Departamento de Justiça dos EUA vai investigar fuga de informações confidenciais
Responsáveis governamentais norte-americanos acreditam que o Kremlin ou grupos pró-russos estão por trás da divulgação dos documentos.
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Há mais dúvidas do que respostas acerca da fuga de uma enorme quantidade de documentos confidenciais aparentemente provenientes dos serviços secretos norte-americanos. Washington acredita que por trás do roubo e divulgação das informações está a Rússia e o Departamento de Justiça abriu uma investigação.
Apesar de estarem espalhados pela Internet há várias semanas, foi nos últimos dias que foram detectadas centenas de documentos confidenciais dos Estados Unidos a serem partilhados livremente nas redes sociais. As informações difundidas revelam pormenores acerca das capacidades do Exército ucraniano e o estado das forças russas, incluindo uma estimativa de baixas, e até discussões com aliados de Washington.
A tese das autoridades norte-americanas é a de que a fuga de informações é da responsabilidade do Governo russo ou, pelo menos, de grupos próximos do Kremlin, de acordo com três fontes, citadas pela Reuters sob anonimato. Não houve qualquer declaração formal por parte da embaixada russa em Washington.
Um dos indícios que levam a crer na responsabilidade russa pela divulgação dos documentos é a alteração de um dos relatórios que dão conta de um número consideravelmente mais baixo de militares russos mortos na Ucrânia do que aquelas que têm sido as estimativas avançadas pelo Pentágono. Um dos documentos dizia que os EUA calculavam que tenham morrido entre 16 mil e 17500 soldados russos desde o início da invasão, mas o número que tem sido avançado ronda os 200 mil.
As fontes citadas pela Reuters dizem que estas avaliações são preliminares e independentes da investigação que está em curso.
Porém, alguns especialistas duvidam que o Governo russo abrisse mão tão facilmente deste tipo de informações, caso as tivesse obtido. “É muito improvável que a Rússia comprometesse uma fonte tão importante para obter uma vitória de desinformação tão pequena”, disse à CNN Jim Sullivan, o ex-director de cibersegurança da Agência de Inteligência de Defesa.
Aquilo que tem circulado pelas redes sociais são fotografias tiradas a documentos oficiais, embora ainda não haja uma confirmação de que possam ter sido alterados, como aparentemente aconteceu com a informação sobre as baixas russas. Desde o início de Março que estas imagens estavam a ser partilhadas pelo Discord, um programa de mensagens instantâneas popular entre jogadores de videojogos, mas só quando começaram a circular pelo Telegram, no final da semana passada é que chamaram a atenção.
Um dos documentos que geraram mais preocupação detalha as condições das forças ucranianas na frente de batalha em Bakhmut no final de Fevereiro. Para além de alertar para a enorme escassez de munições, o Pentágono dizia que a capacidade ucraniana para proteger a linha da frente de ataques aéreos “será totalmente reduzida até 23 de Maio”.
O Governo ucraniano desvalorizou os relatos divulgados, aludindo à existência de muita “informação fictícia” nos documentos vazados.
A fuga de informações também contém vários relatórios acerca da influência e capacidade do Grupo Wagner como uma unidade com ampla autonomia e maior robustez operacional quando comparada com o resto do Exército russo. Outros documentos mostram como o grupo de segurança privado negociou a compra de armamento na Turquia, um Estado-membro da NATO, e como pretende estender as suas actividades ao Haiti, depois de ter conseguido uma presença forte em África.
Entre as informações contidas nos documentos estão ainda os planos russos para conceder incentivos salariais aos militares que conseguirem destruir os tanques enviados pela NATO para a Ucrânia. As chefias militares russas também pretendem divulgar vídeos que sejam gravados com a destruição desses tanques que começaram a chegar à Ucrânia nas últimas semanas e que Kiev considera fundamentais para conter os avanços inimigos.
Este domingo, o Governo israelita viu-se obrigado a emitir um comunicado para desmentir alegações presentes noutro dos documentos difundidos nas redes sociais sobre o alegado apoio da Mossad, os serviços secretos israelitas, às manifestações antigovernamentais dos últimos meses.
“Nem a Mossad nem os seus dirigentes mais graduados encorajam, ou alguma vez encorajaram, os funcionários da agência para participarem em manifestações contra o Governo, manifestações políticas ou qualquer tipo de actividade política”, afirmou o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.