Quando há clima de guerra na sala de partos. Da violência à pacificação obstétrica

O Centro Hospitalar Póvoa de Varzim e Vila do Conde implementou há muito o plano de parto para o casal grávido para a pacificação obstétrica, e tem publicado muitos relatórios sobre o tema.

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Procedimentos desnecessários ou não autorizados pela mulher grávida que envolvem atos considerados de desrespeito durante a gestação, na hora do parto, nascimento ou pós-parto podem tornar a experiência de maternidade num campo minado de guerra com potenciais consequências traumáticas. Este é o quadro de violência obstétrica. A mulher grávida tem direitos e não pode ser desrespeitada ou não informada sobre quaisquer procedimentos.

Muitas vezes, a sala de partos torna-se num palco de conflito quase bélico. Os dados falam por si. Segundo a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP), há várias formas correntes de violência obstétrica, tais como: 1) abusos físicos; 2) abusos verbais; 3) práticas invasivas (cesarianas não necessárias); 4) uso desnecessário de medicação; 5) intervenções médicas não consentidas, como as episiotomias, que são cortes dos tecidos vaginais, por rotina, ou a manobra de Kristeller, que é colocar uma pressão manual no fundo do útero no período expulsivo; 6) humilhação; 7) desumanização; 8) recusa de assistência; 9) negligência face às necessidades da mulher.

A violência contra as mulheres é uma violação dos direitos humanos. Mesmo que estas práticas sejam consideradas comuns e regulares, este ambiente de guerra na sala de parto muitas vezes começa antes deste momento, mas já leva consigo estes resultados. Deve ser revisto e conduzir a uma “pacificação obstétrica”.

A violência obstétrica tem consequências negativas, evidenciadas ao longo dos anos: pior recuperação física e psicológica da mulher durante o puerpério; diminuição da sua autoestima; consequências na vida sexual; efeitos na saúde mental. E o que resulta disto tudo? Naturalmente um potencial efeito na relação da mãe com o bebé, na relação do casal e na relação da mãe com o mundo.

O que pode provocar este ambiente de guerra na sala de parto? O stress dos profissionais de saúde? A consideração de que o ato de dar à luz envolve medo, dor e considerar-se, por isso, que estes incidentes são necessários para que tudo ocorra mais depressa e com mais eficácia? O que pensam os profissionais quando mecanicamente fazem o corte do períneo de forma regular? Gritam com a parturiente, fazem uma pressão excessiva sobre o abdómen? É o corpo da mulher. É a emoção da mulher.

Caminhar para a pacificação obstétrica é tomar medidas certas. O que pode ser feito? Começar por aumentar a participação da mulher grávida, do casal e da família na procura de soluções para serviços de maior qualidade, cujas responsabilidades incluem a opinião e análise de estratégias para a pacificação do parto; envolvimento da mulher e do casal em projetos de melhoria do atendimento e da comunicação dos atos obstétricos; no envolvimento e formação das equipas em competências de linguagem e procedimentos; na participação de profissionais e de casais grávidos em grupos de investigação.

O Centro Hospitalar Póvoa de Varzim e Vila do Conde (CHPVVC) tem implementado há muitos anos o plano de parto para o casal grávido para a pacificação obstétrica, e tem publicado muitos relatórios sobre este tema, que vale a pena rever.

Para memorizar e celebrar como conquista de alerta, a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto assinala o 25 de Novembro como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Exige-se, assim como referido por várias vozes, uma política de tolerância zero para estes atentados físicos, emocionais, psicológicos e com consequências sociais para a mulher, família e comunidades. Queremos todos a pacificação obstétrica.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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