Serviços secretos ucranianos garantem que a China não entregou “uma única bala” à Rússia

Chefe dos serviços de informação militares da Ucrânia diz que não há planos para a China fornecer armas aos russos num futuro próximo.

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Kirilo Budanov diz é possível recuperar todo o território perdido em 2023, incluindo a Crimeia Reuters/VALENTYN OGIRENKO

O chefe da unidade dos serviços secretos do Ministério da Defesa da Ucrânia garantiu esta segunda-feira que a República Popular da China não forneceu qualquer tipo de armamento à Rússia e que não existem planos para o fazer num futuro próximo.

“Até ao momento, a China não entregou uma única bala à Federação Russa”, afiançou o general Kirilo Budanov, numa entrevista à RBK-Ucrânia, citado pela Europa Press.

A garantia de Budanov acontece numa altura em que não param de crescer as suspeitas (e os avisos), dos Governos e dos serviços de informação dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, de que o executivo chinês pode vir a apoiar, mesmo que de forma não explícita, os esforços militares do Kremlin na Ucrânia.

Um dos documentos confidenciais do Pentágono que foram tornados públicos nos últimos dias – na fuga de informação que tem como suspeito Jack Teixeira – dá conta de supostas comunicações dos serviços de informação russos, interceptadas pelos EUA, que referem um alegado plano entre Moscovo e Pequim para o “fornecimento de ajuda letal” chinesa ao Exército russo, disfarçada de mercadoria civil.

Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, assegurou, no entanto, que a China “não vai fornecer armas às partes envolvidas no conflito e vai gerir e controlar as exportações de produtos de utilização dupla, de acordo com as suas leis e regulamentos”.

Esta “atitude prudente e responsável” chinesa, nas palavras do ministro, levantou, ainda assim, algumas sobrancelhas no Ocidente, principalmente porque, poucos dias depois, Serguei Shoigu e Li Shangfu, ministros da Defesa da Rússia e da China, respectivamente, incluíram o aumento da compra e da venda de armamento numa lista de objectivos que têm como fim a expansão e o reforço, para um “novo nível”, do seu relacionamento militar.

O Governo chinês recusa condenar a Rússia pela invasão do território ucraniano e tem vindo a reforçar os seus laços económicos, energéticos e militares com Moscovo desde o início da guerra.

Para além disso, não se cansa de enfatizar a “parceria sem limites” entre os dois países e a boa relação pessoal entre os “amigos” Xi Jinping e Vladimir Putin – que se encontraram, há cerca de um mês, em Moscovo.

O contributo chinês para o conflito é uma proposta de um plano de paz vago e genérico para lhe pôr cobro, que sublinha a necessidade de uma solução diplomática, e que é visto pelos EUA e pelos seus aliados como uma forma de legitimar as ambições e validar os objectivos territoriais do país invasor.

Nas declarações à RBK, Kirilo Budanov disse que os objectivos ucranianos de recuperar todos os territórios perdidos, incluindo a Crimeia – anexada pela Federação Russa em 2014 –, são “bastante alcançáveis” já este ano.

“Só há uma forma de pôr fim a esta guerra: recuperar as fronteiras, seja de que maneira for”, afirmou. “É impossível, pouco realista, terminar esta guerra sem resolvermos os problemas territoriais. A Ucrânia nunca cederá nenhuma parte dos seus territórios.”

A entrevista do chefe dos serviços secretos militares da Ucrânia foi publicada poucos dias depois de um tribunal de Moscovo ter emitido um mandado de captura em seu nome, por envolvimento em “ataques terroristas” na Rússia.

O Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB, ex-KGB) acusou Budanov de ter planeado a explosão na ponte que liga o território russo à península da Crimeia, em Outubro do ano passado, e de outros ataques dirigidos a infra-estruturas militares russas.

O FSB também responsabiliza os serviços secretos ucranianos pelos assassínios de Daria Dugina, filha de um conhecido ideólogo russo, em Agosto, e de Vladlen Tatarski, blogger pró-russo, no início deste mês.

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