Afinal, de que cor era aquele vestido?

Os jornais tradicionais não sabiam o que fazer. Muitos ficaram em negação, mas muitos decidiram ir atrás do BuzzFeed News que trouxe sexyness ao mundo das notícias.

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Megafone P3: Buzz Feed News DR
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Era azul e preto ou branco e dourado? Eis a questão que levou discussões de amigos à loucura e, mesmo não sabendo, também casamentos devem ter acabado por uma mera questão cromática. O mundo inteiro parou e em todas as línguas se discutiu o assunto. A culpa não morre solteira, mas quem nos trouxe este caos morreu: RIP BuzzFeed News.

Foi em 2015 que esta questão nos fez esquecer a dúvida mais antiga da humanidade — quem é que se interessa por ovos e galinhas quando pode discutir cores? —, mas o BuzzFeed News foi muito mais do que um vestido polémico nas nossas vidas, mesmo sem termos noção do impacto que teve e tem. Perguntei a amigos se conheciam o que era e a resposta foi unânime: “Já ouvi falar, mas não sei o que é”. Eu próprio também estava esquecido.

O BuzzFeed News era uma plataforma digital de notícias que nasceu em 2011 e revolucionou à bruta” o mundo noticioso. Nesse ano, estava eu a começar a estudar jornalismo, enquanto se atravessava a pior crise jornalística de que tenho memória, com redacções a ficarem mais pequenas do que a minha turma. Eram as redes sociais a chegar e os jornais em papel a morrer. A reinvenção era obrigatória, mas a vontade nunca foi essa. Nesse ano, e só para contextualizar, tive uma disciplina de Jornalismo Digital, onde criar um Twitter era sinónimo de melhor nota no final do ano. Mas isto não é sobre mim.

Foi aqui, neste ponto sensível do “jornalismo à antiga” que o BuzzFeed News entrou. Levando jornalistas novos e antigos a trabalhar e a inovar na essência do que era escrever uma notícia. O grande objectivo era agarrar novamente o público que se começava a distrair nos smartphones por tempos loucos e a deixar de ler notícias, ou seja, a deixar de querer comprar o jornal. Podia ser uma questão de higiene, mas o jornal acaba por ser tão sujo como o smartphone (não é fidedigno, mas li por aí).

As notícias começaram a ser gratuitas, liam-se “por aí na internet” e os jornais tradicionais não sabiam o que fazer. Muitos ficaram em negação, mas muitos decidiram ir atrás do BuzzFeed News que trouxe sexyness ao mundo das notícias. A notícia deixou de ser uma mera descrição factual para algo que dá vontade de ler, com títulos “orelhudos”e textos curtos (ao contrário deste artigo): uma fórmula de sucesso que nos mantém vivos e agarrados a querer clicar para ler mais.

Tudo isto feito com jornalistas de alto gabarito, nomeados para prémios Pulitzer pelo caminho, mantendo o sentido de investigação apurado para olhar pelo mundo e contar o que se passa. Uma notícia sempre foi uma história, mas foi o BuzzFeed News que a inventou como sendo também entretenimento.

Se é mais divertido ler um romance que os termos e condições de qualquer coisa, porque não tornar as notícias interessantes, sendo também entretenimento sem perder o foco factual dos acontecimentos? Se não foi isto que pensaram em 2011, foi algo parecido. A plataforma que elevou o jornalismo chega agora ao fim, mas o legado fica para sempre e, por isso, uma grande salva de palmas. Ou melhor, uma chuva infinita de likes.

Foi muito Buzz para pouco Feed, porque quem sabe o legado que deixa também sabe sair da festa na hora certa. E já que o BuzzFeed News fica extinto, a discussão também: o vestido era azul e preto e quem disser o contrário é negacionista da alta-costura.

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