Centenas de professores em protesto junto à Ponte 25 de Abril

Professores e funcionários das escolas protestaram em marcha lenta, mas o trânsito na Ponte 25 de Abril, em Lisboa, não sofreu grandes constrangimentos. Cerca de 500 professores na Ponte do Pragal.

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Professores protestam esta segunda-feira em marcha lenta junto à Ponte 25 de Abril Maria Abranches
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Professores protestam esta segunda-feira em marcha lenta junto à Ponte 25 de Abril Maria Abranches
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Professores protestam esta segunda-feira em marcha lenta junto à Ponte 25 de Abril Maria Abranches
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Professores protestam esta segunda-feira em marcha lenta junto à Ponte 25 de Abril Maria Abranches
Carro
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Professores protestam esta segunda-feira em marcha lenta junto à Ponte 25 de Abril Maria Abranches
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
Carro compacto
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos
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Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, algumas centenas de professores protestam Nuno Ferreira Santos

O velocímetro no painel de instrumentos do automóvel indica que circulamos a cerca de 50 quilómetros por hora. "Não sei se não estarei a andar depressa demais", diz Gustavo Bastos, professor de Biologia e Geologia na Escola Secundária Sebastião da Gama, em Setúbal, e um dos organizadores da marcha lenta de professores e funcionários das escolas, que decorreu esta segunda-feira em Lisboa e noutras cidades do país, que replicaram o protesto. Ao passar no ponto de encontro, na Ponte do Pragal, em Almada, — mesmo antes de se entrar para a 25 de Abril — cerca de 500 pessoas, segundo fonte policial, aguardavam a comitiva vinda de Setúbal, que não criou tantos constrangimentos ao trânsito automóvel quanto era esperado, além dos já habituais em hora de ponta.

Do carro de Gustavo Bastos, que vai na frente da marcha de professores e funcionários, são dadas as instruções aos colegas que seguem atrás e aos que aguardam na Ponte do Pragal. Atrás, vindos de Setúbal, seguem mais de 30 automóveis com profissionais da educação, de acordo com o organizador. Entre buzinadelas vão-se cumprimentando enquanto passam.

Circulam munidos de cravos vermelhos, bandeiras de Portugal, apitos e buzinas, além das dos carros. "Estamos a oito minutos, vamos passar aí mesmo à horinha", diz Gustavo Bastos para o outro lado da linha telefónica.

Olha para o relógio para confirmar as horas. Três minutos. A hora marcada para a paralisação, “6h23 PM”, é simbólica porque representa os seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de serviço trabalhado que os professores viram congelado.

Concentrados na Ponte do Pragal e nas laterais pedonais, os cerca de 500 professores e funcionários reagem à medida que a comitiva vinda de Setúbal passa em direcção à Ponte 25 de Abril. Gritam, usam os apitos, batem palmas.

A iniciativa foi organizada por um grupo independente de 13 professores da Grande Lisboa. "Missão Escola Pública é um movimento de professores completamente apartidário, que luta pelos seus direitos e pela defesa da Escola Pública, sob a égide 'A Escola constrói pontes! Ajudem-nos a desbravar caminhos!', cientes de que só em união com toda a sociedade poderão lutar pelo valor inestimável que é a Educação", informou a organização numa nota enviada à comunicação social na quarta-feira, aquando do anúncio do protesto.

"Quisemos organizar algo que fosse visível e a Ponte 25 de Abril tem uma simbologia. A escola pública foi uma das grandes conquistas do 25 de Abril", defende Gustavo Bastos.

Depois de a comitiva setubalense passar pelo ponto de encontro, os carros e motas seguiram pela Ponte 25 de Abril em direcção a Lisboa, para regressarem novamente à margem Sul do Tejo. Os manifestantes confluíram então rumo à estátua do Cristo Rei, em Almada. "Trazer a manifestação a Lisboa também", dizia Gustavo Bastos antes de fazer o percurso novamente, enquanto a buzina do carro soava — até perder o som uma vez avariada — e dava sinal a mais colegas que aguardavam junto ao Banco Alimentar, na Avenida de Ceuta, para se juntarem.

"Estou esgotada"

Sandra Gaspar, que se manifesta na Ponte do Pragal, não sabe mais o que fazer. "Estou esgotada." É professora do primeiro ciclo há 23 anos, actualmente na Escola Básica do Vale da Amoreira, na margem Sul, onde tem de ser "tudo" para os alunos. "Ali somos mãe, pai, psicólogos. Aqueles alunos têm realidades que não passam pela cabeça de ninguém."

É por se sentir assim, por querer fazer mais pelos alunos e sentir que não consegue, que se juntou ao protesto, que foi convocado por um grupo de 13 professores da Grande Lisboa e que na tarde desta segunda-feira reuniu cerca de 500 professores.

