Stoltenberg avisa que é preciso gastar mais em defesa porque “o mundo está mais perigoso”

Secretário-geral da NATO vai pedir aos aliados para subir a fasquia dos 2% do PIB em despesas militares. Mas só sete dos 30 países estão a cumprir a meta definida em 2014.

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Jens Stoltenberg diz que as contribuições continuam ainda demasiado baixas e que é preciso "fazer mais e mais depressa" JOHANNA GERON/Reuters

Apesar de todos os Estados-membros da NATO terem aumentado a sua despesa militar na última década, até agora só sete dos 30 aliados atingiram a meta fixada na cimeira de Gales, no rescaldo da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, de dedicar 2% do Produto Interno Bruto à defesa.

“Não há dúvida de que temos de fazer mais e mais depressa. Este ritmo não é suficiente”, criticou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, numa conferência de apresentação do Relatório Anual de 2022, nesta terça-feira, no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

O documento resume as principais actividades da aliança ao longo de 2022, “um ano fulcral para a segurança da Europa, após a invasão e a guerra ilegal de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, lembrou o líder da NATO.

Stoltenberg repetiu que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um “erro estratégico” quando decidiu invadir o país vizinho, “esperando a queda de Kiev em poucos dias e a capitulação da Ucrânia em questão de semanas”.

A prova do “falhanço”, segundo o secretário-geral da aliança atlântica, é que em vez de “quebrar” os aliados, Putin acabou por revigorar a aliança, a sua unidade e importância. “Queria menos NATO, e obteve mais NATO, uma vez que na sequência da guerra a Suécia e a Finlândia decidiram juntar-se à NATO, duplicando a extensão da sua fronteira com a Rússia”, observou.

Além de rever as mudanças na postura do aparelho de dissuasão e defesa operadas pela aliança após a invasão da Ucrânia — com a duplicação dos grupos de combate, o aumento das forças em prontidão e o reforço do equipamento pré-posicionado —, o Relatório Anual da NATO para 2022 identifica os compromissos financeiros de cada um dos países aliados, que de forma geral ainda estão longe da meta dos 2% do PIB que foi estabelecida no País de Gales.

“Os números mostram que temos sete aliados que estão a gastar 2% ou mais com a defesa. E temos vários aliados que, apesar de ainda não estarem nos 2%, só estão ligeiramente abaixo”, nalguns casos por causa do crescimento acima do previsto das respectivas economias, sinalizou Stoltenberg.

Essa é a situação, por exemplo, da Alemanha, onde “o aumento da despesa militar faz uma grande diferença, por causa do volume da economia e das Forças Armadas”, apontou Stoltenberg. Apesar da Zeitenwende anunciada pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, o país ainda está longe da meta dos 2%, com a despesa militar a corresponder a 1,49% do PIB. No caso de Portugal, e de acordo com o relatório da NATO, o valor ainda é mais baixo: 1,38% do PIB. A expectativa do Governo é atingir 1,98% no próximo ano.

Todos os Estados-membros da NATO prometeram aumentar o seu investimento na defesa depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em Fevereiro, mas “estas promessas demoram a concretizar-se em novos contratos e equipamentos”. A mensagem de Stoltenberg, nesta terça-feira, não podia ser mais clara. “Os aliados têm de acelerar ainda mais, porque o ambiente de segurança mudou. O mundo ficou mais perigoso”, disse.

Por isso, na cimeira da NATO, marcada para o próximo mês de Julho, em Vilnius, Jens Stoltenberg vai propor que os aliados considerem uma nova meta para a sua despesa em defesa, acima daquela que definiram no País de Gales. O secretário-geral não quis adiantar nenhum valor, mas voltou a dizer que a ideia é que os 2% do PIB passem a ser a referência mínima que todos os aliados terão de cumprir.

Estimando que, nessa altura, a adesão da Finlândia e da Suécia já terá sido ratificada pela Hungria e a Turquia, Stoltenberg disse que “serão os 32 aliados que vão ter de decidir, em Vilnius, qual será a fasquia do novo compromisso financeiro”. Mas antecipou que lhes vai “pedir uma meta mais ambiciosa do que em 2014”.

“Antes de 2014, os aliados estavam a diminuir as suas despesas militares, e desde então essa tendência inverteu e tivemos oito anos consecutivos de aumento, com mais 350 mil milhões de euros para a defesa. Temos de continuar, e construir sobre o progresso que fizemos”, afirmou.

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