Fotógrafo recusa receber prémio por imagem ser gerada por Inteligência Artificial

O artista queria entender se os concursos estão preparados para esta nova realidade. “Quantos de vocês sabiam ou suspeitavam que esta imagem tinha sido gerada com Inteligência Artificial?”, disse.

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Imagem produzida por tecnologia de IA ganha prémio de fotografia Boris Eldagsen

O fotógrafo alemão Boris Eldagsen concorreu, na categoria “criativa aberta”, aos prémios Sony World Photography Awards, com uma imagem gerada com Inteligência Artificial (IA). A imagem a preto e branco de duas mulheres de diferentes gerações foi premiada na semana passada, mas agora Eldagsen recusa receber o prémio.

No seu site, o artista revelou que participou no concurso para perceber se as competições de fotografia estavam preparadas para receber imagens geradas com IA e para iniciar um debate sobre “o que queremos ou não considerar fotografia”. "Será o espectro da fotografia suficientemente grande para permitir a entrada de imagens de Inteligência Artificial - ou isso seria um erro?", acrescentou.

“Quantos de vocês sabiam ou suspeitavam que esta imagem tinha sido gerada com Inteligência Artificial?”, questionou, dizendo que estes concursos não estão habilitados para esta nova realidade.

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Esta não é a primeira vez que uma imagem é gerada com a ajuda de Inteligência Artifical. Boris Eldagsen

O fotógrafo disse que esta foi a primeira vez que uma imagem concebida com IA venceu um prémio num concurso internacional de fotografia e que, por isso, é um "momento histórico". Eldagsen defende, no entanto, que as fotografias e as imagens desenvolvidas com a ajuda de IA "não devem competir entre si num prémio como este. São entidades diferentes. IA não é fotografia. Portanto, não vou aceitar o prémio".

De acordo com a BBC, um porta-voz da World Photography Organisation disse que esta categoria "recebe várias abordagens experimentais de criação de imagens" e que tendo em conta "as garantias que o artista deu, sentimos que a sua inscrição preenchia os critérios para esta categoria e apoiamos a sua participação". Revelou também que a organização estava disposta a iniciar um debate, porque reconhece "a importância deste assunto e o seu impacto na criação de imagens".

Não é a primeira vez que uma imagem é manipulada ou gerada com recurso a IA. Em 2015, a World Press Photo recuou também com a sua decisão, retirando o primeiro lugar ao fotógrafo italiano Giovanni Troilo, acusado de manipular as imagens com que participou no concurso. O prémio foi atribuído a Giulio Di Sturco que tinha ficado em segundo lugar na categoria "Histórias da vida quotidiana".

Também Jos Avery partilhou retratos de várias pessoas na sua conta de Instagram, captando a atenção de mais de 30 mil pessoas. No entanto, estes retratos, que os seguidores pensavam ser reais, eram gerados com recurso a um programa de Inteligência Artificial. Avery adicionou recentemente uma referência à IA na sua biografia e um aviso “ficcional” nas descrições das fotografias.

Esta situação acontece num momento em que muito se tem falado sobre as consequências da utilização da Inteligência Artificial. No final do mês de Março, vários especialistas e líderes da indústria tecnológica assinaram uma carta aberta com o objectivo de suspender o desenvolvimento de novos trabalhos no campo da IA. Esta decisão surgiu na sequência de um alerta do Serviço Europeu de Polícia sobre possíveis esquemas de desinformação e de criminalidade online que poderiam estar a ser desenvolvidos com o ChatGPT.

Recentemente, o presidente executivo do Google, Sundar Pichai, referiu que a tecnologia pode ser "muito prejudicial" se não for aplicada correctamente.

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