o tema de Política de Clima, Energia e Ambiente, (relevante para 47% dos inquiridos). A maioria dos inquiridos que votariam na AfD dizem que o fariam por desilusão com os outros partidos, e 32% por concordarem com as suas ideias.

Ideias que estão a mostrar o seu radicalismo mais em público: o líder do partido na Turíngia, Björn Höcke, foi formalmente acusado, no mês passado, por ter usado uma expressão nazi – “Alles für Deutschland”, ou “Tudo pela Alemanha” – num comício de campanha em Merseburg, no estado federado da Saxónia Anhalt, em Maio de 2021.

Este era um slogan usado pelas SA (Sturmabteilung, o grupo paramilitar nazi conhecido pela violência contra opositores e judeus, cujos membros eram conhecidos como camisas castanhas), e a acusação considera que, tendo sido professor de História antes de entrar para a política, era pouco provável que Höcke não soubesse que é proibido usar este slogan, uma das várias proibições ligadas aos nazis, desde a utilização da cruz suástica fora de ambiente escolar ou de memória histórica a algumas expressões, como Blut und Ehre (Sangue e Honra).

A AfD, que é sujeita a vigilância pelos serviços secretos internos pelo seu flirt constante com a crítica à política de memória da Alemanha e a desvalorização dos crimes alemães durante a II Guerra, e com posições racistas e xenófobas, viu entretanto a sua ala juvenil ser considerada uma organização extremista e perigosa para a democracia do país.

A decisão da Agência para a Protecção da Constituição (BfV, na sigla alemã, os serviços de informação interna) foi anunciada no final de Abril (antes era considerada “suspeita” de extremismo, passando agora a ser um caso “confirmado”, segundo a emissora alemã Deutsche Welle).

O sociólogo Johannes Kiess, da Universidade de Leipzig, comentou à estação norte-americana CNN que há de facto uma diferença de fundo na ala jovem da AfD, porque “muitas das pessoas da ala jovem têm ligações claras a neonazis”, visíveis em conversas públicas e nas redes sociais.

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