Santana Lopes: Marcelo “não pode deixar de estar a ponderar” a dissolução do Parlamento
O antigo líder do PSD e actual autarca na Figueira da Foz diz, em entrevista ao PÚBLICO, que na actual governação se chegou a um ponto de “degradação” que considera ser “completamente inaceitável”.
Pedro Santana Lopes, que no final de 2004 foi apeado do poder devido à decisão de Jorge Sampaio dissolver o Parlamento para conter os "episódios" do então Governo PSD/CDS, considera que o actual Presidente da República "não pode deixar de estar a ponderar" avançar com a dissolução da Assembleia da República (AR) tendo em conta o nível de "degradação" da governação socialista.
Em entrevista ao Interesse Público, a que assistir no site do PÚBLICO, o antigo líder do PSD e antigo primeiro-ministro afirma que "com António Costa, a maioria absoluta só tem trazido momentos extremamente desagradáveis para o sistema político, para a estabilidade e para o progresso que o país precisa. Portanto, eu penso que o Presidente não pode deixar de estar a ponderar [dissolver o Parlamento], porque deixar as coisas como elas estão, continuar assim como se não fosse nada, aí entramos num plano já de degradação grave do sistema".
O actual presidente da Câmara da Figueira da Foz respondia à pergunta se "este sim, é um caso para a dissolução, para o Presidente usar a bomba que utilizou a seguir ao chumbo do Orçamento", tendo a jornalista Ana Sá Lopes enquadrado a questão com o contexto decorrente das audições realizadas na comissão de inquérito parlamentar à gestão da TAP em que se soube que o Governo sugeriu a mudança de um voo da operadora aérea para o Governo não poder o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa. E ainda que um ex-secretário de Estado do executivo socialista participou na redacção de um esclarecimento da empresa ao Governo.
No entender de Santana Lopes, vive-se hoje no país um "caso singular, sem dúvida nenhuma, de degradação do funcionamento das instituições”. “Nos assuntos que são relacionados com o Governo, mas também do Parlamento”, declarou, considerando que em relação à TAP "o que se passou é grave de mais”.
“Com toda a consideração pelo primeiro-ministro, estamos a falar de factos objectivos, a responsabilidade passou a ser dele, cada vez mais”, prosseguiu Santana Lopes, considerando que "a degradação chegou ao ponto de revelar uma osmose, uma promiscuidade, um conúbio, entre o Estado, o Governo e a gestão de empresas com capitais públicos que é completamente inaceitável”. “Nunca vi nada assim” no historial dos governos democráticos em Portugal, atirou.