Os direitos das mulheres ameaçam os homens? A maioria dos jovens millennials e da geração Z acredita que sim, que se está a discriminar contra os homens, de acordo com as respostas que deram a um estudo da Ipsos UK e do Global Institute for Women's Leadership no King's College de Londres, no Reino Unido.
A investigação contou com mais de 22 mil participantes de 32 países com idades entre os 18 e os 74 anos.
Os millennials são mesmo a geração que mais respondeu que a igualdade de género está a prejudicar os homens: 53% disse acreditar nessa afirmação, a percentagem mais elevada de todas as gerações. Os jovens da geração Z surgem logo atrás e 52% dizem acreditar nessa afirmação. Por contraste, 40% dos baby boomers disse concordar e 46% dos Gen X.
O cenário foi semelhante na resposta à pergunta "No que toca a igualdade de género, as coisas foram suficientemente longe no meu país": 57% dos millennials disse que sim, assim como 55% dos participantes da geração Z. Apenas 47% dos baby boomers respondeu da mesma maneira e 53% dos Gen X.
A maioria dos que responderam desta forma a estas perguntas foram homens: 58% e 55% respectivamente.
O estudo nota que “mais pessoas pensam que, no que toca à igualdade de direitos, as coisas foram longe demais no meu país” do que em relação ao período antes da pandemia. Passou de 42% em 2019 para 49% em 2023.
A pesquisa revela que os mais novos nem sempre têm as visões mais progressistas em relação à igualdade de género e que menos de metade dos participantes da geração Z afirmou ser feminista. O mesmo aconteceu com os millennials. A mudança de opinião pública é apontada como um dos factores que levam os jovens a terem uma opinião menos positiva sobre este tema. O medo de represálias leva a um receio de promover os direitos das mulheres.
Os participantes foram ainda questionados sobre se a masculinidade de um homem é posta em causa quando fica em casa a cuidar dos filhos. De um modo geral, 70% não acha que quem o faça seja menos homem.
O estudo salienta alguns pontos positivos: “Comparado com os anos anteriores à pandemia de covid-19, as pessoas mostram um optimismo crescente de que a igualdade de géneros vai ser alcançada durante a sua vida” e “metade das pessoas pensam que a vida é melhor agora para as mulheres jovens do que foi para as gerações anteriores”. Uma “proporção maior (cerca de quatro em dez) descrevem-se como feministas”.
E em Portugal?
Portugal foi o país em que mais pessoas mostraram ser contra a ideia de que a luta pelos direitos das mulher foi longe demais: 77% responderam que não foi. O cenário foi o mesmo na pergunta sobre se os direitos das mulheres estavam a discriminar os homens, com Portugal a surgir no fim da lista e 71% a dizer que não.
Além disto, os participantes de Portugal defendem que é impossível existir paridade entre géneros a não ser que os homens também apoiem os direitos das mulheres — 73% responderam dessa forma.
O estudo destaca ainda que 48% das mulheres portuguesas responderam afirmativamente quando questionadas se tinham medo de falar sobre igualdade de género e lutar pelos seus direitos.
Contudo, os portugueses são dos mais optimistas em relação ao futuro: mais de 70% acreditam que as jovens de hoje vão ter uma vida melhor do que as de gerações anteriores. É o país onde mais se acredita nesta afirmação. Os participantes de França, Coreia do Sul, Hungria, Bélgica e Japão defendem que aconteceu o contrário nos seus países.
Também é o país onde mais pessoas disseram ter respondido a comentários sexistas de familiares (36%) e que falaram de igualdade de género no trabalho (37%).
Surpreendentemente, os países onde mais pessoas se definiram como feministas são países que não são conhecidos por apoiarem os direitos das mulheres. A Índia, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (63%) são os países onde mais pessoas disseram ser feministas. Em contrapartida, a ideia é rejeitada por mais de metade (59%) dos participantes do Japão.