João Almeida tem um “amigo” a andar para trás no Giro

Jay Vine caiu e acabou a etapa com atraso para Almeida e o resto dos favoritos ao triunfo na Volta a Itália. Já não há sombra para o português dentro da equipa Emirates.

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O pelotão do Giro 2023 EPA/CESARE ABBATE
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No início da Volta a Itália, Jay Vine era um lobo em pele de cordeiro na equipa de João Almeida – o próprio português fez questão de “bater no peito” e esclarecer, com formulações até bastante contundentes, que o líder é ele e Jay Vine teria de esfriar os intentos individualistas. Vine teria de ser um amigo dentro da Emirates e não um rival.

A corrida estava a tratar de esclarecer quem lidera a equipa e, nesta terça-feira, o ciclista australiano voltou a “andar para trás”. Depois de já ter perdido tempo noutra etapa, Vine caiu na tirada 10 e acabou por nunca recuperar, perder tempo para o pelotão e sair do top 10.

O que significa isto? Em primeiro lugar – se é que ainda era necessário –, que não vai fazer qualquer sombra a Almeida, que depois da etapa desta quarta-feira (que terminou no 24.º posto) mantém o quarto lugar da geral, a 22 segundos do líder, Geraint Thomas (Ineos).

Num segundo plano, que a estratégia da Emirates e de Almeida poderá ter de ser adaptada ao atraso de Vine. Além de já não poder ser uma alternativa a um eventual azar do português, o australiano poderia ser uma arma para colocar em fuga em algumas etapas, desde que com proximidade classificativa suficiente para assustar os líderes das outras equipas.

Assim, com mais este atraso, Vine terá dificuldade em meter medo a quem quer que seja – o que pode beneficiá-lo individualmente, mas também criar problemas a nível de táctica colectiva. Veremos como olhará a Emirates para este detalhe e como explorar a posição de Vine.

Outra notícia importante para Almeida é a desistência de Vlasov, mais um ciclista de primeira linha a sair do Giro. Não será Vlasov a “roubar” ao português um pódio na corrida.

Cort venceu

No que diz respeito à etapa, o pelotão da Volta a Itália enfrentou muita chuva e temperaturas bastante baixas. O perigo associado a estas condições meteorológicas, conjugado com uma situação de corrida confusa, parecia ser suficiente para um dia de resultados imprevisíveis, mas acabou por nada acontecer de incomum na luta pela geral.

Como se esperava, houve uma tentativa de fuga. Mais surpreendente é que os aventureiros não tenham sido apanhados e houve triunfo de Magnus Cort, que neste ano já venceu no Algarve, à frente de Derek Gee e Alessandro de Marchi. João Almeida e os demais candidatos ao triunfo na prova passaram o dia sem especiais dificuldades.

Mas esta etapa, que parecia para controlo e minimização de riscos de queda, acabou por ser rica. A Bahrain colocou duas “lebres” a rebocarem Caruso descida abaixo, após a segunda montanha do dia, levando Sivakov no quarteto. Pelas informações do GPS oficial, esta era uma situação de corrida muito interessante.

Caruso e Sivakov, ambos no top 10, estavam cerca de dois minutos à frente do pelotão dos favoritos, o que fazia soar alarmes e obrigava Jumbo e Emirates a trabalharem – e a INEOS com a dúvida de respeitar Sivakov ou perseguir o seu ciclista e manter a ideia de que Thomas e Hart são as prioridades.

Era interessante? Era. Mas por pouco tempo. O GPS afinal estava errado, a diferença era apenas de meio minuto e Sivakov acabou até por ir ao chão, ficando à espera do pelotão. E o trio da Bahrain também foi neutralizado pouco depois.

O que se mantinha interessante era a luta entre voltistas e sprinters. Numa etapa teoricamente para final ao sprint, o facto de Caruso estar em fuga levava as equipas dos voltistas a terem de trabalhar no pelotão e endurecerem o ritmo – por extensão, os sprinters tinham mais dificuldades para reentrarem no grupo.

Com Caruso apanhado a 70 quilómetros da meta, os sprinters puderam respirar de alívio. O pelotão, que era bastante curto, pôde crescer e receber os velocistas que tinham ficado para trás.

Tudo parecia feito para um sprint em pelotão compacto, mas o grupo não tirou tempo suficiente à fuga, que teve direito a um final a três. Cort, com um triunfo fácil, venceu pela primeira vez no Giro e fechou o hat-trick em "grandes voltas", com triunfos no Tour e na Vuelta.

Para esta quarta-feira está desenhada uma etapa bastante mais suave. Parece desenhada para uma fuga, mas um final ao sprint não será surpreendente.

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