Cavaco em 1985 vs. Montenegro em 2023: um foi ministro, o outro foi líder parlamentar

Cavaco Silva comparou o seu percurso anterior à sua estreia como primeiro-ministro com o de Luís Montenegro, para concluir que o líder do PSD tem “mais experiência política” e está mais bem preparado.

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Luís Montenegro aplaudiu o antigo Presidente da República após um discurso violento contra o Governo LUSA/ANDRÉ KOSTERS
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Num discurso recheado de duras críticas ao Governo e também com alguns recados para o Presidente da República, Cavaco Silva deixou no encerramento de um encontro de autarcas do PSD, no passado sábado, um generoso elogio a Luís Montenegro ao dizer que o actual líder do PSD tem “mais experiência política” e está “tão ou mais bem preparado” para chefiar um Governo do que o próprio quando se estreou como primeiro-ministro em 1985. Com um percurso académico e profissional como economista, Cavaco foi ministro das Finanças (1980-1981) e deputado antes de liderar um governo. Por seu turno, Montenegro nunca assumiu um cargo governativo. Foi autarca e líder parlamentar durante seis anos.

Como uma das figuras que esteve mais tempo em cargos políticos — dez anos como primeiro-ministro e outros dez como Presidente da República, Cavaco Silva olhou para o seu percurso anterior a 1985 e comparou-o com o do actual líder social-democrata. Nessa altura, quando ganhou as legislativas de 1985 e formou um governo minoritário, o então presidente do PSD tinha no currículo uma carreira académica: concluiu um doutoramento em Economia Pública pela Universidade de York, no Reino Unido, e foi assistente de Finanças Públicas, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (Universidade Técnica de Lisboa), onde leccionou até 1978. Foi investigador na Fundação Gulbenkian e, a partir de 1977, trabalhou como director do departamento de estatística e estudos económicos do Banco de Portugal, instituição pela qual passaram todos os ministros das Finanças (à excepção do actual, Fernando Medina).

Filiado no PSD desde 1974, Cavaco Silva foi nomeado ministro das Finanças e do Plano na sequência da vitória da AD nas legislativas de 1980, cargo que só exerceu até Janeiro de 1981, quando Pinto Balsemão foi indigitado primeiro-ministro. Foi depois eleito deputado e foi indicado como presidente do Conselho Nacional do Plano (o antecessor do Conselho Económico e Social). Só em Maio de 1985 foi eleito presidente do PSD no congresso da Figueira da Foz. Cinco meses depois, tornou-se primeiro-ministro de um governo minoritário, quando o PSD ganhou com 29,8% dos votos, o melhor resultado do partido até então.

Por seu turno, o percurso de Luís Montenegro começa a ser construído a partir de dentro do PSD: foi líder da JSD de Espinho, onde nasceu, membro do conselho de jurisdição e do conselho nacional e mais tarde vice-presidente da distrital de Aveiro.

Foi também autarca em Espinho, tendo sido vereador e presidente da assembleia municipal da mesma autarquia, e deputado na Assembleia Municipal do Porto. Licenciado em Direito, o advogado estreou-se como deputado em 2002, e tornou-se vice-presidente da bancada na liderança parlamentar de Pedro Santana Lopes (2007-2008).

Quando Passos Coelho se tornou primeiro-ministro em 2011, Luís Montenegro foi eleito líder da bancada do PSD, onde cumpriu três mandatos sucessivos até 2017.

Em 2018 saiu do Parlamento e, após uma tentativa falhada de derrubar Rui Rio na liderança do PSD em 2019, desapareceu dos holofotes mediáticos, mantendo a profissão de advogado. Foi eleito líder do PSD em Maio de 2022 e assumiu funções plenas dois meses depois no congresso do Porto.

No seu discurso, Cavaco Silva defendeu igualmente que “o PSD é a única, verdadeira alternativa credível ao poder socialista”, uma tese que choca com o que tem sido dito por Marcelo Rebelo de Sousa quando tem argumentado que não pode promover eleições antecipadas por falta de alternativa ao PS.

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