“PSD tem vocabulário pouco institucional” e “distingue-se pouco do Chega”, diz Costa

Em entrevista à RTP sobre os 50 anos do PS, o líder socialista não poupa nas críticas ao PSD. Costa recusa falar sobre a comissão de inquérito à TAP e o parecer para a demissão da ex-CEO.

Foto
António Costa, primeiro-ministro LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

António Costa fez este domingo um ataque cerrado ao PSD, colando-o ao Chega de André Ventura. Em entrevista à RTP a propósito dos 50 anos do PS, o secretário-geral socialista e primeiro-ministro disse mesmo que "o PSD distingue-se pouco do Chega" e que os sociais-democratas têm agora muitas vezes "uma atitude, comportamento e vocabulário" que não é compatível com um partido "institucional" e de Governo.

Porquê? Por causa da influência do Chega. "O problema não é a dimensão do Chega em si, que já é significativa, mas o quanto o Chega condiciona e determina a acção política da direita política democrática" e deteriora o discurso político, lamentou.

A falta de postura institucional tem sido uma das críticas aos doze deputados do grupo parlamentar do Chega na Assembleia da República e António Costa pega precisamente nessa questão para atacar os sociais-democratas. Aliás, o secretário-geral socialista faz questão de realçar que Luís Montenegro, na entrevista que deu à TVI, há duas semanas, "não disse o que era necessário dizer: que não haverá nenhum acordo com o Chega" e que o líder social-democrata "quer manter uma situação equívoca" em relação ao partido de André Ventura.

Costa afirma mesmo que "diz muito" do PSD o facto de Montenegro sentir necessidade de esclarecer a sua relação com "partidos xenófobos e racistas" – "com o PS essa dúvida não existe", mas lamenta não ter ouvido Montenegro dizer "com o Chega, nada, nada, nada".

"Toda a postura política, o discurso que vai tendo sobre migrações ou o funcionamento das instituições, revela a preocupação de Luís Montenegro: que se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega", aponta Costa, numa alusão a que os sociais-democratas querem ir buscar votos a Ventura.

"Qual é a alternativa que [o PSD] propõe?"

Na senda da mensagem que procurou passar no discurso do aniversário do PS em Lisboa, de que o objectivo do partido é combater o populismo, Costa aproveitou para criticar o PSD por dizer que o “socialismo é pior do que o populismo”. "Há uma enorme degradação no debate político e no vocabulário que a direita vai usando", queixou-se. Para o líder socialista, o populismo "é mesmo a ameaça transversal ao conjunto da democracia (...) a pandemia política. É esse vírus que temos que conter e usar máscaras."

Sobre o presidente social-democrata Luís Montenegro, com quem já conversou sobre dossiers importantes como o do novo aeroporto de Lisboa, o também primeiro-ministro diz ser "muito adjectivo e pouco substantivo", numa referência ao barulho que o PSD fez nesta semana sobre a comissão de inquérito da TAP.

Acerca das críticas constantes do principal partido da oposição, Costa contrapõe: "Qual a alternativa do PSD? Prescinde ou não da TAP? O PSD teria deixado a TAP falir ou intervinha? Está de acordo com o processo de privatização? O PSD diz mal de tudo. Que alternativa propõe? Quais as políticas, o que o PSD tem a propor de diferente do PS para controlar a inflação, para resolver problema da TAP ou da inflação?"

Questionado sobre o caso da semana, o parecer (que afinal não existia) para a demissão dos administradores, António Costa recusou falar sobre ele e argumentou que não se deve intrometer no andamento dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito. "Devemos respeitar as competências próprias dos outros órgãos de soberania. Respondemos politicamente perante o Parlamento", que tem a "função fundamental de fiscalização do Governo".

"As comissões parlamentares de inquérito não são arma de arremesso político ou se são perdem a sua credibilidade (...) devem agir com imparcialidade e isenção", apontou, lembrando que foi o PS que viabilizou a da TAP, proposta pelo Bloco.

Pedro Nuno? "É um dos grandes quadros do PS"

Sobre a sua sucessão, Costa prometeu "nunca" interferir na escolha do nome, mas afirma que procura "identificar os melhores quadros do PS, mobilizá-los para a acção política, dar oportunidade para provarem as suas capacidades e que sejam tudo aquilo que desejem ser". E Pedro Nuno Santos? "É indiscutivelmente um dos grandes quadros políticos do PS", mesmo com a espada da TAP sobre a cabeça.

Sobre os "danos" políticos sofridos pelo ex-ministro, Costa defendeu que a "vida de um político vai sendo sucessivamente avaliada" e tem "momentos de sucesso, de insucesso, bons e negativos".

António Costa desvalorizou as polémicas em torno da eventual dissolução do Parlamento e as avaliações negativas nas sondagens, dizendo que estas têm muita gente que não responde. "Os portugueses não querem dissolução nenhuma; querem políticos que resolvam os problemas."

Notícia actualizada com mais declarações do primeiro-ministro na entrevista à RTP

Sugerir correcção
Ler 32 comentários