Depois da retirada do grupo Wagner, entram em cena os tchetchenos de Kadirov

O Kremlin terá ordenado a Ramzan Kadirov para iniciar operações ofensivas na província do Donetsk, depois de quase um ano em que os soldados tchetchenos estiveram limitados a funções de retaguarda.

Foto
Ramzan Kadirov num encontro com Vladimir Putin em Moscovo, em Março Reuters/SPUTNIK
Ouça este artigo
--:--
--:--

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já


A Rússia terá ordenado às forças tchetchenas comandadas por Ramzan Kadirov que iniciem operações ofensivas na Ucrânia após a retirada dos mercenários do grupo Wagner da região de Bakhmut, de acordo com a última análise do Instituto para o Estudo da Guerra.

Segundo o think tank norte-americano (ISW, na sigla em inglês), que publica relatórios diários sobre a situação no terreno, o líder tchetcheno afirmou na quarta-feira que recebeu a ordem para as unidades sob o seu comando começarem “actividades de combate activo” destinadas a “libertar uma série de localidades” na província do Donetsk, classificando a região do Donbass como a sua “zona de responsabilidade”.

O regresso das forças tchetchenas às operações ofensivas marca o fim do período de quase um ano em que os “kadirovitas”, como são conhecidos os soldados às ordens de Kadirov, se limitaram a funções de retaguarda e de reconhecimento, nomeadamente no Sul da Ucrânia e em Zaporijjia, de acordo com a análise do ISW. Antes de saírem da ribalta, os soldados tchetchenos participaram nas batalhas de Mariupol, Severodonetsk e Lysychansk.

“A participação limitada das unidades tchetchenas nas linhas de frente, bem como a forte ênfase de Kadirov no recrutamento podem sugerir que Kadirov hesita em comprometer as suas forças em operações ofensivas na Ucrânia, apesar das suas narrativas ultranacionalistas”, escreve o ISW, que adianta que o Presidente Vladimir Putin está pelo menos desde Março a pressionar o líder tchetcheno a ter um papel mais activo na linha da frente.

Segundo o ISW, o Kremlin considera que as unidades tchetchenas podem ser uma “força de assalto inexplorada capaz de restaurar a capacidade da Rússia de levar a cabo esforços ofensivos simultâneos em múltiplos eixos de avanço.” Mas a própria avaliação de Kadirov, feita em Maio, do número de “kadirovitas” que se encontram actualmente na Ucrânia sete mil combatentes invalida, de acordo com os analistas do think tank sediado nos EUA, a possibilidade de conduzir com êxito as várias operações ofensivas ambicionadas pelo Governo russo.

Ainda de acordo com a mais recente avaliação do ISW, Moscovo estará também a tentar cortar os laços entre Kadirov e Ievgueni Prigojin, o fundador do grupo Wagner, reafirmando a autoridade federal sobre as forças tchetchenas, algo que foi incapaz de fazer em relação ao grupo mercenário, cujo líder passou a ser um dos mais ferozes críticos da forma como o Kremlin, nomeadamente o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o comandante das forças russas na Ucrânia, Valery Guerasimov, tem conduzido a denominada “operação militar especial”.

Os “palhaços” ao comando

Prigojin anunciou entretanto que o grosso das forças do grupo Wagner que combatiam em Bakhmut já está colocado em posições de retaguarda, ao mesmo tempo que as Forças Armadas ucranianas confirmaram que os ataques russos na região foram “significativamente” reduzidos.

Num vídeo publicado esta quinta-feira no seu canal no Telegram, no dia em que faz 62 anos, Prigojin voltou a lançar violentas críticas à cúpula militar russa, afirmando que o grupo Wagner continuará a combater na Ucrânia se os seus homens integrarem uma secção autónoma na linha da frente sem depender dos “palhaços” que comandam as Forças Armadas da Rússia.

“Se toda a cadeia de comando falhar a 100% e for liderada apenas por palhaços que transformam pessoas em carne, então não contem connosco”, afirmou o homem que disse recentemente querer ser agora conhecido como o “carniceiro de Putin”, em vez de o “chef de Putin”, alcunha que ganhou graças aos milionários contratos de catering que fez ao longo dos anos com a presidência da Federação Russa.

Prigojin confirmou também que os seus mercenários deixarão definitivamente a cidade de Bakhmut a 5 de Junho, depois de entregar as suas posições ao Exército regular russo, que passará assim a exercer o controlo sobre a cidade do Leste da Ucrânia.

A retirada do grupo Wagner para a retaguarda da linha da frente reduziu também a intensidade dos combates em Bakhmut. O porta-voz do batalhão de Leste das Forças Armadas ucranianas, Serhi Cherevati, disse esta quinta-feira que, nas últimas horas, houve apenas quatro confrontos.

“O inimigo reduziu significativamente a sua actividade na direcção de Bakhmut. Nos últimos dias, assistimos a confrontos mínimos”, afirmou Cherevati, dizendo que foram registados 59 mortos e 100 feridos entre a tropa russa nos últimos dias.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários