Nápoles, cidade aberta

Ouça este artigo
--:--
--:--

Nápoles não é uma cidade limpa. Nápoles não é uma cidade ordeira. Nápoles é o caos nas estradas, são as ruas estreitas a cruzarem-se com as avenidas largas, é o lixo. São os edifícios com a fachada escura que escondem pátios interiores magníficos. As conversas aos gritos de uma janela para outra. Os pequenos cartazes a anunciar a morte de alguém. Bicicletas. Motoretas. É o neo-realismo a cores.

Nápoles é a terceira maior cidade de Itália, habituada a sofrer e a idolatrar. Não esconde os seus deuses. Totó, imortalizado nas paredes da Rione Sanitá, ele que teve direito a, não um, mas a três funerais. Maradona, presente em cada esquina do Quartieri Spagnoli e do Centro Storico, e com um altar a céu aberto tutelado por uma pintura gigante dele próprio.

Cá por baixo, mais do que nunca à mercê dos turistas e das suas câmaras, estão os testemunhos da vida de “El Pibe” em Nápoles, reunidos neste museu feito por iniciativa popular e guardado por alguém que assumiu essa responsabilidade a troco da bondade monetária de estranhos. Fotografias a cores e a preto e branco, colagens de recortes, autocolantes, uma camisola com o n.º 10, réplicas de taças, até uma pequena televisão a dar em “loop” a íntima relação de Diego com a bola.

É impossível escapar a Maradona em Nápoles. E todos os caminhos vão dar ao estádio que recebeu o seu nome, anteriormente conhecido como San Paolo – era assim que se chamava quando Diego lá chegou, em 1984, apresentado com as pernas a tremer perante 60 mil pessoas. Elevaria a auto-estima da cidade do sul pobre num país onde o poder está todo a norte (no futebol e não só). Quase 40 anos depois, o ex-San Paolo, um estádio onde os adeptos reclamam “Liberi di Tifare” (liberdade para apoiar), voltou a encher só para celebrar o regresso da auto-estima, sempre com Maradona no pensamento. E, agora, com outros heróis para imortalizar nas paredes.

Sugerir correcção
Comentar