Trump defende “Grab’em by the pussy” no seu julgamento por violação

Trump ainda não apareceu na sala de audiências em Manhattan, mas na quinta-feira disse a jornalistas, durante uma visita à Irlanda, que provavelmente apareceria.

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Ilustração do momento em que se ouviu o depoimento em vídeo de Trump JANE ROSENBERG/Reuters

Os jurados no julgamento de Donald Trump por suspeitas de violação viram na quinta-feira um depoimento em vídeo em que o antigo Presidente dos Estados Unidos defendeu os comentários de natureza privada que fez em 2005 sobre agarrar sexualmente mulheres sem o seu consentimento.

Trump foi questionado pelo advogado da sua acusadora, a escritora E. Jean Carroll, acerca da gravação de 2005 do programa televisivo Access Hollywood em que disse, perante um microfone ligado, que “quando se é uma estrela, elas deixam-te fazer. Podes fazer qualquer coisa… Grab’em by the pussy. [Agarra-as pela c***]”

“Historicamente, isso é verdade para as estrelas (…) se olharmos para os últimos milhões anos”, disse Trump no depoimento em vídeo, gravado em Outubro passado e mostrado ao júri na quinta-feira, o sétimo dia de julgamento por violação no tribunal federal de Manhattan, em Nova Iorque.

A gravação do Access Hollywood foi tornada pública em Outubro de 2016, um mês antes de Trump ser eleito Presidente dos Estados Unidos.

Carroll, de 79 anos, testemunhou que Trump, de 76, a violou num provador dos armazéns Bergdorf Goodman, em Manhattan, em meados dos anos 1990, e depois destruiu a sua carreira e reputação ao mentir sobre o assunto na internet.

Um especialista em marketing e redes sociais contratado por Carroll disse aos jurados na quinta-feira que para reparar o dano reputacional causado pelas declarações de Trump serão precisos entre 368 mil e 2,8 milhões de dólares (334 mil a 2,5 milhões de euros). Carroll não especificou quanto pretende de indemnização.

Os advogados de Trump terminaram a sua defesa na quinta-feira sem terem chamado quaisquer testemunhas, abrindo caminho para as alegações finais na segunda-feira, depois de uma pausa esta sexta.

O juiz Lewis Kaplan disse que daria até às 17h (21h em Lisboa) de domingo para Trump manifestar a sua intenção de reabrir o caso, apenas para que possa testemunhar pessoalmente.

Trump ainda não apareceu na sala de audiências em Manhattan, mas na quinta-feira disse a jornalistas, durante uma visita à Irlanda, que provavelmente apareceria.

Trump, o favorito a ganhar a nomeação republicana para as eleições de 2024, diz que não poderia ter violado Carroll, porque “ela não faz o meu género” e afirma que o caso é politicamente motivado.

Num excerto do testemunho em vídeo, Trump confundiu Carroll com uma sua ex-mulher numa fotografia a preto e branco em que o mostra a falar com pessoas num evento.

“É a Marla”, disse ele, referindo-se à sua segunda mulher, Marla Maples.

Quando a advogada de Carroll, Roberta Kaplan (sem ligações familiares ao juiz), lhe perguntou se estava a dizer que a fotografia mostrava Maples, a advogada de Trump, Alina Habba, respondeu que “não, é Carroll”.

Os advogados de Carroll argumentam que este episódio, tornado público em Janeiro, põe em causa a alegação de Trump de que Carroll não fazia o seu género.

No testemunho, recolhido em Outubro passado na propriedade de Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Florida, Trump reiterou que não violou Carroll, a quem chamou “doente mental”.

“Você também sabe que não é verdade”, disse ele, dirigindo-se a Kaplan. “Você também é uma agente política, é uma desgraça.”

Também na quinta-feira, durante uma visita a um resort que lhe pertence no Sudoeste da Irlanda, Trump desvalorizou aquilo a que chamou alegações falsas “contra um tipo rico”.

“Tenho de voltar por causa de uma mulher que fez uma falsa acusação contra mim e tenho um juiz que me é extremamente hostil”, afirmou Trump aos jornalistas enquanto jogava golfe em Doonberg.

O juiz Kaplan avisou Trump na semana passada que poderia enfrentar mais problemas com a Justiça se continuasse a pronunciar-se sobre o caso.

Carroll, uma antiga colunista da revista Elle, disse durante três dias de depoimentos e contra-interrogatório que Trump a empurrou contra uma parede em 1995 ou 1996, pôs os dedos na sua vagina e depois inseriu o seu pénis.

Duas amigas de longa data de Carroll testemunharam que esta lhes contou sobre o ataque pouco depois de ele acontecer e que acreditaram nela.

Outras duas mulheres testemunharam a favor de Carroll, afirmando que Trump também as agrediu sexualmente em ocasiões alegadamente ocorridas há várias décadas.

Trump também nega essas acusações. Ele acusa Carroll de ter inventado essa história para aumentar a venda do seu livro de memórias, de 2019, em que tornou a acusação pública.