Administração da Lusa não contactou trabalhadores desde o início da greve
Adesão dos jornalistas da Lusa à greve está “muito perto dos 100%”. Representantes dos trabalhadores entregaram reivindicações a Marcelo e a António Costa.
Os trabalhadores da Lusa, em greve desde a meia-noite de quinta-feira, entregaram esta manhã uma carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa, no final de uma visita conjunta à Universidade de Aveiro. Concentram-se nesta sexta-feira junto à residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, num momento em que a adesão dos jornalistas à greve está “muito perto dos 100%”.
Ao PÚBLICO, Simão Freitas, jornalista da Lusa e dirigente do Sindicato dos Jornalistas, afirma que, desde o início da paralisação, os representantes dos trabalhadores ainda não foram contactados pela administração da Lusa.
Nas cartas entregues aos governantes portugueses, os trabalhadores reivindicam “menos de dez euros por cada um dos últimos 12 anos sem aumentos salariais reais”. Um valor já abaixo de uma primeira proposta de 120 euros, recusada pela administração.
“Mais de uma década sem aumentos salariais reais e a incapacidade de a administração fazer uma proposta aceitável levaram-nos a ter de fazer greve, num contexto económico e social peculiarmente desafiante”, lê-se no documento.
“Os trabalhadores estão cansados de ser desrespeitados”, diz Simão Freitas, apontando uma das razões para a “adesão em massa, acima dos 90%”, à greve. “Tivemos uma reunião com a administração na segunda-feira e aí foi-nos apresentada uma contraproposta de 74 euros” — mais de metade do valor de 35 euros inicialmente proposto pela empresa.
Na terça-feira, os dirigentes sindicais baixaram o pedido para os 100 euros, mas desde então não tiveram respostas. Caso esse valor fosse aceite, garante Simão Freitas, a greve terminaria de imediato. Se, pelo contrário, esta interrupção de quatro dias não fizer avançar as negociações, não está excluída a hipótese de ser convocada nova greve.
O Bloco de Esquerda levou nesta sexta-feira ao Parlamento uma proposta de reforço do orçamento da Lusa, como garantia do aumento salarial dos trabalhadores, “em linha com a inflação acumulada para os anos de 2022 e 2023”. O projecto de resolução foi chumbado com o voto contra do PS. A favor votaram o PSD, Chega, PCP, PAN e Livre. A Iniciativa Liberal absteve-se.
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