"A escola está na rua. Governo, a culpa é tua!" Ouvem-se gritos de ordem, apitos e buzinas. Os condutores — até de autocarros da Carris Metropolitana — mostram-se solidários com o protesto. Há cartazes com reivindicações antigas, como a contagem integral do tempo de serviço e a revisão na progressão da carreira.

Sandra, como outros professores que o PÚBLICO ouviu, vê-se assoberbada em burocracia que lhe retira tempo para se dedicar "à parte pedagógica".

"São relatórios e mais relatórios que nos pedem. Esta parte burocrática esgota. É tempo de qualidade que perco com a minha família, com a minha filha", diz esta professora de Viseu que há duas décadas decidiu mudar-se para a região de Lisboa em buscar de melhores oportunidades de trabalho.

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Protesto confluiu em direcção à Ponte do Pragal, em Almada, antes da 25 de Abril Maria Abranches

Por aqui ficou. Agora está efectiva, mas com 23 anos de profissão lamenta estar ainda no terceiro escalão com um salário líquido de 1300 euros. "Tenho colegas mais novos que já me passaram à frente. Eu nunca vou conseguir chegar ao décimo escalão. Digo isto aos meus alunos: eu vou morrer a dar aulas."

Não baixará os braços, diz. "Mas estou cansada. E isso afecta a qualidade do meu trabalho."

Carmo Moreira segura um cravo vermelho. É professora de Ciências há 33 anos. Faz o que gosta, mas admite que lhe custa ver “direitos adquiridos” como o ensino público para todos a degradarem-se. “Nós estamos a lutar pela escola pública. É pelos alunos que não nasceram em berço de ouro que estamos a lutar”, diz a professora de 58 anos do Agrupamento de Escolas Braamcamp Freire, na Pontinha.

Mas estar ali, naquele protesto, é não só uma luta pelos direitos, “pelo reconhecimento e valorização” de professores, mas também dos funcionários que fazem a escola pública. “Durante a pandemia, foram levar comida a casa de alunos. A escola pública é isto.”

Olhando para os rostos de professores, percebe-se que faltam jovens. Carmo Moreira apressa-se a dar uma justificação. “Os jovens hoje fazem as contas e percebem que não vale a pena ser professor.”

Sandra Gaspar diz que se hoje adoecesse não teria ninguém para a substituir. João Ventura, professor na Escola Básica de Vila Nova de Caparica, de 48 anos, concorda com o diagnóstico e dá o exemplo do filho que anda no décimo ano e que não tem professora de Português há vários meses.

Para estes professores um protesto junto a um local tão simbólico como a Ponte 25 de Abril é “a única forma” de serem ouvidos. “De outra forma não conseguimos”, diz João Ventura, professor do primeiro ciclo há 23 anos. Passou para o quarto escalão em Dezembro passado e, se tudo se mantiver como está, não há-de chegar ao topo da carreira de professor. “Sou dos que foi particularmente afectado pelo congelamento das carreiras. E já fui ultrapassado por colegas mais novos”, nota o professor, que, ressalva, não está “contra os colegas mais novos”. “Estou contra este sistema.”

Chegados ao Cristo Rei, os organizadores juntaram-se para discursar a par de alguns convidados: os professores e académicos Raquel Varela, Ricardo Silva, Alberto Veronesi e António Carlos Cortez.

O protesto desta segunda-feira foi inicialmente convocado para Lisboa, onde a organização esperava entre 500 e mil pessoas concentradas na Ponte do Pragal e nos acessos pedonais laterais da Ponte 25 de Abril. Grupos de professores de outras cidades como Viana do Castelo, Ílhavo, Mirandela, Santarém e Portimão também replicaram o protesto à mesma hora.

“Não se pode ser professor com qualidade” com nove turmas

“Tenho nove turmas a meu cargo. Não se pode ser professor com qualidade com isto”. Licínio Sequeira é professor há 24 anos, na Escola Carteado Mena, e foi um dos cerca de 100 que se juntou, às 18h23 desta segunda-feira, ao movimento cívico de protesto dos docentes em Viana do Castelo.

A reivindicação de Licínio pela melhoria das condições de trabalho somou-se a outras já conhecidas: a revogação do novo modelo de recrutamento de professores, das quotas e as vagas no acesso aos diferentes escalões, ou o descongelamento do tempo serviço.

Ao entardecer, à hora que representa os seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de serviço trabalhado que os professores viram congelado, o tabuleiro rodoviário superior da Ponte Eiffel de quase 700 metros, que liga o centro de Viana do Castelo à vila de Darque, foi palco de um buzinão ininterrupto e ensurdecedor.

Na marcha lenta, folhas de papel com a inscrição "6:6:23" e "Queremos Respeito", ou bandeiras nacionais a esvoaçar pelas janelas dos automóveis, dominaram o protesto, que obrigou à mobilização da PSP em duas rotundas.

