Ucrânia acusa Rússia de destruir barragem para travar contra-ofensiva

Desastre ecológico e revés militar, o desabamento da barragem da central hidroeléctrica já levou à evacuação de milhares de pessoas. Moscovo acusa Kiev de sabotagem.

Imagens de drone mostram destruição em barragem hidroeléctrica perto de Kherson Público/Agências
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O Governo ucraniano acusa o Kremlin de ter ordenado a destruição de uma importante barragem perto de Kherson, cidade portuária que faz fronteira com o rio Dnipro e com o mar Negro, com o objectivo de dificultar a esperada contra-ofensiva ucraniana, que terá começado na véspera (apesar de Kiev não o confirmar).

Tanto a União Europeia como a NATO parecem convencidas da responsabilidade russa: “A destruição de infra-estruturas civis é considerada um crime de guerra. Vamos responsabilizar a Rússia e os seus agentes por isto”, comentou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, descreveu “um acto indigno que prova mais uma vez a brutalidade da guerra da Rússia na Ucrânia.

A Rússia controla a barragem da central hidroeléctrica de Nova Kakhovka, na cidade com o mesmo nome, quase desde o início da invasão da Ucrânia, em Fevereiro do ano passado. Em Outubro, quando as forças ucranianas recapturaram partes do território ocupado da província de Kherson, o Presidente Volodomyr Kelensky pediu aos países ocidentais que avisassem os russos para não fazerem explodir a barragem, assegurando que as forças de Moscovo tinham colocado explosivos no seu interior e avisando que a destruição desta infra-estrutura faria inundar uma grande área do Sul da Ucrânia.

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A barragem desabou às primeiras horas da manhã e há vídeos que mostram um foco de luz, momentos antes, e várias explosões. No Sudeste do país, esta cidade está na linha da frente e assinala actualmente a linha que divide os dois exércitos em combate.

Os danos à barragem colocaram em risco territórios controlados pelos ucranianos, mas também pelos russos, e ambos os lados estão a retirar pessoas das localidades mais atingidas pela subida das águas. Ao mesmo tempo, o desabamento põe em risco a contra-ofensiva ucraniana, impedindo os militares de atravessarem o rio para atacarem os russos a partir do Oeste, e distrai o seu Governo, enquanto a Rússia depende da barragem para fornecer água à Crimeia, ocupada desde 2014.

É difícil atribuir culpas, disse à Associated Press Patricia Lewis, director do Programa de Segurança Internacional do centro de estudos Chatham House, em Londres, “mas existem muitos tipos de razões pelas quais a Rússia faria isto”. “A questão que devemos colocar é por que é que os ucranianos fariam isto a si mesmos, já que este território é ucraniano”, afirmou a analista.

“A Rússia destruiu a barragem de Kakhovka, provocando provavelmente a maior catástrofe tecnológica em décadas na Europa e pondo em risco milhares de civis”, denunciou, no Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.

A versão do Kremlin é que as forças ucranianas sabotaram a barragem, segundo o “governador” (nomeado pela Rússia) da província de Kherson, fizeram-no para desviar as atenções da sua contra-ofensiva “falhada”.

Alguns observadores admitem que a estrutura, já danificada em ataques anteriores possa ter cedido. Mas o jornal Financial Times sublinha que seria uma grande coincidência isso ter acontecido um dia depois de os ucranianos terem intensificado os seus ataques na linha da frente mais a Leste e lembra que Moscovo já tinha mostrado a sua intenção de usar as inundações como arma.

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