Mau tempo derrubou ponte em Murça e afectou viticultores de Vila Real

Forte precipitação e granizo causaram “prejuízos imensos” nas produções vinícolas no distrito de Vila Real desde domingo. No concelho de Murça, uma ponte foi derrubada e outras estão em risco de cair.

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O mau tempo prejudicou, pelo menos, 800 hectares de produção vinícola no concelho de Murça Adriano Miranda

A intensa precipitação e queda de granizo provocou, na terça-feira, “prejuízos imensos” nas vinhas na zona de Porrais, freguesia do concelho de Murça (Vila Real). Além disso, a subida das águas de um ribeiro derrubou uma ponte rodoviária na zona da Ribeirinha.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da câmara de Murça, Mário Artur Lopes, descreveu um cenário desolador após cerca de “10 minutos de uma intensa queda de granizo”, suficiente para destruir a produção de vinhas, algumas "já com a vindima completamente feita”.

"Estas pessoas vivem disto, trabalham no seu dia-a-dia para depois terem alimentação durante o ano, porque estamos a falar de uma população idosa que vive da sua reforma. Com esta destruição das culturas, neste momento não têm forma de recuperar, nem sequer voltar a pôr", referiu Mário Artur Lopes.

Uma vez que a produção de vinho é a principal fonte de rendimento da zona da Terra Quente do município, técnicos da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN) e da Agência Portuguesa do Ambiente chegaram esta quarta ao concelho para avaliar os estragos nas localidades afectadas.

Contactado ao princípio da tarde desta quarta-feira pelo PÚBLICO, o responsável pela Delegação do Douro, Joaquim Alves, avançou que, pelo menos, 800 hectares de vinha foram afectados no concelho Murça, sendo que metade teve 80% da produção da vinha para este ano destruída.

"As ocorrências têm sido diárias, a mais recente registada ao fim da tarde de terça-feira e, por isso, só nos próximos dias vamos ultimar os dados e perceber ao detalhe os prejuízos causados pelo mau tempo", disse.

Também contactado pelo PÚBLICO, Jorge Ponte, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), lembrou que o incidente ocorrido em Murça está relacionado com a formação de células convectivas, que há duas semanas causam prejuízos no território continental, e que devem perdurar, pelo menos, até sexta-feira.

"É uma situação de muita instabilidade, que ocorre durante a tarde, quando o aquecimento diurno potencia a formação das células convectivas", explicou Jorge Ponte, acrescentando que, nos últimos dias, as regiões do interior Norte e Centro têm registado elevada precipitação, por vezes acompanhada de trovoada, granizo e "fortes rajadas" de vento, em resultado das condições favoráveis à formação destes fenómenos.

Por isso, os distritos de Bragança, Vila Real, Guarda e Viseu estão sob aviso amarelo para a tarde desta quinta-feira.

Uma ponte derrubada, outras "em risco iminente"

Também no concelho de Murça, mas na freguesia de Valongo de Milhaisa, a força da água de um ribeiro, em resultado da chuva intensa, derrubou uma ponte rodoviária de ligação entre a aldeia da Ribeirinha e a zona do Ratiço.

A aldeia não ficou isolada, mas os habitantes estão agora obrigados a percorrer "o dobro dos quilómetros" para se deslocarem a Murça, garantiu o presidente do concelho.

Além disso, acrescentou o autarca, há outras pontes, como em Penabeice e Noura, que aparentam estar em "risco iminente", pelo que foi colocada informação de aviso nestes locais. O mau tempo derrubou muros e destruiu também hortas e olivais.

"O problema são as hortas de subsistência que estão todas destruídas, as linhas de água afectadas, são quilómetros dessa tipologia que são muito mais complexos de resolver em termos de engenharia do que a construção de uma nova ponte", explicou Mário Artur Lopes.

Contactado pela agência Lusa, o presidente da freguesia de Valongo de Milhais, Renato Santos, associou o incidente de terça-feira ao incêndio que, em Junho de 2022, atingiu o concelho, e concretamente esta freguesia, tendo ardido cerca de 50% da sua área.

Prejuízos também em Alijó

A concentração de células convectivas na região interior do Centro e Norte do território têm provocado bastantes estragos no distrito de Vila Real. No domingo, o granizo e a chuva intensa atingiram uma área de cerca de 1600 hectares e afectaram cerca de 200 viticultores no município de Alijó.

O presidente da câmara, José Rodrigues Paredes, disse à Lusa que “há muitas famílias com o rendimento em causa”, motivo pelo qual a autarquia pretende custear na totalidade o tratamento à base de cálcio para a cicatrização das videiras.

Para o efeito, explicou, os produtores têm apenas de fazer prova da titularidade das vinhas e apresentar as facturas de compra dos produtos. Esta linha de apoio será aprovada durante o mês de Junho, em reunião de câmara.