Maioria dos portugueses aceita limites no consumo de carne pelo ambiente

Mais de 80% dos portugueses aceitariam que o Governo aplicasse medidas mais rígidas para encorajar mudanças no comportamento, indica Estudo do Banco Europeu de Investimento.

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População portuguesa está cada vez mais disponível para compras sustentáveis Boxed Water Is Better/Unsplash

Quatro em cada cinco pessoas inquiridas na União Europeia afirma sentir os efeitos das alterações climáticas no seu dia-a-dia, mas 87% dos respondentes sentem que os governos estão a ser demasiado lentos a tomar medidas para combater as alterações climáticas. Os números constam de um estudo do Banco Europeu de Investimento que mostra ainda que um em cada cinco jovens portugueses com menos de 30 anos tem no topo das suas preocupações, ao procurar trabalho, a sustentabilidade ambiental do futuro empregador. E também conclui que 84% dos portugueses aceitariam que o Governo aplicasse medidas mais rígidas para encorajar mudanças no comportamento.

O inquérito mostrou que dois terços dos europeus acreditam que a transição ecológica é o melhor caminho para combater a crise exacerbada pela guerra na Ucrânia. Em termos gerais, 86% dos portugueses acreditam que o comportamento individual pode fazer a diferença para combater a emergência climática (e, neste caso, estamos bem mais convencidos do que a média europeia, de 72%).

Uma das percentagens mais esmagadoras do relatório é a de que 84% dos portugueses aceitariam que o Governo aplicasse medidas mais rígidas para encorajar mudanças no comportamento. A nível europeu, apenas 66% da população prefere este tipo de medidas (72% nas camadas mais jovens).

“Créditos” para limitar carne e lacticínios

Uma das medidas mais consensuais é indicar a pegada ambiental nos rótulos de todos os produtos alimentares, uma medida apoiada por 90% dos portugueses (84% em Espanha e 83% em França). Esta medida poderia ter um grande impacto, tendo em conta que o sector alimentar engloba as emissões da agricultura, pecuária, transporte e processamento dos produtos.

Dois terços da população (68%) são favoráveis à aplicação de um sistema de “orçamento de carbono” sobre consumo com impacto ambiental, que atribuísse um limite de créditos para a compra, por exemplo, de bens não essenciais, voos ou mesmo carne (sim, carne).

Mais de metade (57%) dos portugueses aceitaria uma limitação à quantidade de carne e produtos lácteos que cada pessoa poderia comprar, tendo em conta que reduzir o consumo destes produtos de origem animal é uma forma eficaz de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa. Neste ponto, os italianos são ainda mais firmes (68% apoiariam esta medida), mas os espanhóis menos (50%).

E são as pessoas com menos rendimentos que apoiam mais esta ideia de “créditos de carbono” para limitar o consumo: 71% das pessoas com “baixo rendimento”, 69% das que têm um rendimento médio, e 66% das pessoas com “maior rendimento”. Aliás, em geral, 67% dos portugueses dizem estar dispostos a pagar um pouco mais por alimentos com menor pegada ambiental, ou seja, produzidos localmente e de forma sustentável.

À procura de uma empresa ambientalmente responsável

Um dos números mais expressivos do Inquérito sobre o Clima 2022-2023 tem que ver com os mais jovens: 80% dos portugueses entre 20 e 29 anos afirmam que a estratégia de sustentabilidade de potenciais empregadores é um factor importante na procura de trabalho – e, para 22% dos jovens, está mesmo no topo das prioridades. Assim, um em cada cinco jovens portugueses com menos de 30 anos tem no topo das suas preocupações, ao procurar trabalho, a sustentabilidade ambiental do futuro empregador.

Alargando os números a todas as idades, as mudanças são pequenas (75% dão importância a isso, e 20% têm-no no topo das suas prioridades), assim como quando se desagrega pelos níveis de rendimento desmontando o mito de que esta é uma preocupação apenas de quem tem mais rendimentos.

Este estudo encomendado pelo Banco Europeu de Investimento foi levado a cabo pela empresa BVA, que ouviu mais de 28 mil pessoas (mil respondentes em Portugal) em Agosto do ano passado. É a quinta vez que o BEI leva a cabo este inquérito, que recolhe dados que permitem perceber as expectativas dos cidadãos em relação à acção climática de Estados e empresas.