Palestiniano morre após 86 dias em greve de fome numa prisão de Israel

Khader Adnan tinha sido preso dez vezes e fizera várias greves de fome. Dirigentes palestinianos responsabilizam Governo de Netanyahu pela sua morte e a Jihad Islâmica promete vingá-la.

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Khader Adnan, depois de ser libertado da cadeia, em 2015 Abed Omar Qusini/Reuters

O ex-ministro palestiniano Mustafa Barghouti diz que “aconteceu uma coisa muito grave” e a Jihad Islâmica avisa que Israel “vai pagar o preço por este crime”: Khader Adnan, membro do grupo armado, morreu na cadeia em Israel depois de 86 dias em greve de fome. Em resposta, pelo menos quatro rockets foram disparados a partir da Faixa de Gaza, sem causar feridos, e, segundo disseram responsáveis israelitas à Al-Jazeera, um colono foi ferido, quando três carros de colonos foram alvo de disparos na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.

Os serviços prisionais de Israel dizem que Adnan foi encontrado inconsciente esta terça-feira de manhã na sua cela, na prisão de Nitzan, na cidade de Ramle. Ainda foi levado para um hospital nos arredores de Telavive, mas foi declarado morto, acrescentam, explicando que ele tinha recusado tratamento e quaisquer exames médicos.

Adnan, de 45 anos, esteve em greve de fome várias vezes durante detenções anteriores. Em 2012, cumpriu 66 dias de greve de fome para protestar contra a sua detenção administrativa – sem acusação formada. Em Abril, segundo a organização não governamental Addameer, que apoia os presos palestinianos, havia 4900 palestinianos nas prisões israelitas, incluindo mais de 1000 sem acusação.

A rádio norte-americana NPR afirma que, embora as greves de fome tenham sido usadas frequentemente por presos palestinianos, alguns em períodos prolongados, não há registos de mortes nas prisões por esta causa não obstante muitos presos terem sofrido danos neurológicos irreparáveis. Na maioria dos casos, diz a emissora pública, as autoridades aprovaram a libertação dos detidos quando a sua saúde se deteriorou.

Isso não quer dizer que não haja mortes de palestinianos nas prisões: segundo dados da Addameer de 2021, citados pela Al-Jazeera, morreram pelo menos 73 palestinianos durante interrogatórios levados a cabo em várias prisões.

Em Jenin, a mulher de Adnan, Randa Mousa, afirmou estar orgulhosa do seu “martírio” e “pediu a Israel para entregar o corpo do marido e não o sujeitar a uma autópsia das autoridades israelitas”, diz a Al-Jazeera. Adnan iniciara a greve de fome logo depois de ser preso, a 5 de Fevereiro. Entretanto, foi acusado de “actividades para a Jihad Islâmica”, escreve a imprensa israelita, e aguardava julgamento: uma primeira audiência estava marcada para dia 10.

Israel diz que Adnan foi detido 13 vezes e que esta era a décima vez que cumpria pena.

Um porta-voz do Hamas, o maior grupo armado palestiniano (o segundo é a Jihad Islâmica), descreveu esta morte como “uma execução a sangue frio dos serviços de segurança israelitas”. “O povo palestiniano não deixará passar este crime em silêncio e vai responder à altura. O caminho da revolução e da resistência vai aumentar”, avisou Hazem Kassem.

Nas reacções à morte de Adnan, vários dirigentes palestinianos referem o nome de Itamar Ben-Gvir, o político de extrema-direita que é ministro da Segurança Interna do Governo de Benjamin Netanyahu. “Penso que o que aconteceu a Adnan é uma concretização das actuais políticas do Governo israelita, especialmente de Itamar Ben-Gvir, que é responsável pelas prisões e tornou a vida mais difícil para os nossos prisioneiros”, disse Jamal Huwail, líder do partido Fatah, no poder na Cisjordânia, em Jenin.

Adnan será “um ícone de luta e resistência para as próximas gerações”, disse ainda Huwail.

Barghouti, ouvido pela Al-Jazeera, também considera o Governo de Netanyahu e Ben-Gvir “pessoalmente responsáveis por este assassínio”.

A Autoridade Palestiniana pediu uma investigação internacional à morte de Adnan e disse que vai apresentar uma queixa ao Tribunal Penal Internacional. O primeiro-ministro da Autoridade, Mohammad Shtayyeh, descreveu a morte de Adnan como um “assassínio deliberado”.

A semana passada, um médico de uma ONG israelita visitou Adnan na prisão e avisou que enfrentava “morte iminente”, apelando a que fosse “transferido com urgência para o hospital”. Na mesma altura, a sua mulher disse à AFP que ele estava na clínica da prisão e acusou Israel de “recusar transferi-lo para um hospital civil e recusar permitir que o seu advogado o visitasse”.

*com Maria João Guimarães

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