Zelensky sabe que é “impossível” entrar na NATO enquanto a guerra continuar

Dentro da Aliança há quem queira acelerar a adesão e quem tema que isso precipite um confronto com a Rússia. Esta divisão pode influenciar a escolha do sucessor de Stoltenberg à frente da organização.

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Volodymyr Zelensky recebeu o Presidente da Estónia, esta sexta-feira EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Esta sexta-feira, em Kiev, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mostrou-se consciente de que a entrada da Ucrânia na NATO durante a guerra não é uma previsão realista. As declarações foram feitas aquando de uma visita do Presidente da Estónia, Alar Karis, à capital ucraniana. “Entendemos que não vamos ser membros da NATO enquanto a guerra continuar”, disse. “Não porque não queremos, mas porque é impossível.”

Na quinta-feira, Zelensky tinha reiterado, na cimeira da Comunidade Política Europeia, a vontade de fazer da Ucrânia membro da Aliança Atlântica, tendo exortado os Estados-membros a apresentar um “convite claro” para a adesão, na cimeira da Vilnius, em Julho deste ano, e considerou que a maior garantia de segurança para o país seria entrar na União Europeia (UE) e na NATO.

O Kremlin não tardou a reagir, com o seu porta-voz, Dmitri Peskov, a descrever a adesão da Ucrânia à NATO como algo que “pode ser um potencial problema por muitos, muitos anos”.

“Muitos países da União Europeia, por estranho que pareça, têm noção disto. Mas, infelizmente, Washington manda na NATO. A União Europeia é apenas um instrumento obediente na orquestra”, criticou. Peskov deixou ainda claro que Moscovo vê a “expansão da NATO e a aproximação às fronteiras” da Rússia como uma ameaça aos interesses e à segurança russa.

Mesmo dentro da NATO, nem todos vêem o processo de adesão da Ucrânia da mesma forma. Enquanto os países vizinhos apoiam uma aceleração na entrada de Kiev na aliança, a ocidente teme-se que isso possa precipitar um conflito directo com a Rússia.

Para Ben Wallace, ministro da Defesa britânico, é importante dar respostas firmes à Ucrânia. Em entrevista ao Washington Post, referiu que a NATO e a UE não devem repetir erros do passado e prometer demasiado. “Temos de ser realistas e dizer: ‘Não vai acontecer em Vílnius. Não vai acontecer em breve’”, afirmou.

O ministro britânico tem assumido uma postura mais optimista do que outros responsáveis do Ocidente em relação ao desempenho das forças ucranianas na guerra. Acredita, inclusivamente, que há uma possibilidade real de a Ucrânia conseguir reconquistar a Crimeia ainda este ano, porque a Rússia estará a ficar sem equipamento essencial para manter a intensidade dos ataques.

“O que temos visto no campo de batalha é que, se se atingir as forças russas no lugar errado, eventualmente elas caem”, explicou. “Pode enviar-se jovens para morrerem às dezenas de milhares, que é o que eles estão a fazer, mas não se pode fazer aparecer por magia os tanques e sistemas de armas de que precisam.”

Secretário-geral da NATO de saída

Ben Wallace tem sido apontado como potencial sucessor para o cargo de secretário-geral da NATO. Em Fevereiro deste ano, a porta-voz da aliança, Oana Lugenscu, revelou que Jens Stoltenberg, no cargo desde 2014, “não tinha intenções de fazer mais um prolongamento do mandato” que termina em Outubro.

Dentro da Aliança, as opiniões dividem-se em relação a quem deve ocupar o cargo. No Ocidente, teme-se que um secretário-geral do Leste europeu possa aumentar a probabilidade de a NATO entrar em conflito directo com a Rússia. Também há quem diga que é altura de eleger um líder da Europa do Sul, uma mulher ou alguém de um país da UE.

A par de Wallace, nomes como o do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, do primeiro-ministro da Estónia, Kaja Kallas, ou da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, têm sido referidos como possíveis sucessores.

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