Erdogan anuncia renovação do acordo de cereais da Ucrânia por dois meses
Entendimento caducava esta quinta-feira e Presidente turco, em plena campanha de reeleição, diz ter sido alcançado um entendimento entre as partes.
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O Presidente turco anunciou, ao início da tarde desta quarta-feira, que o acordo para a exportação de cereais da Ucrânia foi renovado na véspera de expirar, o que aconteceria esta quinta-feira. Rússia e Ucrânia vieram, entretanto, confirmar este desfecho para as negociações que decorriam intensamente há mais de uma semana.
Num encontro por videoconferência com líderes locais e regionais do seu partido, enquanto prepara a segunda volta das presidenciais da Turquia, Recep Tayyip Erdogan aproveitou para dizer que o entendimento foi prolongado por mais dois meses. “Com os esforços do nosso país, o apoio dos nossos amigos russos, as contribuições dos nossos amigos ucranianos, foi decidido prolongar o acordo sobre o corredor de cereais do mar Negro por mais dois meses”, disse Erdogan, citado pela agência noticiosa turca Anadolu.
O último cargueiro abrangido pelo acordo em vigor zarpou do porto ucraniano de Chornomorsk esta quarta-feira com 30 mil toneladas de milho a bordo.
A renovação deste acordo estava num impasse porque a Rússia queixa-se de que um outro acordo assinado também em Julho do ano passado, também com mediação da Turquia e das Nações Unidas, relativo à exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos, continua por cumprir. E culpa o Ocidente, que, apesar de não ter imposto sanções específicas ao sector agrícola russo, criou restrições às transacções bancárias e à contratação de seguros por parte dos exportadores russos.
Em Março, o embaixador russo junto da ONU informou que o país só estava disposto a prolongar o acordo sobre os cereais ucranianos se “os problemas sistémicos” com esse outro trato fossem resolvidos. Entre as exigências então elencadas por Vassili Nebenzia estavam o regresso do banco Rosselkhozbank ao sistema de transferências SWIFT, a retoma das exportações de peças e maquinaria agrícola para a Rússia, a reactivação de um gasoduto de amoníaco entre a Rússia e a cidade ucraniana de Odessa e o desbloqueio de contas bancárias de fabricantes de fertilizantes russos.
“Ainda há muitas questões em aberto relativamente à nossa parte do acordo”, disse na terça-feira o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, que na habitual conferência de imprensa de quarta não quis adiantar qual será a decisão de Vladimir Putin em relação ao acordo. “Não creio que discussões hipotéticas sejam apropriadas aqui”, disse.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, disse ao princípio da tarde, segundo a Reuters, que o acordo foi renovado para não prejudicar os países mais necessitados, mas que a avaliação da Rússia sobre os acordos “não mudou”. Do lado ucraniano, o vice-primeiro-ministro Oleksandr Kubrakov escreveu no Facebook que o seu país “saúda” a continuação do acordo, mas diz que ele tem de “funcionar eficazmente” e que a Rússia deve parar de usar os alimentos “como uma arma e como chantagem”.
“Esperamos ver os dias em que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia vai acabar, primeiro com um cessar-fogo permanente, depois com a paz”, declarou Erdogan, que aproveitou a invasão russa da Ucrânia – dois países com quem mantém boas relações – para se catapultar (e à Turquia) para uma proeminência diplomática de relevo global.
O secretário-geral da ONU tem repetido, nos últimos meses, que apenas “a adopção total de ambos os acordos sobre exportações sem obstáculos de alimentos e fertilizantes ucranianos e russos” permite evitar uma crise inflacionária dos preços alimentares. António Guterres está envolvido directamente nas negociações com as diferentes partes para tentar ultrapassar o impasse, disse o seu porta-voz. “Os contactos decorrem a níveis diferentes”, afirmou Stéphane Dujarric, reconhecendo que “obviamente” este é “um momento delicado”. “Esperamos que todos os envolvidos estejam à altura das suas responsabilidades”, acrescentou.
Assinado em Julho do ano passado, em Istambul, o acordo permitiu até ao momento a exportação de 30 milhões de toneladas de cereais e outros produtos agrícolas da Ucrânia, que é um dos maiores produtores cerealíferos do mundo, com um peso relevante na estabilidade do mercado alimentar global. A Rússia chegou a abandonar brevemente o entendimento, no fim de Outubro, mas os cargueiros não deixaram de zarpar durante os cinco dias em que Moscovo esteve fora.
Pouco tempo depois, as partes concordaram em prolongar o acordo por mais 120 dias e, em Março, quando estava novamente prestes a expirar, foi prolongado por mais 60 dias. A data de caducidade está fixada neste momento a 18 de Maio, esta quinta-feira.