Descobertas moléculas fósseis que revelam um “mundo perdido” de vida primitiva

Moléculas de organismos eucariotas (de que nós somos um dos representantes), datadas com 1600 milhões de anos, foram encontradas em rochas na Austrália.

Artist’s imagination of an assemblage of primordial eukaryotic organisms of the ‘Protosterol Biota’ inhabiting a bacterial mat on the ocean floor. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota lived in the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023).
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Recriação artística de organismos eucariotas primitivos que viveram no oceano entre há 1600 milhões a 1000 milhões de anos Orchestrated in MidJourney by TA 2023
Artist’s imagination of two primordial eukaryotic organisms of the ‘Protosterol Biota’ on the ocean floor. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota lived in the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors. Orchestrated in MidJourney by TA 2023
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Recriação artística de organismos eucariotas primitivos que viveram no oceano entre há 1600 milhões a 1000 milhões de anos Orchestrated in MidJourney by TA 2023
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Recriação artística de organismos eucariotas primitivos que viveram no oceano entre há 1600 milhões a 1000 milhões de anos Orchestrated in MidJourney by TA 2023
Professor Jochen Brocks inspects 1.64 billion year old sediments for molecules of the Protosterol biota. Barney Creek, Northern Australia
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O cientista Jochen Brocks observa rochas sedimentares com 1600 milhões de anos no Nordeste da Austrália, onde foram encontrados vestígios de eucariotas Universidade Nacional Australiana
Artist’s imagination of an assemblage of primordial eukaryotic organisms of the ‘Protosterol Biota’ inhabiting a bacterial mat on the ocean floor. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota lived in the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023).
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Artist’s imagination of what a planktonic stem group eukaryote of the ‘Protosterol Biota’ may have looked liked. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota inhabited the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023).
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Recriação artística de organismos eucariotas primitivos que viveram no oceano entre há 1600 milhões a 1000 milhões de anos Orchestrated in MidJourney by TA 2023
Artist’s imagination of what a planktonic stem group eukaryote of the ‘Protosterol Biota’ may have looked liked. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota inhabited the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023).
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Artist’s imagination of what a planktonic stem group eukaryote of the ‘Protosterol Biota’ may have looked liked. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota inhabited the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023).
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Artist’s imagination of what a planktonic stem group eukaryote of the ‘Protosterol Biota’ may have looked liked. Based on molecular fossils, organisms of the Protosterol Biota inhabited the oceans about 1.6 to 1.0 billion years ago and are our earliest known ancestors (credit: Orchestrated in MidJourney by TA 2023)
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Identificaram-se restos fósseis de um componente da membrana celular que ficaram preservados em rochas datadas com 1600 milhões de anos, o que abre uma janela para aquilo a que os cientistas designam como “mundo perdido” de organismos que foram a guarda avançada no planeta Terra de fungos, algas, plantas e animais – incluindo os humanos.

Estes vestígios, segundo anunciaram os cientistas na edição desta semana da revista Nature, remontam a um período de tempo, o éon Proterozóico, que foi crucial na evolução da vida complexa, mas que tem estado envolto em mistério devido a um registo fóssil extremamente escasso de organismos microscópicos que habitaram o mundo marinho daquela altura.

Os fósseis agora identificados são de uma forma rudimentar de esteróide – uma molécula de gordura que foi um ingrediente indispensável nas membranas celulares de organismos então pioneiros e que agora são dominantes e a que chamamos “eucariotas”.

Os eucariotas têm uma estrutura celular complexa, incluindo um núcleo que funciona como um centro de controlo e comando e estruturas subcelulares chamadas “mitocôndrias”, que fornecem energia às células. Os eucariotas eram “penetras” num mundo repleto de bactérias, organismos unicelulares mais simples sem núcleo. Actualmente, os eucariotas incluem fungos, algas, plantas e animais.

Os fósseis agora descritos não incluem realmente o “corpo” dos organismos, mas antes os seus restos moleculares, ficando por esclarecer que tamanho, aparência, comportamento e complexidade teriam – incluindo se eram todos unicelulares ou se alguns eram multicelulares.

“Não temos nenhuma pista”, diz o geobiólogo Jochen Brocks, da Universidade Nacional Australiana, em Camberra, e o principal autor do trabalho científico publicado na Nature.

Os cientistas suspeitam de que não eram nada dóceis. “Apesar de um tamanho sobretudo pequeno, poderiam já haver entre eles predadores temíveis que predavam bactérias mais pequenas ou até outros eucariotas”, explica Benjamin Nettersheim, geobiólogo da Universidade de Bremen (Alemanha) e co-autor do estudo.

Existem alguns fósseis do “corpo” de eucariotas primitivos com mais de 1600 milhões de anos, mas a sua raridade em comparação com os restos abundantes de bactérias desses tempos sugere que eram actores secundários numa história maior.

Os investigadores descobriram agora que os fósseis moleculares que indicam a presença destes eucariotas primitivos são vulgares em rochas desde há 1600 milhões de anos até 800 milhões de anos.

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O investigador Jochen Brocks a observar rochas sedimentares com 1600 milhões de anos na Austrália, onde foram encontrados os vestígios de eucariotas Universidade Nacional Australiana

Por que razão é um mundo perdido

“É um mundo perdido no sentido de que não temos maneira de o ver ou detectar – embora tenha havido todo um mundo cheio deles. Não eram raros e viveram durante centenas de milhões de anos”, realça Jochen Brocks.

É ainda um mundo perdido porque estas formas de vida estão agora todas extintas, acrescenta Jochen Brocks. O seu desaparecimento abriu caminho para que as formas eucariotas modernas se disseminassem há cerca de 800 milhões de anos. Para pôr estes intervalos de tempo em perspectiva, a nossa espécie eucariota, o Homo sapiens, surgiu há cerca de 300 mil anos.

Quando os eucariotas primitivos existiam, grandes extensões de terra eram rocha estéril, enquanto grande parte do fundo do mar estava coberta de tapetes de vida microbiana e as águas do oceano eram invadidas por sulfureto de hidrogénio, um gás que cheira a ovos podres.

Até agora, pensava-se que os oceanos eram principalmente um caldo de bactérias, sendo os eucariotas raros ou restritos a habitats marginais, como zonas costeiras ou rios. Em vez disso, os fósseis de moléculas esteróides que ficaram presos em rochas sedimentares depositadas no fundo dos mares antigos revelam que os eucariotas terão sido surpreendentemente abundantes.

As rochas mais antigas que contêm estes fósseis foram desenterradas no interior remoto do Nordeste da Austrália, perto de Darwin.

Desde há muito que os cientistas se intrigavam sobre a ausência aparente de fósseis moleculares de eucariotas primitivos para este intervalo de tempo. Afinal de contas, o que se passava é que os cientistas procuravam esteróides biologicamente mais complexos do que estes organismos possuíam.

O bioquímico Konrad Block, que ganhou o Prémio Nobel em 1964 e morreu em 2000, tinha posto a hipótese de que os eucariotas primitivos produziam tais esteróides, mas duvidava de que alguma vez fossem descobertos. “Quem me dera poder dizer-lhe que os encontrámos”, diz Konrad Block.

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