Costa diz que é preciso “dar oportunidades à classe média” para defender a democracia
“É quando a classe média se sente abandonada, desamparada, insegura, que nós temos o terreno fértil para os radicalismos se desenvolverem”, alertou o primeiro-ministro.
O secretário-geral do PS, António Costa, defendeu hoje que, para se defender a democracia e a liberdade, é necessário "dar oportunidades à classe média", considerando, quando esse estrato social se sente "desamparado", cria-se "terreno fértil" para a extrema-direita.
Num discurso na sessão de encerramento da Cimeira Social do Partido Socialista Europeu (PES), que decorreu hoje no terminal de cruzeiros do porto de Leixões, em Matosinhos, Costa recordou que, "sempre, ao longo da história, que a classe média se sentiu insegura e abandonada, foi quando a extrema-direita e o radicalismo conseguiu crescer".
"A classe média é quem assegura a existência da democracia. É quando a classe média se sente abandonada, desamparada, insegura, que nós temos o terreno fértil para os radicalismos se desenvolverem, para o populismo crescer e para a extrema-direita se tornar uma ameaça", afirmou o também primeiro-ministro.
Costa sustentou que, na Europa, não se pode "olhar só para os mais frágeis, só para aqueles que estão numa situação de pobreza", reiterando que é necessário "defender as classes médias" para "proteger a liberdade e democracia" europeia.
"Se nós queremos defender a nossa democracia, a nossa liberdade, se nós queremos mesmo combater a extrema-direita, nós temos de dar oportunidades à classe média e garantir às novas gerações que vão ter uma vida melhor do que os seus pais", salientou.
O líder do PS considerou que essa "é a esperança e o sentido de futuro" que é preciso garantir para as novas gerações.
"Sim, não chegámos lá, sabemos que é uma grande caminhada, mas, há 200 anos, quando o movimento socialista surgiu, estávamos muito mais longe do que estamos hoje", frisou.
Neste discurso, que dedicou em grande parte à resposta da União Europeia durante a pandemia de covid-19, António Costa considerou ainda que uma das lições que se deve retirar desse período é que é necessário "um mecanismo permanente de estabilização de crises".
"Felizmente, as crises não são permanentes, mas nós sabemos que, infelizmente, as crises são recorrentes. E, de cada vez que surge uma crise, não temos de estar a reunir horas infindáveis o Conselho [da União Europeia] para procurar encontrarmos uma solução em comum", referiu.
Costa concluiu o seu discurso referindo-se a uma alegada citação do ex-presidente socialista francês François Mitterrand, que teria dito que "o socialismo é a ideia mais jovem".
"Passaram muitos anos, mas o socialismo continua a ser uma ideia muito jovem e, por isso, temos uma longa vida à nossa frente", disse.
Antes do discurso de António Costa, num painel intitulado "Os socialistas cumprem!", o comissário europeu do Emprego e Direitos sociais, Nicolas Schmit, elogiou a governação do primeiro-ministro português, considerando que os países europeus devem começar a analisar o "modelo ibérico".
"Caro António, acho que mostraste que há uma alternativa socialista que funciona, porque a austeridade não funcionou, o neoliberalismo não funcionou... O que eles produziram foi muitas pessoas no desemprego, na pobreza", declarou Nicolas Schmit, do Partido Socialista dos Trabalhadores do Luxemburgo.
Por oposição à austeridade, Schmit defendeu que António Costa "mostrou que as políticas democráticas sociais, a solidariedade e a inovação social não são produtos de sonho, mas políticas concretas feitas por socialistas e sociais-democratas".
"As políticas sociais que estão a ser desenvolvidas, com sucesso, em Portugal e Espanha, mostram que se pode ter uma economia forte, inovadora, baseada na solidariedade e, ao mesmo tempo, políticas sociais que tentam não deixar ninguém para trás", referiu.