Que médicos de família é que queremos?

O acesso ao médico de família é um investimento fundamental na nossa sociedade, para que o direito à saúde seja de facto geral e universal.

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Neste 19 de maio, vamos comemorar mais um Dia Mundial do Médico de Família. Este ano, o tema proposto é o “Médico de família: o coração dos cuidados de saúde”, que nos apela a olhar o funcionamento da saúde como um sistema vivo, em que múltiplos órgãos intervêm sinergicamente e em equilíbrio para manter a homeostasia.

Compreendemos que não há um bom sistema de saúde sem especialidades de alta tecnologia capazes de proporcionar o tratamento mais adequado aos casos graves que dela necessitam. Todos o queremos para os nossos concidadãos e para nós próprios. Por isso pagamos os nossos impostos que, entre outros, irão também financiar estes serviços. Mas sabemos que a verdadeira saúde ultrapassa largamente a contabilidade das doenças. A maior parte de nós é saudável com episódios mais ou menos espaçados de doença, muitas vezes sem impacto significativo, não obstante a necessidade de cuidados. Mesmo na doença crónica que acompanha a idade, conseguimos encontrar saúde apesar do convívio diário com as doenças.

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O médico de família é o especialista nesta ligação entre a saúde e a doença. É o verdadeiro coração que impulsiona o percurso das pessoas dentro da mecânica dos sistemas de saúde. E é também o coração que humaniza os serviços e os retorna à sua verdadeira essência: a medicina só existe porque existem pessoas que dela necessitam. Falar do coração dos cuidados de saúde é falar das necessidades básicas das pessoas e, portanto, falar do papel dos médicos de família é falar de proporcionar a todos oportunidades para uma vida longa, feliz e com prosperidade, maximizando o potencial de saúde e orientando as doenças quando forem aparecendo.

Por isso, os médicos da família fazem uma formação especializada em Medicina Geral e Familiar, treinando nos quatro anos de internato um conjunto de tarefas específicas capazes de proporcionar esta abrangência em continuidade ao longo de toda a vida. Percebem que à sua frente está sempre uma pessoa, com ou sem doença, mais do que um diagnóstico, um tratamento ou uma cirurgia mais ou menos diferenciados, e utilizam muitas vezes a relação como aliança terapêutica privilegiada.

Neste sentido, os médicos de família têm uma plasticidade que permite ajustar em cada momento a ação à necessidade, reequilibrando a vulnerabilidade e a doença e proporcionando a cada um o que realmente necessita seja nos tratamentos, na prevenção ou na paliação, multiplicando o valor de cada ato no retorno do benefício individual e social.

O acesso ao médico de família é, assim, um investimento fundamental na nossa sociedade, para que o direito à saúde seja de facto geral e universal. É dever de todos defender e promover a saúde e, por isso, lançamos a pergunta: que médico de família nós queremos?

  • Queremos médicos de família a trabalhar em complementaridade com as instituições e restantes serviços do Sistema Nacional de Saúde, eliminando redundâncias e duplicações não justificadas pelo contexto clínico do doente.
  • Queremos autonomia de gestão e capacidade de implementação de soluções locais, baseadas no conhecimento e investigação científica.
  • Queremos diminuição da carga burocrática e sistemas informáticos que sejam auxiliares e não parasitas da relação médico-doente, com integração de ferramentas de apoio à decisão clínica.
  • Queremos uma reforma da rede de referenciação com uma atitude verdadeiramente colaborativa entre os níveis de cuidados.
  • Queremos uma revisão da carga de trabalho dos médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar que permita ganhar tempo efetivo de consulta e acesso das pessoas ao seu médico assistente.
  • Queremos processos de avaliação dos médicos e dos outros profissionais de saúde orientados para promover a qualidade.
  • Queremos que os médicos sejam a principal voz nas decisões que interferem diretamente no exercício e no perfil profissional específico.
  • Queremos combater efetivamente o desperdício pela melhoria da literacia em saúde e pela implementação de políticas de saúde em todos os setores.
  • Queremos estes médicos de família, porque só assim teremos de facto saúde para todos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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