Morreu João Seria, vocalista dos África Negra

Tinha 74 anos e era a voz principal do popular grupo são-tomense. Auto-intitulava-se “General” e apresentava-se ao vivo de boina militar.

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João Seria tinha 73 anos Miguel Ribeiro
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"General" João Seria. Era assim que se apresentava, com uma boina militar na cabeça, o vocalista principal dos África Negra, a popular banda são-tomense que juntava, desde o início da década de 1970, os sons dos países francófonos africanos com a tradição local. Seria foi encontrado morto esta quinta-feira em Santana, distrito Cantagalo, São Tomé. Tinha 73 anos. A notícia foi confirmada pela agência Lusa junto da família do músico.

A banda tinha sido começada para os fundões, os bailes de São Tomé, por Horácio, que trabalhava como talhante, e o seu amigo guitarrista Emílio Pontes. Seria, que nasceu em Setembro de 1949 filho de mãe são-tomense e pai angolano, chegou depois e ficou para sempre associado à banda, apesar de ter passado por outras formações. São dele canções como Aninha, Carambola ou Angelica.

O Conjunto África Negra, como se chamava até quando as autoridades coloniais proibiam o nome, trazia guitarras com efeitos que não se encontravam na música dos seus pares e criavam um som único a que juntavam a puíta local, o soukous, o highlife e a rumba, entre outros sons. Na década de 1980, começaram a gravar pela Rádio São Tomé, ao ar livre, já que não havia espaço em estúdio para tantos músicos – chegaram a ter 11 membros – e conquistaram vários seguidores.

Pararam nos anos 1990, após uma digressão em Cabo Verde em que alguns membros ficaram para trás. Parte dos membros voltaram e continuaram a usar o nome – que terá sido usado também por outras formações sem grande ligação à original –, tendo continuado a gravar. Sem nunca acabarem, iam-se juntando apenas esporadicamente ao longo dos anos. Em 2008, saiu um novo disco, Cua na Sun Pô Na Buà Fa.

Em 2014, com várias novas gerações a redescobrirem a música por eles feita e os seus discos originais a serem vendidos, voltaram aos palcos europeus e outros países, reunindo-se com um núcleo duro ultimamente composto por Seria e os guitarristas Leonídio (ou Leonildo) Barros, e Emídio Vaz, em palcos como o Festival de Músicas do Mundo de Sines ou o B. Leza, por onde passaram em Julho do ano passado.

Voltaram também a fazer discos, lançando Alia Cu Omali, gravado entre Lisboa e São Tomé, em 2019, pela portuguesa Mar & Sol Records. Em 2022, saiu também uma compilação, Antologia vol. 1, pela editora suíça Bongo Joe, com temas remasterizados da banda.

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