Vladimir Putin declarou a lei marcial na Rússia num discurso esta segunda-feira?
Canais televisivos e estações de rádio transmitiram um suposto discurso em que o Presidente da Rússia anuncia a lei marcial. Afinal, era um deep fake que o Kremlin já desmentiu.
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A imagem
Um vídeo difundido em canais de televisão e rádios da rede russa Mir, assim como nas redes sociais da empresa, mostram o que parece ser Vladimir Putin, Presidente da Rússia, a declarar a lei marcial no país e a anunciar a mobilização de tropas em resposta a uma invasão ucraniana esta segunda-feira. Nas imagens, uma figura semelhante ao do chefe de Estado russo declara: "Russos, irmãos e irmãs, hoje às quatro da manhã, as tropas ucranianas armadas pelo bloco da NATO, com o consentimento e apoio de Washington, invadiram os territórios das regiões de Kursk, Belgorod e Bryansk."E prossegue: "Precisamos de reunir todos os esforços dos russos para derrotar o inimigo perigoso e insidioso."
In #Russia, several radio stations and even local TV networks appear to have been hacked to broadcast a deep fake address allegedly by president Putin.
— Alex Kokcharov (@AlexKokcharov) June 5, 2023
This fake address announced mass mobilisation and introduced martial law in border regions.
1/2pic.twitter.com/Z79Jqjil6W
O contexto
O conteúdo surge numa altura em que as autoridades russas têm reportado uma intensificação das investidas ucranianas nos territórios próximas à fronteira com a Ucrânia — em que se incluem Kursk, Belgorod e Bryansk. Os combates na região foram noticiados numa reportagem do The New York Times, que entrevistou a população de Belgorod e confirmou os ataques aéreos perpetrados por milícias aliadas aos ucranianos nas povoações fronteiriças principalmente desde Maio deste ano.
Os factos
As imagens do discurso, no entanto, são um deep fake: foram geradas através de uma tecnologia que utiliza a inteligência artificial para sincronizar as imagens reais de uma pessoa com um discurso que ela nunca proferiu. O primeiro desmentido veio do próprio Kremlin logo na segunda-feira: em declarações à agência russa TASS, o porta-voz presidencial Dmitry Peskov disse que "definitivamente não houve qualquer discurso à nação": " É verdade que houve ataques informáticos em algumas regiões. Em particular, sei que houve um ataque à Rádio Mir e em algumas redes. Agora tudo isso foi eliminado e controlado. Os serviços atingidos estão a resolver isto."
Minutos depois, a rede Mir afirmou que tinha sido alvo de um ataque informático entre as 12h41 e as 13h18 de segunda-feira, hora local, e que todos os conteúdos partilhados nesse período eram "falsos e uma provocação" pela qual a empresa não era responsável. "Pessoas não identificadas invadiram ilegalmente os noticiários da televisão e da rádio Mir, substituindo o conteúdo", justificou fonte oficial da empresa num comunicado que também foi noticiado pela agência russa TASS. Poucos minutos depois do ataque informático, os serviços já estavam novamente sob controlo, garantiu.
Já na terça-feira, um dia depois da difusão do falso discurso ao país, o porta-voz do Kremlin disse à mesma agência de notícias que desconhecia qualquer possibilidade de declarar a lei marcial e ordenar a mobilização das tropas nos territórios russos na fronteira com a Ucrânia — precisamente o tipo de informação que tinha sido veiculada por conteúdos falsos na segunda-feira. "Não tenho conhecimento disso", respondeu Dmitry Peskov, segundo a TASS: "Os serviços especiais relevantes e os militares estão a trabalhar lá. Estão a ser tomadas medidas para restaurar a ordem."
Em resumo
É falso que Vladimir Putin tenha declarado a lei marcial e ordenado a mobilização de tropas na segunda-feira, na sequência de uma invasão da Ucrânia em território na fronteira entre os dois países. As imagens que foram transmitidas por alguns canais de televisão e estações de rádio na segunda-feira são falsas e resultaram de uma manipulação conhecida por deep fake. A empresa de comunicação social que as divulgou, Mir, diz que as imagens foram difundidas depois de um ataque informático que condicionou os conteúdos publicados durante 37 minutos.