Marcelo defende maior representação de jovens e imigrantes no poder político

Presidente da República lamenta que o voto dos portugueses tenha quase sempre privilegiado soluções “estatistas” no poder.

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Marcelo Rebelo de Sousa encerrou a conferência "Querer e crescer: acelerar o crescimento e Portugal" no campus de Carcavelos da Universidade Nova de Lisboa. LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O Presidente da República defendeu hoje que é fundamental renovar os sistemas políticos com a participação de jovens e que os imigrantes em Portugal deveriam também estar mais representados nos órgãos de poder político.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no campus de Carcavelos da Universidade Nova de Lisboa, no encerramento da conferência Querer e crescer: acelerar o crescimento e Portugal, iniciativa da associação Business Roundtable Portugal (BRP).

No seu discurso, o Presidente da República referiu, em tom crítico, que "os representantes dos migrantes em Portugal, que são 700 mil, não têm representação em praticamente nenhuma esfera significativa do poder". "Não existem, são clandestinos, mesmo quando têm dupla nacionalidade", disse.

Segundo o chefe de Estado, a sub-representação dos imigrantes "é uma questão mental" que Portugal tem de ultrapassar, assim como a da participação política dos jovens.

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que os jovens trazem "ideias de mais sociedade civil, de mais abertura, mais abertura internacional, mais abertura de ideias, mais abertura em termos económicos, sociais, culturais e políticos", e contestou que se questione a sua capacidade para assumir cargos de responsabilidades.

"Os sistemas políticos fizeram-se com jovens. Todas as grandes vitórias da História de Portugal foram feitas com jovens, não com velhinhos. A democracia foi feita por quem tinha vinte, no máximo trinta anos", apontou.

Na sua intervenção, o chefe de Estado elogiou a associação Business Roundtable Portugal (BRP) - da qual fazem parte grandes empresas e grupos económicos como EDP, Sonae, Altice, Visabeira, Amorim, Galp e Mota-Engil - e considerou que em Portugal, por motivos históricos, a sociedade civil "é muito fraca" e predomina o "estatismo" na política.

"A esquerda liberal foi sempre a esquerda pobre na esquerda, a direita liberal [foi] a direita pobre na direita. A direita importante era bonapartista ou conservadora. A esquerda forte era a estatista - era é favor, era e é", sustentou. Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que, "ainda há seis anos, um tema de debate era o papel do ensino privado e cooperativo, e que decisão tomar quanto aos contratos de associação - foi o tema dos anos 2016 a 2018, não foi na pré-História".

E, recuando a 2019, realçou a dificuldade de "negociar a Lei de Bases da Saúde, ainda por cima por telefone, com os partidos de apoio do Governo, para se encontrar uma fórmula" que considerasse "aceitável" e que "não fechasse totalmente a porta ao papel do privado em certos domínios da saúde".

De acordo com o Presidente da República, dos "actos eleitorais com incidência governativa nos últimos 18 anos, a maioria esmagadora foi ganha com o voto em opções estatistas".

Marcelo Rebelo de Sousa destacou a governação recente do PS com apoio de PCP e Bloco de Esquerda, apelidada de "geringonça", sobre a qual disse que "em termos doutrinários beneficiava do apoio do que havia de mais estatista desde o início da democracia, desde o tempo do fim da revolução".

"Foi assim porque, em democracia, o voto dos portugueses ou quis ou aceitou ou acabou por permitir ou depois aderiu. E isto significa que mudar esta cultura cívica implica de facto uma grande persistência", concluiu.

Em relação aos imigrantes, já na quinta-feira passada o Presidente da República tinha assinalado a sua falta de representação política em Portugal, na inauguração de uma exposição sobre Amílcar Cabral, ocasião em que criticou os partidos à direita no Parlamento por se terem oposto a que o Presidente do Brasil, Lula da Silva, discursasse na sessão solene do 25 de Abril.

O chefe de Estado questionou como é que há "milhares e milhares e milhares de pessoas de carne e osso que não têm uma presença, mesmo quando têm mais do que uma nacionalidade, uma presença em órgãos de soberania, uma presença em múltiplos órgãos do poder local ou do poder regional, nas estruturas sociais e económicas mais diferenciadas".

"Já nem digo qualitativamente, mas quantitativamente proporcional à expressão que têm na realidade portuguesa. Criam riqueza todos os dias em Portugal, sofrem na criação dessa riqueza desigualdades em muitos casos notórias e acentuadas. Como não ter uma voz activa nas estruturas do poder passados 50 anos sobre o 25 de Abril?", interrogou.

O Presidente da República considerou então que "há qualquer coisa de cultura cívica que merece ser aprofundada" em Portugal, mensagem que hoje retomou e reforçou.