Gravação ao vivo inédita de João Gilberto publicada pelo Sesc São Paulo

Concerto de João Gilberto em 1998 começa a ser disponibilizado pelo Sesc São Paulo, em exclusivo e gratuitamente. Dia 26 de Abril será lançado nas plataformas digitais e em CD.

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João Gilberto DR

O anúncio foi feito pelo Sesc (Serviço Social do Comércio) de São Paulo: a partir desta quarta-feira, começam a ser disponibilizadas na plataforma Sesc Digital 36 faixas de um álbum com a gravação inédita de um concerto que João Gilberto deu no Sesc Vila Mariana em 1998. São, no total, 36 faixas, muitas conhecidas do grande público (O pato, Doralice, Carinhoso, Wave) e uma até aqui nunca gravada, Rei sem coroa, de Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição.

O lançamento do álbum, João Gilberto (ao vivo no Sesc 1998), inaugura um novo projecto do Selo Sesc, intitulado Relicário, no qual esta instituição paulista se propõe recuperar e editar gravações áudio de espectáculos históricos “realizados em unidades do Sesc em São Paulo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, remasterizados e formatados como álbuns digitais”. Neste projecto serão também fornecidos dados como o contexto histórico de cada registo, textos, vídeos, fotografias e material iconográfico tais como folhetos, cartazes ou notícias publicadas na época, a que o público terá acesso de forma gratuita no site https://relicario.sescsp.org.br/​.

O concerto que agora se divulgará na íntegra, num total de quase duas horas de música e em álbum duplo, ocorreu num momento em que João Gilberto se encontrava em digressão para celebrar os 40 anos da bossa nova, com vários palcos na agenda: Salvador da Bahia, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Maceió. A São Paulo, couberam três dias de apresentações, a última das quais, em 5 de Abril de 1998, serviu de base ao disco que está agora a ser lançado.

O concerto ocorreu no Sesc Vila Mariana, inaugurado em Dezembro de 1997, sendo, diz-se no comunicado do Sesc, João Gilberto “um dos primeiros grandes nomes” a pisar aquele novo palco. “Conhecido por seu perfeccionismo, na época João fez apenas quatro pedidos para a realização do show: um banco para piano, um tapete persa, uma mesa para violão e a acústica perfeita — esse último item foi colocado à prova durante a apresentação, mas o bom-humor do músico e a qualidade da gravação confirmaram o sucesso do novo espaço para apresentações.”

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A capa do disco, para a qual o artista visual Speto fez uma versão do mural que pintara em 2020, em São Paulo DR/DANIEL FRIAS

O primeiro passo para transformar a gravação do concerto num álbum, explica-se ainda, foi dado em 2018, quando no sector de Acervo Audiovisual do Sesc se iniciaram as acções para resgatar o som da gravação original, feita em DAT, e posteriormente remasterizada. Este trabalho foi feito com supervisão artística da cantora Bebel Gilberto, filha de João. A capa do disco reproduz uma pintura mural que o artista visual Speto realizou em 2020, homenageando o cantor, na fachada de um edifício de Avenida Senador Queirós, perto do Mercado Municipal, em São Paulo. A versão gráfica para o disco foi feita pelo próprio Speto, a convite do Sesc.

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, nascido em Juazeiro, no estado brasileiro da Bahia, a 10 de Junho de 1931, é considerado o fundador legítimo da bossa nova, já que a sua batida de violão, à data revolucionária e inconfundível, esteve na origem da eclosão do movimento. Essa batida, juntamente com a música de António Carlos Jobim e a poesia de Vinicius de Moraes deram forma e cor àquilo que por todo o mundo ainda hoje é conhece como bossa nova. Chega de Saudade, single lançado por João Gilberto em 1958, é um disso um marco definitivo.

Chega de Saudade, o single (o álbum só sairia em Março de 1959) completa agora 65 anos. João Gilberto morreu em 6 de Julho de 2019, mas a sua obra perdura. Em Junho de 2021, o Instituto Moreira Salles disponibilizou online 36 canções (20 delas inéditas), que João Gilberto havia gravado entre 1959 e 1960, ainda no início da sua carreira, em casa de Carlos Coqueijo Costa (1924-1988), seu amigo, jurista, músico e cronista, em São Salvador. Foi a viúva de Coqueijo, Aydil, que as passou para cassetes e mais tarde as mandou digitalizar, dando uma cópia à investigadora Edinha Diniz, que cedeu os ficheiros áudio à Rádio Batuta, do IMS.

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