O que disse Costa sobre o que sabia do contacto com o SIS?

Novas informações sobre os contactos feitos por João Galamba na noite de 26 de Abril acerca dos acontecimentos no Ministério das Infra-Estruturas vieram lançar dúvidas sobre a versão de António Costa.

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António Costa e João Galamba, em Maio de 2015, ainda antes de o PS ter formado o Governo da "geringonça" MANUEL DE ALMEIDA
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Falou com o primeiro-ministro sobre o que aconteceu no Ministério das Infra-Estruturas, mas depois de tudo terminar. Na audição de quinta-feira na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP – e que se prolongou para a madrugada de sexta-feira –, o ministro João Galamba revelou três dados novos sobre a sua versão do que aconteceu na noite de 26 de Abril no Ministério das Infra-Estruturas e que já levaram a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda a anunciarem que querem ouvir o primeiro-ministro, António Costa, na CPI.

Primeiro: José Luís Carneiro, o ministro da Administração Interna, foi um dos governantes a quem ligou (algo que o próprio Carneiro confirmou já nesta sexta-feira). Este contacto não era conhecido. Na conferência de imprensa de 28 de Abril, Galamba não o tinha referido. Na quinta-feira, admitiu que não o tinha mencionado antes e que agora o estava a acrescentar.

Segundo: foi o gabinete do primeiro-ministro, em concreto o secretário de Estado adjunto, António Mendonça Mendes, que disse ao ministro das Infra-Estruturas que o Serviço de Informações de Segurança (SIS) devia ser contactado perante o relato dos acontecimentos naquele ministério, que envolviam o alegado roubo do computador de serviço de um ex-adjunto, no qual estariam documentos confidenciais, assim como alegadas agressões físicas. Até agora era conhecida uma cadeia de contactos que o ministro tinha feito, mas não se sabia exactamente qual dos governantes tinha dito a Galamba para que o ministério falasse com o SIS.

Terceiro: João Galamba contou ainda que, embora não tenha conseguido falar com António Costa no início dos acontecimentos, o fez no final daquela noite, já na madrugada de dia 27 de Abril, altura em que lhe contou o que se tinha passado, incluindo que tinha sido feito o contacto com o Serviço de Informações de Segurança.

"Falei no final da noite [de 26 de Abril] com o senhor primeiro-ministro, penso que à uma da manhã ou duas da manhã. E contei-lhe só o que se passou. Mas aí foi só informação. Já tinha sido contactada a Polícia Judiciária (PJ). Aí foi só mesmo 'então, o que é que se passa?'", disse João Galamba na CPI. Mais à frente reiterou: "No final, contei o que é que tinha acontecido, que tinha ligado ao SIS."

Ou seja, no final da noite Galamba contou a Costa o que tinha acontecido. Segundo João Galamba e Eugénia Correia (a chefe do seu gabinete), o contacto com o SIS foi feito pela chefe de gabinete – e não pelo ministro – depois de contactado o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP).

Esta revelação já levou, por exemplo, a IL e o Bloco a pedirem ao primeiro-ministro para ir à comissão de inquérito à TAP prestar esclarecimentos. O líder dos liberais, Rui Rocha, destaca que “o primeiro-ministro tinha prestado esclarecimentos de não ter conhecimento da intervenção do SIS e afinal foi informado de tudo o que aconteceu”, além do facto de Galamba ter dito na CPI que foi o gabinete do primeiro-ministro, através do secretário de Estado adjunto, António Mendonça Mendes, que lhe disse para que o SIS fosse contactado.

O líder do executivo falou duas vezes sobre esta questão. A 1 de Maio, em dois momentos. Primeiro ao Observador, quando diz: "O primeiro-ministro não foi nem tinha de ser informado. Nem tomou qualquer diligência." Horas depois, a partir do aeroporto de Lisboa em declarações à RTP, insistiu: "Eu não fui informado, nem tinha de ser informado. Ninguém no Governo deu ordem ao SIS para fazer isto ou fazer aquilo."

As declarações de António Costa mostram desconhecimento sobre o contacto com o SIS, mas parecem sugerir que esse desconhecimento se refere ao momento prévio ao contacto do SIS. Ao afirmar que pessoalmente não foi informado do contacto com o SIS, sinaliza ainda que Mendonça Mendes não lhe terá comunicado que tinha dito a Galamba que o SIS fosse contactado.

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