Casa Branca emite alerta contra uso de redes sociais por crianças e adolescentes

Num relatório muito crítico da falta de envolvimento das empresas e dos decisores políticos, o cirurgião-geral dos EUA sublinha que “os adolescentes não são adultos mais pequenos”.

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"Os adolescentes não são adultos mais pequenos" , disse o cirurgião-geral dos EUA, cargo comparável ao director-geral da Saúde em Portugal Aaron Weiss/Unsplash
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O principal responsável pela divulgação de riscos para a saúde pública nos Estados Unidos — o cirurgião-geral dos EUA, um cargo comparável aos directores-gerais da Saúde em Portugal — lançou um alerta, esta semana, contra o uso excessivo de redes sociais como o Instagram e o TikTok por crianças e adolescentes.

Num relatório com 25 páginas, publicado na terça-feira, o médico Vivek Murthy sublinha que ainda não há certezas absolutas sobre as suspeitas de ligação entre o uso de redes sociais por crianças e adolescentes e um aumento dos casos de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas nos EUA nos últimos anos.

E é por isso — por não ser possível afastar uma ligação entre as duas coisas — que o responsável apela a uma maior intervenção das empresas de tecnologia e dos decisores políticos, para que os pais e educadores não se sintam sozinhos e impotentes.

"Os pais têm suportado toda a responsabilidade na gestão do uso das redes sociais [pelos seus filhos]", diz Murthy num artigo de opinião publicado no jornal The Washington Post. "É verdade que há passos que os pais e as crianças podem dar para estabelecer limites, mas também é verdade que não deviam estar a fazer isso sem nenhuma ajuda."

"A maioria das plataformas de redes sociais é projectada para maximizar o tempo e o envolvimento dos seus utilizadores, o que leva os adolescentes e os seus pais a terem de enfrentar alguns dos mais talentosos engenheiros e programadores do mundo. Não é uma luta justa", afirma o cirurgião-geral dos EUA.

Salientando que muitas crianças e adolescentes podem beneficiar com o uso de aplicações como o Instagram, o TikTok, o Facebook ou o Twitter — "principalmente os mais marginalizados, incluindo os que fazem parte da comunidade LGBTQ+" —, Murthy sublinha que muitos dos mesmos jovens são alvo de assédio moral e vêem-se confrontados com situações complexas numa fase em que a sua personalidade está em desenvolvimento.

"Os adolescentes não são adultos mais pequenos", disse o médico, citado pelo The New York Times. "Eles estão numa fase diferente de desenvolvimento, e numa fase crítica do desenvolvimento do cérebro."

"O que está em causa é que não existem provas suficientes para concluirmos que as redes sociais são suficientemente seguras para as nossas crianças", diz o médico. "Na verdade, há até cada vez mais indícios de que o uso de redes sociais durante a adolescência — uma fase crítica no desenvolvimento do cérebro — está associado a consequências negativas para a saúde mental e para o bem-estar."

"Os estudos têm ligado o uso de redes sociais por jovens a uma redução na qualidade do sono e à depressão", alerta Murthy. "Cerca de um em cada três adolescentes dizem usar redes sociais até à meia-noite, ou depois disso, durante os dias da semana. A falta de sono durante a adolescência está ligada à depressão, a alterações no desenvolvimento do cérebro e a outros problemas."

O médico pede às empresas de tecnologia que limitem o acesso às redes sociais por crianças e adolescentes, recomendando limites mínimos de idade para um uso sem o consentimento dos pais; e a eliminação de incentivos como os botões de "gosto" e a ausência de um limite para a visualização de conteúdos (o scrolling infinito).

"Várias plataformas exigem que os seus utilizadores tenham pelo menos 13 anos de idade, mas pouco fazem para que essa obrigação seja cumprida de facto", acusa Murthy. "Além disso, e à luz da totalidade dos estudos disponíveis, estou convicto de que as crianças de 13 anos não deviam estar nas redes sociais."

Vivek Murthy, de 45 anos, é o cirurgião-geral dos EUA desde Março de 2021, depois de ter desempenhado o mesmo cargo entre 2014 e 2017.

O poder dos cirurgiões-gerais dos EUA está limitada à sua capacidade para influenciar a opinião pública e para convencer a Casa Branca e o Congresso a aprovarem ou a alterarem leis relacionadas com a saúde pública.

Em Janeiro, Murthy referiu-se à violência armada nos EUA como uma "epidemia", na sequência de dois tiroteios em massa em Monterey e Half Moon Bay, na Califórnia.

Antes dele, outros cirurgiões-gerais destacaram-se por posições fortes contra o fumo do tabaco, na década de 1960; no combate ao vírus do HIV/sida, na década de 1980; contra a condução sob o efeito do álcool, em 1989; e contra a obesidade, em 2001.

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