As drogas sintéticas nos Açores enquanto Rabo de Peixe se estreia na Netflix

A reunião de uma taskforce vem destacar a necessidade de se enfrentar a rápida evolução do panorama das drogas de forma vigorosa.

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A tão aguardada série Rabo de Peixe, da Netflix, estreou-se a 26 de maio, coincidindo com a primeira reunião da taskforce açoriana para abordar o problema das drogas sintéticas, em particular, as catinonas sintéticas. A ação da série decorre na “era da cocaína” em S. Miguel, no início do século XXI, mas impele-nos a pensar sobre o problema destes dias.

A “cocaína do italiano” – mais de meia tonelada, que o iate de um traficante acabou por libertar na costa – deixou feridas abertas até à atualidade. Um rasto de toxicodependência e outras doenças mentais não será coincidência, quando se aliam pobreza e drogas estimulantes a preços muito acessíveis. Quando a cocaína “acabou” sobrava a barata heroína – a “era da heroína”. Os tratamentos de substituição opióide – a metadona – e outros apoios foram implementados, sublinhando a relevância de intervenções personalizadas.

Na última década, a emergência das catinonas sintéticas – drogas estimulantes, como as tradicionais cocaína ou metanfetaminas – apresenta novos desafios. São conhecidas como “drogas sintéticas” nos Açores, “bloom” na Madeira, “design drugs” ou “bath salts” internacionalmente. Têm efeitos imprevisíveis e composições em constante mudança. O momento da convocatória e a reunião de uma taskforce vem destacar a necessidade de se enfrentar a rápida evolução do panorama das drogas de forma vigorosa.

A taskforce deve priorizar:

  1. Os esforços de prevenção para educar a população sobre os perigos das catinonas sintéticas, desencorajando a experimentação e reduzindo a procura.
  2. Criar sistemas de deteção e monitorização da presença de catinonas sintéticas, permitindo respostas rápidas e sustentar as estratégias de prevenção.
  3. Adaptar os programas de tratamento e apoio que abordem as características únicas da dependência de catinonas sintéticas, incorporando as terapias cognitivo-comportamental, familiar e sistémica, “gestão de contingência”, estratégias de redução de dano e o tratamento por especialistas em “patologia dual” (patologia psiquiátrica e adições).
  4. Coordenar parcerias colaborativas entre Instituições Particulares de Solidariedade Social, Serviço Regional de Saúde, forças de segurança, justiça, agentes educativos e responsáveis políticos para reunir recursos (financeiros, físicos e humanos) e conhecimentos para suportar soluções abrangentes e baseadas na evidência.


A fragmentação do sistema atual, referido como “sistema de portas erradas” ou em “manta de retalhos”, deve ser abordada. A colaboração inter e intrasetorial com uma abordagem centrada no doente e na família são fundamentais, envolvendo os múltiplos parceiros num trabalho conjunto para se criar um sistema coeso e integrado de cuidados. Além disso, a competição por financiamento entre as várias IPSS locais deve dar lugar à colaboração e partilha de recursos, visando o objetivo coletivo de fornecer o melhor atendimento e apoio às pessoas com dependência e aos seus familiares.

Um Observatório da Droga e Toxicodependência munido de um laboratório nos Açores, que disponibilize análises regulares, é essencial para se detetar com precisão a presença destas drogas, permitindo-se o seu rastreio e ainda alimentar os sistemas internacionais de alerta rápido.

Reorganizar o sistema de intervenção, criar condições para deteção e monitorização destas drogas, melhorar as opções de tratamento e promover a colaboração inter e intrassetorial são pilares fundamentais para podermos enfrentar de forma eficaz os desafios apresentados nesta “Era das drogas sintéticas”. É hora de unir os esforços de toda a comunidade, dar prioridade aos doentes e às suas famílias e trabalhar rumo a um sistema coordenado e abrangente de apoio para aqueles que lutam contra a dependência de drogas nos Açores.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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