Polícia da Irlanda do Norte receia actos de violência durante a Páscoa

A aproximação do 25.º aniversário do Acordo de Sexta-Feira Santa, que pôs fim ao conflito entre republicanos e unionistas, tem feito aumentar a tensão no território.

Foto
Residentes de Belfast celebram o aniversário do Acordo de Sexta-Feira Santa EPA/MARK MARLOW

A polícia da Irlanda do Norte avisou para a possibilidade de actos de violência por parte de militantes republicanos dissidentes durante o fim-de-semana de Páscoa que coincide com o 25.º aniversário do Acordo de Sexta-Feira Santa.

As autoridades policiais dizem ter recebido relatórios de alta fiabilidade que apresentam indícios de que estão a ser planeados ataques contra as forças de segurança ao longo dos próximos dias, para além de haver possibilidade de confrontos na cidade de Londonderry, próxima da fronteira com a República da Irlanda.

O Serviço de Polícia da Irlanda do Norte (PSNI, na sigla original) disse ter alterado temporariamente a distribuição das folgas e férias dos agentes para poder garantir um maior policiamento durante o fim-de-semana.

Há “uma preocupação real de que possa haver tentativas para atrair a polícia para [actos] graves de desordem pública e para os usar como plataforma para lançar ataques terroristas contra a polícia”, disse o chefe-adjunto do PSNI, Bobby Singleton, numa conferência de imprensa esta sexta-feira.

A tensão na Irlanda do Norte entre republicanos e unionistas tem crescido nos últimos tempos. Na semana passada, o nível de ameaça terrorista foi elevado para “grave” na Irlanda do Norte, tendo por base a avaliação dos serviços de inteligência internos britânicos, o MI5.

A visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à Irlanda do Norte na próxima semana também tem sido encarada como um factor adicional de preocupação. Biden visita o território para assinalar o aniversário do acordo de paz.

A tentativa de homicídio de um inspector-chefe do PSNI, John Caldwell, em Fevereiro, é um dos acontecimentos que tem feito aumentar os receios de que a violência política possa estar de regresso à Irlanda do Norte. Caldwell, responsável por várias investigações a grupos terroristas no território, foi baleado por membros do Novo IRA, uma facção do Exército Republicano Irlandês (IRA) que recusa os termos do acordo de paz de 1998 e defende o recurso a métodos violentos para alcançar a reunificação com a República da Irlanda.

A polícia acredita que a aproximação do 25.º aniversário do Acordo de Sexta-Feira Santa, assinado a 10 de Abril de 1998, pode servir de combustível para inflamar ainda mais os ânimos. O aniversário é na segunda-feira, mas pela sua associação com o feriado as autoridades pensam que os actos de violência podem desenrolar-se já esta sexta-feira.

O período de turbulência coincide com um momento delicado na política interna da Irlanda do Norte, que está há mais de um ano sem um governo e parlamento em funções por causa da recusa do Partido Unionista Democrático (DUP) em aceitar os termos do protocolo que rege o sistema aduaneiro irlandês à luz do “Brexit”.

Em Março, o Parlamento britânico aprovou uma moção do Governo de Rishi Sunak que vem resolver algumas das discórdias em torno do protocolo norte-irlandês e pode abrir caminho a uma solução política.

O sistema de partilha do poder entre os unionistas e os nacionalistas é uma das pedras basilares do Acordo de Sexta-Feira Santa e o impasse político entre as duas facções é visto com apreensão.

No entanto, o líder do DUP, Jeffrey Donaldson, rejeitou a ideia de que a ausência de um governo em Belfast seja a causa para o reacendimento da violência sectária. “A ideia de que homens e mulheres más que saem da casa para cometer homicídios em reacção às circunstâncias políticas simplesmente não me convence”, afirmou o dirigente em entrevista à BBC, realçando a unidade entre as várias forças políticas na condenação da tentativa de homicídio de Caldwell.

Sugerir correcção
Comentar