“Atingimos o limite”: Alto Adige, na Itália, restringe visitantes e proíbe novos alojamentos

A região de Alto Adige, com pitorescas aldeias tirolesas e vistas para as Dolomitas, decidiu restringir o número de camas disponíveis e proibir a abertura de novos alojamentos. “Atingimos o limite.”

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A região é afamada pelas aldeias pitorescas e cenários naturais, entre as montanhas das Dolomitas e os lagos glaciares IDM Südtirol-Alto Adige/Alex Moling
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Já tinha condicionado o acesso a algumas das principais atracções turísticas, agora deu mais um passo no combate ao turismo excessivo: a região italiana de Alto Adige, junto à fronteira com a Áustria, decidiu limitar o número de dormidas, restringindo-o aos valores de 2019, e proibir a abertura de novas unidades de alojamento – a não ser que outras encerrem.

Afamada pelas pitorescas aldeias tirolesas e pelos idílicos cenários naturais, entre as montanhas nevadas das Dolomitas e os lagos glaciares, a pequena região do Norte de Itália viu o número de visitantes disparar na última década. Em 2022, registou 34 milhões de dormidas. Nos últimos cinco anos, o número de unidades de alojamento local aumentou 400%.

“Atingimos o limite dos nossos recursos, tivemos problemas de trânsito, e os residentes têm dificuldade em encontrar sítios para viver”, relata Arnold Schuler, responsável pelo departamento de turismo da província e pela proposta da nova lei, à CNN.

O sector “é muito importante” para a região, gera empregos e estimula a economia, mas, “atingido o limite”, o governo da região autónoma decidiu “tomar medidas para garantir uma melhor gestão do fluxo de pessoas e o alojamento dos turistas”. O objectivo é “garantir a qualidade [de vida] para locais e turistas”, acrescenta, lembrando que estes chegam à região “para caminhar e ver lugares lindos, não para darem por eles em engarrafamentos”.

A lei, promulgada em Setembro do ano passado, impede a abertura de novas unidades de alojamento (incluindo Airbnb) ou a adição de mais quartos na hotelaria existente sem permissão prévia das autoridades locais. O limite de dormidas será fixado aos valores de 2019 – cerca de 230 mil, estando ainda por contabilizar as camas extra, que serão incluídas no valor final.

De acordo com a CNN, cada unidade de alojamento terá um número fixo, assim como cada município, que não poderá ser ultrapassado. Será necessário que uma unidade de alojamento feche ou diminua o número de camas disponíveis para que outro negócio possa abrir ou crescer. As únicas excepções dirigem-se a pequenas empresas, com capacidade para menos de 40 hóspedes (cada município terá 7000 camas adicionais para distribuir), e localidades com números muito baixos de visitantes (podem ser atribuídas mil camas a novos negócios nestas circunstâncias).

As novas medidas fazem parte do Programa Provincial para o Desenvolvimento do Turismo 2030+, um documento com mais de 100 páginas que procura mapear as intenções e acções do governo regional rumo a um desenvolvimento mais sustentável, e que inclui outras iniciativas, como a introdução de um sistema de avaliação para premiar os hotéis mais sustentáveis.

Esta não é a primeira vez que a região impõe medidas para controlar o fluxo de turistas que visita as suas paisagens de postal ilustrado. Desde 2021 que o acesso de carro ao lago di Braies (ou Pragser Wildsee, em alemão, a segunda língua da região autónoma) é feito apenas por reserva durante a época alta. De acordo com Arnold Schuler, a situação junto ao espelho de água sob as montanhas, foto obrigatória no Instagram, estava a tornar-se insustentável. O “projecto-piloto” de reservas obrigatórias garante que quem se dirige ao lago tem não só “acesso garantido” como a certeza de que “não vai estar muita gente lá”, diz.

Também o acesso ao Alpe di Siusi (ou Seiser Alm) já tinha sido restringido anteriormente, fechando a estrada a carros particulares entre as 9h e as 17h, excepto residentes e turistas hospedados no local. Quem quiser visitar os campos verdes à sombra dos picos nevados terá de ir de transportes públicos. Para o responsável, é improvável que as restrições se fiquem por aqui, revelando que o sistema de reservas “certamente” será aplicado “noutras áreas” populares da região.

“Não são só os locais que ficam contentes, mas também os turistas, que têm menos problemas de acesso, têm estacionamento, e conseguem encontrar onde comer”, sublinha em declarações à CNN.

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