Dos trapos aos tampões: a evolução dos produtos menstruais ao longo da História

Na Grécia Antiga, acreditava-se que era saudável ter períodos abundantes. A relação das mulheres com a sua menstruação mudou ao longo dos séculos — e os produtos que usam nesses dias também.

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Cinto menstrual Wikimedia
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Em 2023, as menstruações ainda são um tabu. Ainda que seja evocado, por exemplo, na arte contemporânea, este evento fisiológico que afecta as mulheres (e alguns homens trans) durante uma boa parte das suas vidas ainda não é um tópico de conversa comum.

Normalmente, as menstruações são vistas como algo que é preciso conter – as fugas menstruais são consideradas vergonhosas apesar das campanhas que querem ajudar as jovens a sentirem-se mais à vontade para falar sobre o tema.

Para várias mulheres, esse período traduz-se numa perda de sangue equivalente a duas ou três colheres de sopa durante os quatro ou cinco dias que duram as menstruações. Durante esse período, recorrem a tampões, pensos higiénicos ou copos menstruais.

Mas um estudo de 2019 sobre a forma como as mulheres do mundo inteiro gerem os seus períodos mostrou que muitas delas ainda usam folhas, lã de ovelha, papel de jornal, ervas ou mesmo excrementos de vaca como substância absorvente.

Um relatório da Unesco, de 2016, revelou que 10% das jovens mulheres africanas não iam à escola durante os seus períodos. De facto, um dos meios de evitar as fugas é simplesmente não sair de casa durante o período, o que explica que a menstruação ainda tenha consequências relevantes na educação das mulheres.

Os períodos na História

Todavia, as mulheres não tiveram sempre a mesma relação com as suas menstruações.

É provável que, noutras épocas, as mulheres tenham tido menos períodos e com sangramentos mais ligeiros. Isto explica-se não apenas por passarem uma grande parte das suas vidas grávidas, mas também porque a sua alimentação era mais pobre do que a dos dias de hoje.

Apesar disso, textos médicos que datam da Grécia Antiga afirmam que o sangramento ideal devia ser abundante. Isso explica-se pela crença de que as menstruações aconteciam porque os corpos das mulheres tinham uma textura mais esponjosa do que os dos homens. A sua carne absorvia mais do que elas comiam e bebiam e o sangramento era visto como benéfico para a saúde. Pensava-se mesmo que o sangue que não saía podia causar doenças mentais.

Até ao século XIX, os textos médicos repetiam as ideias herdadas da Grécia Antiga, mas no advento da Europa Moderna, os homens pareciam mais à vontade para falar sobre menstruações. Samuel Pepys, homem de Letras do século XVII, mencionava por exemplo o ciclo menstrual da mulher no seu diário.

No que diz respeito aos sangramentos, a historiadora Sara Read conclui que, nessa época, a maioria das mulheres sangrava simplesmente através das roupas ou utilizava, ocasionalmente, trapos colocados entre as coxas ou atados à roupa.

No século XIX, o mercado de protecções menstruais desenvolveu-se, dos cintos e os pensos higiénicos aos “aventais higiénicos”, usados sobre as nádegas para impedir as fugas para a roupa quando se estava sentada. Mas até ao desenvolvimento dos tampões de algodão descartáveis, no final da década de 1890, os pensos continuavam a ter de ser lavados e secos (embora os tampões reutilizáveis tenham voltado recentemente).

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Um cinto menstrual DR

A partir do fim dos anos 1960, a utilização de uma banda adesiva permitiu fixar as protecções à roupa interior, em vez de ser atada a um cinto especial.

Os novos produtos menstruais

Nos anos 1930, apareceram no mercado os primeiros tampões. Eram descritos como pensos higiénicos internos. Os copos menstruais em borracha também remontam à década de 1930, embora tenham sido substituídos em grande parte por copos de silicone – disponíveis numa vasta gama de tamanhos. O risco de fuga com um copo de dimensões adequadas parece ser menor do que com um penso ou um tampão.

Estas novas protecções contribuíram, de acordo com a historiadora Lara Freidenfelds, para tornar as menstruações uma parte normal da vida – que não precisa necessariamente de dias de repouso como era o caso antes. No século XX, as protecções menstruais tornaram-se, progressivamente, marcadores sociais.

O regresso da reutilização?

Os aplicadores e as embalagens de tampões contêm materiais plásticos, o mesmo acontece com os pensos higiénicos: o consumo desses produtos não acontece sem quaisquer consequências ambientais. Os riscos associados aos produtos químicos, como dioxinas, utilizados nos tampões e pensos higiénicos, também são cada vez mais conhecidos. Essas duas razões contribuíram para estimular o mercado dos produtos naturais.

Existem, também, os discos menstruais descartáveis ou reutilizáveis – trata-se de um disco redondo de silicone que recolhe o sangue. Por fim, as cuecas menstruais, inventadas em 2017, são vendidas como sendo “as melhores para o planeta”.

Em vez de vender esses produtos nos países mais pobres do mundo, as organizações de caridade como a ActionAid organizam sessões de formação sobre como fazer pensos higiénicos. As mulheres dos países ricos ficam surpreendidas ao constatar o conforto desses pensos.

A promoção actual dos pensos higiénicos reutilizáveis ou das cuecas menstruais são um regresso a uma forma mais tradicional de gerir as menstruações, mesmo que hoje em dia seja mais fácil para a maior parte das mulheres lavar e secar essas peças de protecção.

A sua utilização sugere que a nossa atitude em relação ao sangue menstrual está a mudar. A ideia de que aqueles produtos menstruais são “resíduos” que devem ser escondidos ou eliminados de maneira “higiénica” não vai de mão dada com lavar os seus pensos e deixá-los a secar ao ar livre.


Exclusivo PÚBLICO/The Conversation
Helen King é professora emérita de Estudos Clássicos na Universidade Aberta​

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