PSD acusa Governo de ser “forreta nos apoios” e BE diz que medidas vêm “muito tarde”

Luís Montenegro considera também que o executivo socialista é “guloso nos impostos”. Catarina Martins critica equipa liderada por António Costa “por recusar agir durante tanto tempo”.

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Governo aprovou um pacote de medidas anticrise LUSA/ANTÓNIO COTRIM

No dia seguinte à apresentação de um pacote de medidas para reduzir o impacto do agravamento do custo de vida causado pela inflação e pela subida dos juros, os partidos da oposição mantêm a mira apontada às decisões anunciadas na sexta-feira pelo Governo. O presidente do PSD considera os apoios anunciados insuficientes e a coordenadora do Bloco de Esquerda insiste na ideia de que o executivo socialista tardou demasiado em agir.

Luís Montenegro criticou neste sábado o Governo por ser "muito forreta nos apoios sociais" e exortou a comunidade portuguesa a viver no Luxemburgo a ajudar a captar investimento para Portugal.

"Como sabem, nós vivemos um tempo em que Portugal está a empobrecer com as políticas socialistas. Temos um Governo guloso nos impostos, mas muito forreta nos apoios sociais. Temos de mudar isso", sustentou Montenegro, durante uma intervenção no congresso do Partido Popular Social Cristão (CSV), em Ettelbruck, no Luxemburgo, onde os portugueses são a maior comunidade estrangeira. Em 2021, havia mais de 93.000 cidadãos portugueses no país, o que representa cerca de 30% da população total.

Também Catarina Martins reagiu ao pacote de medidas anticrise do Governo. A líder bloquista considerou que as medidas anunciadas na véspera pelo Governo para mitigar a inflação chegam "muito tarde", quando as pessoas "já estão desesperadas", e lamentou que não sejam para todos.

"Ficámos a saber várias coisas. Em primeiro lugar, que sempre houve capacidade orçamental para se fazer muito mais pelos salários e pelo apoio às famílias em Portugal e o Governo não fez mais porque não quis. E é por isso que temos hoje mais pessoas em situação vulnerável do que tínhamos. Temos três milhões de pessoas em situação vulnerável", salientou Catarina Martins.

A líder do BE acrescentou que o executivo, "por recusar agir durante tanto tempo", fez com que "mesmo aqueles trabalhadores a quem o Governo diz que, eventualmente, fará um pequenino aumento de salário" já tenham perdido um mês de salário devido à inflação actual.

"Ou seja, o Governo chega tarde, muito tarde, já quando as pessoas estão muito desesperadas", considerou Catarina Martins, em declarações aos jornalistas, no Mercado dos Lavradores, no Funchal, no âmbito de uma iniciativa política que contou com a presença do cabeça-de-lista do BE às próximas eleições regionais na Madeira, Roberto Almada. A crítica de que estas medidas chegam tarde foi partilhada, ainda na sexta-feira, pela generalidade dos partidos da oposição.

A líder bloquista apontou que "há pessoas que, tendo a vida muito difícil, ficam completamente fora dos apoios que são agora anunciados" e defendeu o aumento de salários. "O que é preciso fazer é aumentar salários, sim, mas aumentar salários em linha com a inflação para as pessoas não continuarem a perder poder de compra. E não só para algumas, é preciso uma política que consiga esse aumento de salários e de pensões", declarou.

Quanto à redução de IVA para 0% nos alimentos essenciais, Catarina Martins deixou uma advertência: "O Governo está muito esperançado de que, cortando o IVA de um pacote de produtos, que ainda não sabemos o que é, vai resolver o problema, mas, como o próprio Governo reconhecia ainda há pouco tempo, cortar o IVA sem controlo de preços faz com que a grande distribuição possa incorporar isso nos preços, ou seja, pormos os contribuintes a darem mais lucros à grande distribuição, e a grande distribuição tem tido lucros de milhões."

Ainda na sexta-feira, no Luxemburgo, Luís Montenegro também apontou o dedo à mudança de posição do Governo. "Há poucos dias o ministro das Finanças afastava a possibilidade de baixar o IVA dos produtos alimentares, na quarta-feira o primeiro-ministro vai ao Parlamento e afirma que está a estudar essa possibilidade e na sexta-feira [o Governo] apresenta um PowerPoint, mas ainda não se sabe qual é o desenho final dessa descida [...]. Estamos perante um Governo insensível, relapso, inconsistente e incoerente."