Perfil das crianças de rua mudou: delinquência é agora o motivo principal

No último ano, o Projecto Rua acompanhou cerca de 80 adolescentes e jovens. Média de idades baixou para os 13/14 anos.

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Idade média dos adolescentes associados a gangues é agora mais baixa Paulo Pimenta

O perfil das crianças em situação de rua mudou e está hoje muito mais relacionado com a delinquência juvenil, em vez da pobreza e falta de acompanhamento familiar. O diagnóstico foi feito pela coordenadora do Projecto Rua do Instituto de Apoio à Criança (IAC), Matilde Sirgado, à TSF, neste que é o Dia Internacional das Crianças de Rua.

Ressalvando que o relatório do último ano ainda está a ser fechado, a responsável afirmou que nesse período foram acompanhados cerca de 80 adolescentes e jovens, pelo projecto que nasceu há mais de três décadas e se centra, sobretudo, na Área Metropolitana de Lisboa. A realidade, diz, é hoje diferente do que era no passado.

“Temos uma tendência diferente do que foi o início do Projecto Rua”, disse Matilde Sirgado à TSF. O fenómeno das crianças em situação de rua “já não está associado à pobreza económica, da criança desprovida de acompanhamento familiar”, mas “mais ligado à delinquência juvenil, a grupos de adolescentes e jovens que se associam na rua e que estão em ociosidade, sem ocupação, sem um projecto de vida associado”.

Um fenómeno, referiu à emissora, que já foi motivo de alerta por parte das Nações Unidas, a que Portugal não foge. “No diagnóstico que fazemos da cidade de Lisboa verificamos que existem menos crianças em situação de rua em sentido clássico, mas um aumento gradual de jovens com comportamentos ilícitos no contexto da cidade”, exemplificou.

E aqui cabem também as chamadas “crianças desaparecidas”, estando, sobretudo em causa, situações de fuga dos menores. No patrulhamento “permanente” que o projecto faz em Lisboa, nas zonas consideradas mais críticas, são sobretudo casos como estes que têm sido detectados. “Adolescentes e jovens que fazem ruptura com o contexto familiar e a fazer fugas”, precisou.

Uma realidade que não pode ser dissociada de outra evolução, para a qual as autoridades já têm alertado, insistiu a responsável do Projecto Rua: o de envolvimento de jovens em gangues e da marginalidade e criminalidade que lhe está associada. E também aqui há outro sinal alarmante a ter em conta, já que a faixa etária associada a estes fenómenos está a baixar. Já não se fala numa média de idades entre os 16 e os 17 anos, mas antes entre os 13 e os 14, disse Matilde Sirgado à TSF.

A responsável lembrou que muitos destes jovens podem, numa primeira fase, ser “vítimas da família, da sociedade, das instituições”, mas que se nada for feito e não houver o apoio adequado, “a curto prazo podem passar a agressores”.

Por isso, a implementação de medidas preventivas, muito voltadas para a educação e para a criação de um projecto de vida alternativo é essencial. Espaços como a escola de segunda oportunidade (o IAC abriu uma em Lisboa) podem ser, para estes jovens, “a última [oportunidade], antes de engrossarem o sistema judicial”.

Embora considere que o número de menores em situação de rua não seja “alarmista”, havendo até uma “estabilização”, a especialista em política social insiste que é preciso intervir junto de quem precisa. “O mais importante é a elaboração e implementação de medidas e políticas mais preventivas, ligadas à educação e às ligações afectivas”. Por aqui passam programas de treino, educativos, sócio-culturais, que permitam que os mais vulneráveis “sejam ocupados de forma saudável e consigam perceber que há alternativas à marginalidade”, diz.

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