Economia acelera no arranque de 2023 com ajuda das exportações
PIB registou variação em cadeia de 1,6% no primeiro trimestre deste ano, depois de nove meses em que este indicador nunca passou dos 0,3%. É o melhor resultado numa UE que escapou à recessão
A economia portuguesa acelerou durante o primeiro trimestre deste ano, com um crescimento em cadeia de 1,6%, o mais forte desde o início do ano passado e o melhor desempenho entre os países da União Europeia que já apresentaram resultados.
De acordo com a estimativa rápida das contas nacionais publicada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB português aumentou, nos primeiros três meses deste ano, 1,6% face ao quarto trimestre do ano passado. A variação face ao período homólogo de 2022 foi de 2,5%.
O crescimento de 1,6% em cadeia representa uma aceleração significativa da economia face ao ritmo registado nos meses anteriores. Entre o segundo e o quarto trimestres de 2022, a economia portuguesa, embora mantendo sempre taxas de crescimento positivas, não conseguiu em nenhum momento apresentar uma variação trimestral em cadeia do PIB superior a 0,3%.
Agora, o arranque deste ano mostra a economia a crescer a um ritmo que se aproxima do resultado registado no início do ano passado, quando no primeiro trimestre de 2023 o PIB registou um aumento em cadeia de 2,3%, o mais forte em toda a União Europeia.
A variação homóloga do PIB diminuiu de 3,2% no quarto trimestre de 2022 para 2,5%, com este valor a ficar, contudo, acima dos valores projectados para o total do ano pela generalidade dos analistas. O Governo e o Banco de Portugal, por exemplo, estão a antever um crescimento de 1,8% da economia em 2023.
E o ritmo de crescimento agora registado fica acima daquilo que eram as expectativas para este início de ano. Na projecção do banco central para a economia portuguesa, por exemplo, assumia-se que o crescimento do PIB de 1,8% em 2023 aconteceria num cenário em que a variação do PIB em cadeia no primeiro trimestre seria de 0,4%, acelerando ligeiramente nos trimestres seguintes para 0,5% e 0,6%.
O valor mais forte que o INE acabou por revelar é um sinal de que a economia portuguesa pode, no total de 2023, vir a apresentar um número de crescimento mais favorável do que o esperado. Isso dependerá, contudo, da forma como a economia portuguesa, e em particular o consumo, irá reagir, nos próximos meses, à conjuntura de taxas de juro altas que se vive na zona euro.
O INE não dá ainda, nesta estimativa rápida, detalhes sobre a evolução das componentes do PIB no primeiro trimestre deste ano. Ainda assim, explica que a variação em cadeia registada na actividade económica se deveu, principalmente, à evolução positiva das exportações, num cenário em que a procura interna se encontra limitada. Na nota publicada esta sexta-feira, diz que a variação de 1,6% se deve ao “contributo positivo expressivo da procura externa líquida, em larga medida resultante do dinamismo das exportações, enquanto o contributo da procura interna passou a negativo”.
Zona euro e Alemanha escapam a recessão
O desempenho da economia portuguesa no arranque de 2023 também se destaca quando comparado com o dos seus parceiros da zona euro. Os números também publicados esta sexta-feira pelo Eurostat mostram que, entre os dez países da União Europeia (nove da zona euro, um fora da zona euro) que já publicaram dados para o primeiro trimestre, Portugal foi aquele que apresentou uma variação do PIB em cadeia mais elevada.
O crescimento de 1,6% registado em Portugal é seguido pelos 0,5% conseguido pela Espanha, Itália e Letónia. Já no que diz respeito à variação homóloga do PIB, Espanha e Irlanda, com 3,8% e 2,6% respectivamente, superam neste momento Portugal.
A economia europeia parece, de acordo com os dados até agora disponíveis, ter conseguido escapar mais uma vez a um cenário de recessão técnica (definida por dois trimestres consecutivos de variações em cadeia do PIB negativas), apesar da difícil conjuntura de escalada de preços e de taxas de juro a que estão sujeitas as famílias e empresas. A economia da zona euro terá, de acordo com a primeira estimativa do Eurostat, registado um crescimento em cadeia de 0,1% depois da estagnação que se tinha verificado no quarto trimestre de 2022. Na UE, a economia cresceu agora 0,3%, depois de no último trimestre do ano passado se ter retraído 0,1%.
Na Alemanha, onde muitos analistas estavam a apostar na confirmação de uma recessão técnica depois da contracção de 0,5% (uma revisão em baixa face à estimativa inicial) do quarto trimestre de 2022, o resultado acabou por superar as expectativas, com o PIB a apresentar uma variação nula que, pelo menos para já, evita, à tangente, a entrada oficial em recessão da maior economia europeia.