Quatro anos depois, Marcelo deixa de agitar bandeira do fim das propinas
Em 2019, Presidente dizia que fim das propinas seria “dar um passo para terminar um drama”. Agora diz que “mexer nas propinas pode ter o problema das instituições que têm aí uma receita própria”.
Volvidos pouco mais de quatro anos, Marcelo Rebelo de Sousa deixou de ser favorável ao fim das propinas no ensino superior, considerando agora que mexer nas mesmas "pode ter o problema das instituições que têm aí uma receita própria e ficam de repente sem a receita".
Em Janeiro de 2019, o Presidente da República aproximou-se da posição na altura defendida por três então governantes – Pedro Nuno Santos (secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares), Manuel Heitor (ministro do Ensino Superior) e Alexandra Leitão (secretária de Estado da Educação), que já não exercem funções executivas –, considerando que o fim das propinas seria "um passo muito importante no domínio do financiamento do ensino superior".
"Porque isso significa dar um passo para terminar o que é um drama, que é o número elevadíssimo de alunos que terminam o ensino secundário e não têm dinheiro para o ensino superior, porque as famílias não têm condições, portanto, têm de trabalhar, não podem permitir-se aceder ao ensino superior", acrescentava.
Já esta sexta-feira, o PÚBLICO noticiou em primeira mão um manifesto pelo fim das propinas que junta o ex-ministro Manuel Heitor a vários deputados do PS e do Bloco de Esquerda, bem como um deputado do PCP e diversas figuras ligadas à academia. O manifesto subscreve mesmo a declaração feita há quatro anos em que o Presidente da República se mostrava a favor da eliminação progressiva das propinas.
Confrontado com este mesmo manifesto divulgado no Dia do Estudante, Marcelo, a partir da República Dominicana e citado pela Lusa, mostrou ter mudado de posição. Em declarações aos jornalistas, num hotel de Santo Domingo, o chefe de Estado afirmou que "provavelmente o Governo terá de mexer na acção social, para não estar a mexer nas propinas".
Sinalizando haver "um grupo de professores que quer mexer nas propinas", Marcelo defendeu que "mexer nas propinas pode ter o problema das instituições que têm aí uma receita própria e ficam de repente sem a receita". "Acho que deve ser o Estado a reforçar a acção social e a criar condições de maior justiça nessa acção social", declarou agora o Presidente da República.
Em Dezembro, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sustentou que em Portugal deveria ser adoptado um sistema de propinas por escalões em que o valor pago pelos estudantes do ensino superior fosse definido com base em critérios socioeconómicos.
No manifesto divulgado esta sexta-feira defende-se que a ideia preconizada pela OCDE resultaria em Portugal "abdicar definitivamente do ensino superior como serviço público universal e tendencialmente gratuito, tal como previsto na Constituição da República Portuguesa". com Lusa