Os data centers podem ser um problema do ponto de vista ambiental?

Os especialistas estão preocupados com as elevadas quantidades de água e de energia consumidas por estes centros. Portugal tem dado passos significativos na promoção de data centers mais sustentáveis.

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O território português poderá tornar-se um lugar atractivo para data centers Benoit Tessier

A crescente necessidade de armazenamento de dados tem potenciado a construção de centros de armazenamento de dados, também chamados data centers. No entanto, o seu desenvolvimento tem gerado contestação do ponto de vista ambiental em algumas regiões, uma vez que precisam de elevadas quantidades de energia e água para funcionarem devidamente.

Em Mesa, no Arizona, os habitantes estão preocupados com o abastecimento de água local que se poderá agravar com a instalação de um novo data center por parte da Meta, dona do Facebook e do Instagram. A população e alguns especialistas protestaram contra esta ideia, num momento em que a região enfrenta um momento de seca intensa, avança o jornal The Washington Post.

Esta não foi a primeira vez que algo assim aconteceu. Já em 2022 a mesma empresa desistiu de construir um data center na cidade de Zeewolde, nos Países Baixos, depois de muita contestação por parte de activistas.

Qual é o problema dos data centers?

Os gigantescos servidores das empresas tecnológicas produzem muito calor, o que significa que podem sobreaquecer ou até incendiar-se se não for feito um arrefecimento adequado. Estas empresas tendem a recorrer a água para arrefecer os equipamentos, tendo em conta que é uma opção mais barata, face ao ar condicionado tradicional que é, naturalmente, mais caro e responsável pela emissão de gases com efeito de estufa. No entanto, esta hipótese implica a utilização de milhões de litros de água.

O investigador do Borderstep Institute for Innovation and Sustainability Ralph Hintemann diz, citado pelo Politico, que “muitas vezes há um conflito de interesses: se [um data center] usa mais água, precisa de menos energia e, se usa mais energia, precisa de menos água”. De acordo com um estudo realizado pela Virginia Tech, os data centers encontram-se entre os dez principais sectores de actividade que mais água consomem nos EUA.

Estes centros de dados tendem a estabelecer-se, nos EUA, em regiões onde a água é um recurso escasso — essencialmente no Sudoeste norte-americano —, porque a energia é mais barata e é conseguida com menos carbono, o que contribui para o cumprimento das metas climáticas das empresas.

Na União Europeia (UE), as discussões sobre possíveis soluções para reduzir a pegada ambiental destas empresas têm aumentado. Espera-se que o consumo dos data centers no espaço europeu aumente "de 2,7% das necessidades de electricidade em 2018 para 3,2% até 2030". O comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton, considera que "o volume global de dados vai continuar a crescer rapidamente". "É por isso que estamos a promover infra-estruturas adequadas para os serviços da cloud ecologicamente eficientes e data centers energeticamente eficientes. A Europa será o epicentro da tecnologia verde."

O bloco europeu publicou, este ano, um relatório denominado Directrizes de Melhores Práticas para o Código de Conduta da UE sobre Eficiência Energética nos Centros de Dados que visa sensibilizar os Estados-membros e as empresas para este problema. O documento sugere formas mais sustentáveis de obtenção de água para o arrefecimento dos servidores destes centros, como "captação e armazenamento de água da chuva" ou "uso de outras águas locais não utilitárias". A questão da água revelou-se importante, sobretudo depois de o continente europeu ter sido atingido, em 2022, pela maior seca dos últimos 500 anos. Portugal também teve em 2022 uma das secas mais graves desde que há registos.

Em Portugal...

O território português poderá tornar-se um lugar atractivo para grandes investimentos nesta área, uma vez que tem ligações de dados directas aos cinco continentes. Neste momento, existe um projecto em andamento liderado pela empresa Start Campus, que pretende construir, em Sines, um dos maiores centros de dados da Europa até 2027. O objectivo é usar exclusivamente energias e sistemas de refrigeração verdes e sustentáveis.

O data center da Altice, situado na Covilhã, é um exemplo nesse sentido: é alimentado através de energias oriundas de fontes renováveis; o sistema de refrigeração funciona utilizando ar do exterior e a água da chuva; e o calor produzido é usado para aquecer o edifício, de acordo com o responsável do Gabinete de Direitos Humanos, Sustentabilidade e Inclusão do Grupo Altice, José Maurício Costa.