Em prova: Há uma outra ambição que alastra pelos Vinhos Verdes
A ambição de colocar os Vinhos Verdes num patamar mais elevado vai-se consolidando por toda a região. Afirmam-se os vinhos sérios, complexos e estruturados - nos brancos, mas também nos tintos.
Diferentes castas, diferentes terroirs e diferentes interpretações. Há um perfil bem diferente de Vinhos Verdes que está paulatinamente a ganhar peso junto dos consumidores. E isso nota-se também nas cartas dos melhores restaurantes. Vinhos que se afirmam pela secura, pela complexidade e pela elegância, mas mantendo sempre a frescura e vivacidade que é a marca de identidade da região.
De uma forma geral, o salto qualitativo é evidente em todos os tipos de vinhos, seja nos de cunho tradicional ou na moderna tendência de um estilo seco, com mais estrutura e graduação, e com outro posicionamento em termos de preço e qualidade. Os últimos dados indicam que são já perto de um quarto do total os vinhos de qualidade na certificação dos Vinhos Verdes.
Vinhos que reflectem as diferentes condições de solo, clima e temperatura das várias sub-regiões, diferenciando-se também pelas castas. Não só os de alvarinho, que destacam as amplitudes térmicas de perfil continental que resultam das condições específicas da influência do rio Minho nos territórios interiores de Monção e Melgaço, mas também a influência atlântica que marca o perfil da casta loureiro, não só no vale do Lima, mas também nas bacias dos rios Cávado e Ave. Também da casta avesso se mostram agora em nível de excelência os vinhos de Baião, aqui já no vale do Douro.
Intensidade fresca
Transversal a toda a região é a intensidade fresca dos vinhos. Característica marcante da região, que resulta de uma natureza generosa, com fortes índices de pluviosidade e uma vasta rede fluvial.
A par da enologia, também a viticultura registou enorme evolução nas últimas décadas, proporcionando outra qualidade e diferentes condições para a exploração de outros tipos de vinhos, das condições de cada parcela, independentemente de se tratar de varietais ou de vinhos de parcela.
Uma mudança que não é exclusiva dos brancos, se bem que no caso dos tintos os ventos soprem ainda de forma muito amena. Mas é, no entanto, um movimento que vai fazendo o seu caminho. A par do domínio da casta vinhão – intensa e taninosa por natureza, mas da qual vão já surgindo vinhos mais polidos e atraentes –, o mercado ganha apetência também pelos vinhos que em séculos passados fizeram que o Alto Minho fosse a primeira região exportadora.
Tintos como alvarelhão, borraçal, cainho ou pedral, que dão vinhos mais abertos, dóceis e elegantes, mas de uma frescura e complexidade que naqueles tempos só tinham paralelo com os da Borgonha. E se nos lembrarmos que até à década de 1990 os brancos eram quase residuais na produção da região, não será difícil augurar caminho para o renascer desse estilo de tintos.
Este artigo foi publicado no n.º 8 da revista Singular.