Finalistas do Prémio Booker Internacional compõem “lista de uma variedade notável”
Leïla Slimani, presidente do júri, qualifica os seis romances como “arrojados, subversivos, agradavelmente perversos”. Maryse Condé, Eva Baltasar ou Georgi Gospodinov estão entre os candidatos.
O Prémio Booker Internacional revelou esta terça-feira os seis romances finalistas para a sua edição de 2023, de autores provenientes de seis países, quatro continentes e duas línguas nunca antes presentes na “shortlist” do galardão — o catalão e o búlgaro.
Os finalistas são a catalã Eva Baltasar, com Boulder, o búlgaro Georgi Gospodinov, com Time Shelter, a mexicana Guadalupe Nettel por Still Born, a francesa Maryse Condé, com The Gospel According To The New World, o marfinense Armand Gbaka-Brédé (que assina como GauZ'), por Standing Heavy e o sul-coreano Cheon Myeong-kwan, com Whale. São candidatos a um prémio monetário no valor de 56.697 euros (50 mil libras) e o vencedor será conhecido a 23 de Maio. O prémio é dividido em partes iguais entre autor e tradutor.
A selecção foi feita por um júri presidido pela escritora Leïla Slimani e composto pelo escritor Tan Twan Eng, pela crítica Parul Sehgal da revista New Yorker, pelo editor literário do Financial Times, Frederick Studemann, e pelo tradutor Uilleam Blacker.
O anúncio dos nomes, feito esta terça-feira na Feira do Livro de Londres, foi acompanhado pela avaliação de Leïla Slimani dos candidatos ao importante prémio: “É uma lista de uma variedade notável”, obras “muito cool e muito sexy”, disse numa conferência de imprensa online.
“Queríamos que cada livro fosse como um espanto e se erguesse por si só.”
“Há algo de sorrateiro em todos eles”, disse ainda a romancista autora de O País dos Outros (2021). “Estes são livros muito sensuais e onde a questão do corpo é importante; o que é ser e ter um corpo, como se escreve sobre a experiência do corpo.”
Maryse Condé é a pessoa mais velha, aos 89 anos, nomeada para este galardão — distinto do Prémio Booker, sendo o seu braço internacional dedicado a encontrar a melhor obra de ficção internacional traduzida para inglês e publicada no Reino Unido ou Irlanda entre 1 de Maio de 2022 e 30 de Abril de 2023. Condé, talvez o nome mais conhecido desta lista de finalistas, tem editado em Portugal Eu, Tituba, Bruxa... Negra de Salem (ed. Maldoror, 2022) e em Maio será editado À Espera da Subida das Águas (ed. Quetzal).
Eva Baltasar tem traduzido para português Permafrost (ed. Kalandraka, 2021) e Guadalupe Nettel tem editado em Portugal O Corpo em que Nasci (ed. Teodolito, 2012). Cheon Myeong-kwan, Armand Gbaka-Brédé e Georgi Gospodinov não têm obra editada em Portugal.
Boulder, de Eva Baltasar, é descrito como “uma história vibrante do amor entre duas mulheres, explorando a sua relação com o corpo e com a sensualidade e o momento em que a harmonia do amor colapsa. É uma sumptuosa exploração do desejo, iluminada por imagens inventivas e espantosas”, diz o júri. Já sobre o sul-coreano Whale, o júri diz que “é difícil pensar num livro que tenha tido tanta abundância de imaginação”, uma “aventura numa montanha-russa através da história e cultura coreanas, um épico mágico e grotesco sobre vida e morte, liberdade e realização pessoal, peixe seco e tijolos”.
A obra nomeada de Maryse Condé é “um hino ao amor, à irmandade e à luta contra a desigualdade”, que vive num “equilíbrio único entre o estilo simples e sem adornos, uma forma clássica e a imensa ambição do seu tema”. GauZ’ escreve em Standing Heavy, o seu primeiro romance, sobre temas como o racismo e a cultura de consumo de forma “refrescante, por vezes brincalhona”, opina o júri.
Por fim, Time Shelter é avaliado como “inventivo, subversivo e morbidamente cómico” quando toca em temas como a identidade nacional, memória e nostalgia, e Still Born é uma abordagem com “uma força magnética” sobre temas complexos como a maternidade, o corpo, as escolhas em que a amizade entre duas mulheres, Alina e Laura, é “o coração do romance”.
Para trás ficaram os outros nomes que constavam da lista mais longa de finalistas: a norueguesa Vigdis Hjorth e Is Mother Dead; o ucraniano Andrei Kurkov por Jimi Hendrix Live in Lviv; o francês Laurent Mauvignier com The Birthday Party; o alemão Clemens Meyer por While We Were Dreaming; o indiano Perumal Murugan com Pyre; a sueca Amanda Svensson com A System So Magnificent It Is Blinding; e o autor chinês Zou Jingzhi com Ninth Building.
Em 2022, o romance vencedor do prémio foi Tomb of Sand, da indiana Geetanjali Shree, também indisponível em edição portuguesa.