Antes da marcha, Licínio Sequeira, dizia ao PÚBLICO que “nem era para aderir ao protesto”, porque a actual fase do ano lectivo é “crucial ao nível das avaliações”. Mas aderiu para manifestar a ideia de que “a escola anda triste há muitos anos”. “Estas queixas aplicam-se a professores, funcionários e psicólogos. Ganhamos mal para o que fazemos. São as carreiras, a progressão, os congelamentos, as quotas…”

O docente associou-se a um protesto que reuniu não só professores de Viana do Castelo, mas também de outros concelhos do distrito, como Valença, Ponte de Lima ou Arcos Valdevez, garantiu o organizador da marcha, Paulo Cunha.

O movimento surgiu de modo espontâneo, nas redes sociais, entre docentes de vários agrupamentos de cidades do distrito, e é revelador, segundo Paulo Cunha, de que “as pessoas estão efectivamente revoltadas”.

Isolada de um protesto sindical, a marcha “é um grito de revolta”. “Uma coisa é uma coisa é uma máquina sindical propor ou organizar um determinado movimento, aqui é espontâneo. Isto mostra que a educação está a sangrar, e é preciso estancar esta hemorragia!”.

Entre as principais queixas, o docente aponta ao recente modelo de recrutamento de professores, aprovado na passada quinta-feira em Conselho de Ministros “às escondidas, num momento em que se estava a aprovar o pacote da habitação”, numa medida que “não prestou cavaco a nenhum professor ou sindicato”.

“O ministro disse que esse regime vai estabilizar os professores, mas se me mandassem para o Algarve ficava estabilizado a 700 quilómetros de casa. Isto cria problemas sociais gravíssimos: de divórcios aos idosos que vão ficar sem cuidadores”, adiantou Luís Braga, docente há 28 anos e subdirector do agrupamento de Escolas da Abelheira, também presente no protesto.

A principal reivindicação, porém, continua a ser o tempo de serviço. “Foi-nos foi roubado. Os professores fizeram descontos para a Segurança Social, descontaram IRS, como qualquer trabalhador, mas esse tempo não está a ser contabilizado nem para efeitos de reforma, nem para efeitos de progressão na carreira. Estamos a ser duplamente roubados”, assinala Paulo Cunha, para quem a insegurança nas escolas, o excesso de burocracia ou do modelo avaliativo aos alunos são outros problemas para os quais o Governo deve encontrar respostas. “Gostávamos que o Governo atendesse aos nossos protestos, mas infelizmente há muita relutância. E a razão é muito simples: este ministro não tem uma atitude séria e transparente”.

Já Luís Braga, que está no quarto escalão quando “devia estar no oitavo”, entende que “os protestos vão continuar enquanto os problemas não forem resolvidos”, e alerta que o Governo “não está a perceber” que a mobilização docente “tem uma dimensão social muito vasta”. “O Governo está a lidar com isto como lidava há 30 anos, como se tratasse de um protesto localizado. Mas isto é um movimento social, muito profundo, que vem das entranhas das escolas. É um sinal de que a classe docente está a acordar para o seu papel de promotor da democracia da sociedade. É auto-organizado, não é organizado por cúpulas, nem nada que se pareça.”

Mais de cem professores protestaram em Portimão

Mais a Sul, em Portimão, os professores do Algarve concentraram-se em frente à Câmara de Portimão. “Esta câmara está afastada dos professores”, disse Luís Filipe, professor de História, que já foi deputado municipal durante dois mandatos, pelo PS. A concentração reuniu mais de uma centena docentes, vindos de Albufeira e Lagos.

Os bombos e os apitos marcaram o protesto e durante mais de uma hora, na praça frente à autarquia. A autarca Isilda Gomes (PS) “costuma fazer questão de afirmar que foi professora do ensino público, no entanto ainda não recebeu os docentes”, criticou Luís Filipe. As palavras de ordem, que mais se fizeram ouvir foram: “não paramos, não paramos” e a “escola está na rua, ministro, a culpa é tua”.

A manifestação tinha um objectivo: entupir a Estrada Nacional (EN) 125), e a meta foi alcançada. A via marginal do Algarve, habitualmente com tráfego intenso, ficou esta segunda-feira ainda mais caótica. A cidade de Portimão é a localidade algarvia onde a luta dos professores mais se tem feito sentir desde o final do ano passado. As manifestações sucedem-se todas as semanadas, e os protestos já entraram no quotidiano. “Acho que se as nossas propostas forem explicadas, a opinião pública percebe a nossa luta”, disse Luís Filipe, professor há 39 anos, no agrupamento de escolas poeta António Aleixo, em Portimão. com Pedro Manuel Magalhães e Idálio Revez

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