AUKUS: Austrália vai ter os seus primeiros submarinos nucleares a partir de 2030

Camberra vai comprar pelo menos três submarinos americanos antes de receber uma nova frota, de fabrico britânico, no início da década de 2040. É o maior investimento militar da história da Austrália.

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Albanese, Biden e Sunak reuniram-se em San Diego, na Califórnia EPA/ETIENNE LAURENT

Reunidos na segunda-feira numa base naval de San Diego, no estado norte-americano da Califórnia, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os primeiros-ministros do Reino Unido e da Austrália, Rishi Sunak e Anthony Albanese, revelaram finalmente os seus planos para fornecer submarinos movidos a energia nuclear à Marinha australiana.

A partilha da tecnologia americana de propulsão nuclear foi definida como o principal objectivo da criação do AUKUS, em 2021, uma parceria de segurança trilateral para o Indo-Pacífico, que é, no entanto, vista como uma ferramenta de contenção da República Popular da China na sua vizinhança alargada.

Segundo o calendário definido pelos três aliados, e depois de uma série de deslocações previstas de submarinos americanos e britânicos aos portos australianos a partir de 2027 – para sessões de formação, entre outros objectivos militares e logísticos –, a Austrália vai comprar três submarinos nucleares Virginia aos EUA, em 2030, com a possibilidade de adquirir mais dois no futuro.

Depois, uma iniciativa conjunta dos três países vai permitir a produção de uma nova geração de submarinos. Terão fabrico britânico (BAE Systems e Rolls-Royce), com tecnologia americana e financiamento essencialmente australiano. A entrega dos primeiros submarinos SSN-AUKUS está prevista para o início dos anos 2040.

Em comparação com os submarinos tradicionais, movidos a diesel ou a energia eléctrica, os submarinos nucleares são mais rápidos, mais silenciosos e têm uma durabilidade bastante superior. Permitem a cobertura de uma área marítima mais vasta e mais distante do território de onde foram lançados e têm uma maior capacidade de transporte de armamento, nomeadamente de mísseis.

O programa vai custar 368 mil milhões de dólares australianos a Camberra até 2055 (cerca de 230 mil milhões de euros) e fará da Austrália o sétimo país do mundo a possuir submarinos nucleares – EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e Índia já têm veículos com esta tecnologia nas suas frotas de guerra.

“O acordo do AUKUS, que ratificamos aqui, em San Diego, representa o maior investimento único na capacidade de defesa da Austrália em toda a sua história, reforçando a sua segurança nacional e a estabilidade na nossa região”, afirmou Albanese durante a cerimónia de apresentação dos planos do AUKUS.

Apesar dos custos sem precedentes, o primeiro-ministro australiano disse, porém, que se trata de “um plano económico, e não apenas de um plano de defesa e segurança”, acrescentando que vai criar 20 mil novos postos de trabalhos durante os próximos 30 anos.

O anfitrião, Joe Biden, congratulou-se com os novos passos que estão a ser dados pela iniciativa conjunta, dizendo que a aliança vai poder continuar a garantir a liberdade de navegação e de sobrevoo do Indo-Pacífico.

“Ao forjarmos esta nova parceria, estamos a demonstrar, mais uma vez, como as democracias são capazes de fornecer segurança e prosperidade. Não só para elas, mas para o mundo inteiro”, disse o Presidente dos EUA.

Na mesma linha, o primeiro-ministro britânico sublinhou o facto de “pela primeira vez” poder haver “três frotas de submarinos a trabalhar em conjunto ao longo do Atlântico e do Pacífico”, para “manter os nossos oceanos livres” para as “próximas décadas”.

O anúncio dos aliados do AUKUS foi elogiado pelos Governos do Japão e de Taiwan, entre outros aliados do Ocidente na região, mas foi criticado pela China e pela Rússia.

“O último comunicado conjunto dos EUA, Reino Unido e Austrália demonstra como os três países, por causa dos seus próprios interesses geopolíticos, desconsideraram as preocupações das comunidades internacionais e estão a avançar ainda mais por um caminho de erros e de perigo”, criticou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, nesta terça-feira.

“[Os planos] constituem graves riscos de proliferação nuclear, põem em causa o sistema internacional de não-proliferação, alimentam corridas às armas e ameaçam a paz e a estabilidade”, reagiu ainda missão permanente chinesa nas Nações Unidas, através do Twitter.

Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, também apontou a risco da proliferação nuclear como relevante e pediu “especial transparência” a todas as partes envolvidas.

Antevendo estas críticas, na sua intervenção em San Diego, Biden fez questão de esclarecer que a energia nuclear será apenas utilizada como tecnologia de transporte e não para armamento: “Os navios não vão ter armas nucleares de nenhum tipo.”

Horas antes do encontro entre Biden, Sunak e Albanese nos EUA, o Governo do Reino Unido anunciou uma revisão da sua política externa e de defesa, na qual rotula a China como um “desafio sistémico e definidor de uma era, com implicações em quase todas as áreas da política do Governo e no dia-a-dia da população britânica”.

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