Cientistas portugueses vão fazer amaciador de cabelo com plantas invasoras

Produto desenvolvido pela Universidade de Coimbra pode ter um “elevado impacto” possibilitando a “substituição de compostos produzidos a partir de matérias-primas não renováveis, como o petróleo”.

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Amaciador de cabelo "amigo do ambiente" será feito a partir de resíduos agroflorestais e de espécies invasoras GettyImages

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver um amaciador de cabelo "amigo do ambiente" que é feito a partir de resíduos agroflorestais e de espécies invasoras, anunciou esta quarta-feira aquela instituição de ensino superior em comunicado de imprensa.

O interesse dos consumidores por produtos "mais amigos do ambiente é cada vez maior" e, consequentemente, a indústria está a "investir em produções e métodos mais sustentáveis", argumenta a equipa de cientistas do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

O projecto, denominado "Lignin for hair", visa "preparar novos derivados catiónicos da lignina [uma macromolécula encontrada nas plantas terrestres] para serem usados como amaciadores nos produtos capilares e, assim, constituírem uma melhor alternativa aos agentes tradicionais", disse, citado na nota de imprensa, o investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) do DEQ, Luís Alves.

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Equipa do projecto, com os investigadores (da esquerda para a direita) Solange Magalhães Carla Varela Graça Rasteiro Catarina Fernandes e Luís Alves DR

Avanços positivos

A lignina será obtida por extracção de materiais lignocelulósicos por via de procedimentos ambientalmente "mais eficientes e sustentáveis". De acordo com o cientista, a lignina é o segundo polímero mais abundante em materiais lignocelulósicos, como a madeira, e serve como "cola" de todos os constituintes desses materiais. O projecto, apesar de se encontrar numa fase inicial, já apresenta alguns "avanços positivos".

"Já temos resultados relacionados com o processo de fraccionamento com recurso a solventes de origem sustentável, baseado no conceito de economia circular uma vez que um deles é obtido a partir da madeira", avança a equipa do DEQ, na mesma nota. Para chegar ao produto final será necessário "extrair e caracterizar a lignina a partir de resíduos agro-florestais ou de espécies invasoras explorando solventes com componentes de origem natural".

Numa segunda fase, a lignina extraída será "quimicamente modificada, de modo a interagir com as fibras capilares e promover o efeito de condicionador. Nesta modificação também serão priorizadas metodologias sustentáveis", descrevem os cientistas. Já a terceira fase será dedicada à "avaliação da eficácia" do produto.

Os investigadores acreditam que esta solução poderá ter um "elevado impacto na indústria do cuidado capilar" e no ambiente, já que vai possibilitar a "substituição de compostos produzidos a partir de matérias-primas não renováveis, como o petróleo, e outras obtidas a partir de matérias-primas necessárias na alimentação humana e animal, como o óleo palma".

O projecto "Lignin for hair", que terá a duração de 18 meses, é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e conta com a participação de investigadores do DEQ e da Universidade do Algarve.