Beatriz Batarda na fábrica de matar proletários: anatomia de um massacre
Actualização dramática do retrato da emigração portuguesa, Great Yarmouth: Provisional Figures, de Marco Martins, é o altar de uma esmagadora personagem onde se sacrifica uma esmagadora actriz.
“Um retrato brutal da imigração portuguesa em Inglaterra”. O statement cai em cima do trailer do novo filme de Marco Martins com o peso de uma condenação à morte. Mas Great Yarmouth: Provisional Figures, desdobramento da peça de teatro praticamente homónima que o cineasta e encenador estreou em 2018 – após o embate com o proletariado nacional deslocalizado e “zombieficado” que encontrou a gravitar em torno de uma fábrica de perus da costa leste inglesa –, está muito para lá do documento que o slogan promocional promete. Filtradas e distorcidas pela gramática do cinema de terror que lhe pareceu pertinente para dar conta da saga destes mortos-vivos do capitalismo global, as marcas do realismo social britânico que constituem o referente cinéfilo e moral deste filme são já outra coisa: o muito pouco que sobra do fôlego apoteótico de um herói como David Copperfield, que em 1850 Charles Dickens colocou nesta mesma Great Yarmouth, quando a cidade ainda era “the finest place in the universe”.
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